Passado o mês do Orgulho LGBTQIAP+, podemos falar: ninguém no futebol brasileiro deu mais visibilidade ao movimento do que o Vasco. O time de São Januário já havia se destacado na causa, em 2021, quando se tornou o primeiro do país a estampar as cores do arco-íris no uniforme oficial. À época, a tradicional faixa transversal da camisa vascaína foi colorida para lembrar a diversidade de orientação sexual. A camisa, que teve versões branca e preta, tornou-se cobiçada até entre torcedores de outros times.
Até no exterior tal ação não é muito comum. Lembro de uma atitude semelhante do Rayo Vallecano, da Espanha, clube pequeno e com forte ligação com questões sociais. Por coincidência, o time de Vallecas também pintou o arco-íris na faixa transversal da camisa para exaltar a diversidade. Cada linha do arco-íris ainda representava alguma luta importante da sociedade.
Para este ano, o Vasco teve a iniciativa de se reunir com suas torcidas organizadas para a produção de um manifesto para lutar contra a homofobia e a transfobia nos estádios.
Em uma demonstração de que o futebol pode ir muito além das quatro linhas, o time resgatou talvez seu momento mais glorioso, a “Resposta Histórica”, quando se recusou a disputar o Campeonato Carioca por não serem permitidas as inscrições de seus jogadores negros e operários. Isso em 1924. O racismo até hoje não foi superado pela sociedade brasileira. Mas o Vasco, pioneiro na luta contra o preconceito há quase 100 anos, faz jus ao seu legado e abraça uma causa do século XXI.
No jogo da sexta-feira passada (24 de junho), contra o Operário-PR, pela Série B do Brasileirão, houve novas referências à causa, com faixas e bandeiras espalhadas pelo Estádio de São Januário e show de fogos de artifício com as cores do arco-íris. A camisa também teve referências sutis ao movimento, com o logotipo da Kappa, fornecedora do uniforme, colorido, e os Ominis, símbolo da empresa, exaltando a diversidade, com a mistura de homem com homem, mulher com mulher e homem com mulher.
No mesmo dia do jogo do Vasco, o ex-jogador Richarlyson revelou ser bissexual, durante podcast do GE. É sintomático que o São Paulo, clube no qual o volante mais brilhou, mostrou apoio apenas discreto em suas redes sociais. Nem usou o termo bissexual ou fez referência ao movimento LGBTQIAP+. Já o Corinthians, cuja torcida costuma fazer manifestações homofóbicas contra os são-paulinos, escreveu uma mensagem mais impactante de apoio.
Ainda é muito pouco. Encerramos mais um mês do Orgulho LGBTQIAP+ em que o Vasco permanece como uma voz quase isolada nesta luta. Outros clubes fizeram menções discretas e protocolares à data na comunicação com a torcida. A maior parte delas restritas a posts isolados nas redes sociais. Nada de campanhas.
No país em que a camisa 24 ainda é um tabu, há um longo caminho a ser percorrido até o fim do arco-íris.
Adalberto Leister Filho é diretor de conteúdo da Máquina do Esporte