Fui convidado pela Máquina do Esporte para trazer inspiração para quem quer entender como o mundo de games e esportes podem viver juntos.
Eu acredito muito nessa tese. Bons exemplos não me deixam mentir. Foi isso que tentei trazer em artigos como:
- Em outro campo: o esporte brasileiro começa a entender o mundo dos Games
- Games e Esportes: você está atrasado 40 anos nessa conversa
Outras situações me chamam a atenção.
Há, como em toda a indústria, a tendência de se seguir o movimento dos líderes e dos pioneiros.
Quando a coisa vira quase um padrão de mercado, cria-se o efeito manada.
Se você me conhece ou acompanha meus artigos, sabe que adoro fazer analogias.
E aqui vai a primeira: cuidado com o efeito paleteria.
No começo é uma novidade, depois você encontra uma a cada esquina.
Assim foi com locadora de vídeo, sites de compra coletiva, brigaderia, bolo da vovó, kebaberia, temakeria e por aí vai.
Passado o pico de interesse, poucos sobrevivem.
O território dos e-Sports é competitivo e profissional.
Sim. Atrai público, apoio, audiência e investimento.
Mas pense se você precisa (ou pode) entrar mesmo nos e-Sports:
- Operações competitivas custam caro
- Desenvolver base de fãs toma (bastante) tempo
- Patrocinadores precisam de retorno
- Torcedores querem resultados
Um passado de glórias. Já o presente…
Vejo ainda empresas e instituições esportivas que partem para duas ou três modalidades ao mesmo tempo.
Fui sócio e trabalhei em clubes esportivos.
A lista não é pequena:
- Sociedade Recreativa Bragança (conhecido com Clube Alemão)
- Clube de Campo de Sorocaba
- ACM Sorocaba
- Grajaú Country Clube
- Tijuca Tênis Clube
- Clube de Regatas Tietê
- Clube Esperia (estágio)
- Sociedade Esportiva Palmeiras
- Lago Azul Golfe Clube
Presença em dezenas de modalidades esportivas no passado. Dificuldade ou impossibilidade para mantê-las no presente.
Além do mais, por mais que a ligação do sócio com o clube seja boa, não significa que você viverá todas experiências ali dentro.
Sou palmeirense e filho de italiano.
Definitivamente existem experiências melhores que as de gastronomia e curso de língua italiana do que aquelas oferecidas na sede social do clube em São Paulo.
E está tudo bem. Outras tantas coisas me conectavam àquele pedaço da Rua Palestra Itália.
Meu ponto aqui é: o mundo esportivo (em especial, os clubes) já têm desafios históricos para garantir sua sobrevivência.
Entrar de forma desavisada nesse mercado deixa tudo ainda mais difícil.
Seu torcedor é sempre fiel ao seu time?
Os e-Sports foram mais rápidos em criar sua base de fãs do que as entidades esportivas.
As equipes que surgiram nessa década conquistaram uma geração que começa a se afastar do ritual da audiência do esporte que conhecemos até aqui.
O torcedor do seu clube provavelmente já está engajado e muito bem tratado pelas inúmeras organizações profissionais que existem hoje no Brasil como Loud, Los Grandes, Black Dragon, INTZ, Pain, Vivo Keyd e tantas outras.
E esse povo faz bem feito. Padrão internacional.
“Sassa, a gente quer montar um time”
A primeira coisa que penso quando me falam isso é se o torcedor daquele clube quer que isso aconteça e de que forma.
O fato de você colocar “e-Sports” abaixo do escudo do time não significa que sua jornada nesse mundo deu-se por concluída:
- Você precisará investir em infraestrutura, profissionais, centros de treinamento e equipes de suporte à operação
- Como ser fã de alguém que não conheço?Se a equipe representa uma nação de torcedores que veio do mundo das arquibancadas, vão querer atletas reconhecidos no meio.
- Os patrocinadores querem resultados: torneios de e-Sports no Brasil tem audiência massiva mas o olimpo é para poucos
- Participar de torneios menores, significa menos público, menos audiência, menos resultado financeiro
- Prepare-se para lidar com o torcedor: o tradicional (que vai pedir para o time jogar menos videogame e mais futebol) e do novo torcedor (que vai cobrar o clube em relação aos e-Sports). Taí o Flamengo que não me deixa mentir.
Não posso deixar de compartilhar com vocês o episódio de torcedores suíços arremessando controles de PlayStation em campo para protestar contra o clube.
Outro ponto importante é o de que as marcas começam a ter cada vez mais suporte para investir em propriedades do mundo dos games.
Dizer que vai ter audiência só porque o clube tem torcida, não funciona mais.
Trazer valores que são próximos a de patrocínios do time principal (que tem história, títulos, atletas famosos e cobertura de mídia), menos ainda.
Que tal perguntar para quem vai torcer por você?
Ah, os dados. Sempre eles. Vão te ajudar como nunca a entender que caminho tomar.
Pode ser que você inclusive tenha todas as informações necessárias para, quem sabe, montar seu time de e-Sports.
Lembre-se: os esportes são mais do que bem-vindos no mundo gamer.
O ponto de virada aqui é partir para ação com suporte de informações.
Como manter seu público dentro do clube
Uma das entidades esportivas mais tradicionais de São Paulo identificou que o público mais jovem estava deixando de frequentar o clube, em especial aos finais de semana.
Uma pesquisa identificou que uma forma de trazê-los de volta seria através de torneios de e-Sports para associados, ações com empresas de games e instalações de lan house (em especial para os corujões, partidas que viram a noite)
Palmeiras Game Day
Realizado em duas edições, a iniciativa teve inspiração nos números e interações que estava ocorrendo nas redes sociais do clube.
Em parceria com marcas e parceiros do clube, usou a base do programa Avanti para chamar a atenção do gamer palmeirense.
Foi uma ação de e-Sports? Não. Mas serviu para o clube entender melhor como a torcida se comportava em relação ao tema.
59% dos corintianos jogam videogame
Esse dados foi trazido pela pesquisa realizada pela Sport Track.
Se você somar isso a outros fatores (posse de smartphone entre o público e gamers identificados com o clube), não é à toa que quando lançadas as iniciativas do clube foram referência.
Sabe o Nobru, um dos maiores influenciadores do Brasil? Veio do Corinthians Free Fire.
Se não sabe, é bom saber. Além de tudo o que faz, é um dos donos da fluxo.gg, que tem patrocínio de Banco Next, Casas Bahia, Ifood e TNT.
Acho que você já deve ter visto algumas dessas marcas no futebol, né?
Pense de que forma você pode ajudar a experiência gamer antes de avançar para investimentos mais sérios em e-Sports:
- Crie experiências gamers na sede do clube e em sua arena: retenha seu público, aumente o tíquete médio, traga novos patrocinadores
- Torneios e ações online são uma ótimo forma de você conectar com as embaixadas e grupos de torcedores que estão espalhados pelo Brasil e pelo Mundo
- Inclua versões digitais da sua modalidade como experiência em torneios e campeonatos, assim como fez a CBTM com Ping Pong Fury
- Identifique gamers e streamers que torcem para seu time ou praticam sua modalidade. Convide-os para experiências VIPs e criação de conteúdo
- Pesquise, pergunte, teste, repita. E faça de novo.
Ah… E faça como 1.239 profissionais e assine a The Gaming Newsletter.
Alessandro Sassaroli, que, após seis anos como head da área de gaming do YouTube, se tornou evangelista do universo gamer, auxiliando marcas e pessoas a entenderem e se inserirem no universo dos e-Sports, escreve mensalmente na Máquina do Esporte