Toda vez que o Super Bowl se aproxima, essa questão volta a ser debatida nos Estados Unidos. Por um lado, a NFL e algumas entidades apresentam números impressionantes e convincentes sobre os benefícios econômicos. Por outro, estudos acadêmicos sugerem que os impactos do jogo na cidade-sede podem não ser tão significativos quanto os números divulgados.
Sem dúvida, o Super Bowl é o maior evento esportivo dos Estados Unidos. Em 2024, mais de 123 milhões de pessoas assistiram ao jogo pela TV apenas nos EUA, e para 2025 a expectativa é de que mais de 120 milhões tenham acompanhado a partida entre Kansas City Chiefs e Philadelphia Eagles, realizada neste domingo (9). Um dado impressionante é o impacto econômico do evento em Las Vegas na edição de 2024. Segundo a Câmara de Comércio dos Estados Unidos, a estimativa final do impacto econômico local foi de US$ 1 bilhão, impulsionado pelos gastos diretos de visitantes e residentes, além dos efeitos indiretos nas empresas locais, geração de empregos e aumento da receita tributária.
Outro número relevante é o valor pago pelas gigantes de diversos setores para anunciar suas marcas no intervalo do jogo: US$ 8 milhões por 30 segundos. O total arrecadado durante a transmissão atinge impressionantes US$ 650 milhões. Anúncios veiculados antes e depois da partida custam cerca de US$ 4 milhões por 30 segundos.
A edição de 2025, realizada no Caesars Superdome, em Nova Orleans, foi a 11ª vez que a cidade sediou o evento, empatando com Miami como os locais que mais receberam o Super Bowl. Estudos apontam que o impacto econômico do evento em Nova Orleans seja superior a US$ 500 milhões, com a expectativa de que mais de 125 mil turistas tenham viajado à capital da Louisiana no final de semana.
O Sports Management Institute emitiu um comunicado à imprensa destacando o impacto econômico gigantesco do Super Bowl em Nova Orleans. O comunicado também mencionou o aumento vertiginoso dos preços dos quartos de hotéis antes do evento, com tarifas médias de US$ 4.625 por noite em hotéis 4 estrelas e US$ 847 por noite em acomodações mais simples.
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No entanto, o cerne da discussão entre economistas está no destino da maior parte desse dinheiro e quem realmente se beneficia (ou sofre os inconvenientes) dessa movimentação. Críticos apontam que muitos dos proprietários das grandes redes de hotéis não são locais, o que significa que os lucros obtidos durante o final de semana do Super Bowl acabam indo para grandes corporações, e não necessariamente para a cidade-sede. Outro ponto controverso é que a NFL recebe toda a receita gerada com a venda de ingressos, eventos especiais e comercialização de produtos relacionados ao evento.
Um aspecto muitas vezes negligenciado nessa discussão é o impacto intangível da imagem e da visibilidade da cidade-sede no cenário global. Vale lembrar que Nova Orleans foi palco de um ataque terrorista no primeiro dia do ano, na famosa Bourbon Street, que resultou em 14 mortes e deixou outras 35 pessoas feridas. O Super Bowl, realizado poucas semanas após esse trágico acontecimento, pode ter servido como uma ferramenta importante de promoção da cidade, destacando-a como um destino seguro para turistas de todo o mundo, e também para elevar a confiança da população.
Portanto, tanto os números tangíveis quanto os intangíveis demonstram que sediar um grande evento como o Super Bowl tem impactos significativos não apenas na economia e na imagem da cidade, mas também na autoestima dos cidadãos locais.
Romulo Macedo é mestre em Gestão da Experiência do Consumidor e especialista em Gestão Esportiva, com papéis relevantes em diversos eventos esportivos mundiais