Depois de meses de agonia financeira, a Penn Entertainment dará fim a um negócio que aparentava ser promissor, mas que acabou por levá-la praticamente à ruína.
Nesta quinta-feira (6), a empresa chegou a um acordo mútuo com a ESPN para encerrar as atividades da casa de apostas que leva o nome do canal esportivo da Disney e opera no mercado dos Estados Unidos.
Inicialmente, o contrato de licenciamento que resultou na ESPN Bet ficaria em vigor até 2033, mas deixará de valer em 1º de dezembro deste ano, em meio à derrocada da Penn, situação que está diretamente relacionado esse negócio.
O contrato trazia uma cláusula que garantia a qualquer uma das partes o direito de pedir a rescisão de maneira unilateral após o terceiro ano de vigência da parceria, desde que ficasse comprovado que os limites específicos de desempenho das quotas de mercado não estivessem sendo cumpridos.
Na prática, Penn e ESPN optaram por dar fim ao sofrimento, passados dois anos e três meses da assinatura do acordo. Em março deste ano, a Máquina do Esporte mostrou como se deu a ascensão e queda desse negócio, que aparentava ser infalível.
Ideia parecia promissora, mas não vingou
A casas de apostas hoje conhecida como ESPN Bet possui uma história que antecede o acordo do canal da Disney com a Penn.
Tudo começou em 2020, quando a empresa de tecnologia fechou acordo para compra de 36% das ações da plataforma de jornalismo esportivo Barstool Sports, mediante o pagamento de US$ 135 milhões em dinheiro e US$ 28 milhões em ações preferenciais.
Em setembro daquele ano, foi lançada a casa de apostas Barstool Sportsbook, registrada inicialmente na Pensilvânia. A partir de 2021, ela iniciou sua expansão, passando a operar no estado do Michigan e tornando-se patrocinadora máster do Arizona Bowl, um dos principais jogos de futebol americano universitário dos Estados Unidos, na edição realizada em 2022.
A ideia era atrair o público da plataforma jornalística para o site de apostas de mesmo nome. Apesar dos esforços iniciais da Penn, a Barstool Sportsbook nunca chegou a atingir 5% do mercado nos Estados Unidos.
Mesmo assim, em 2023 a Penn Entertainment decidiu exerceu seu direito de preferência e assumiu o controle acionário da Barstool Sports, por US$ 551 milhões.
A decisão, por si só, já parecia ser inusitada, diante do baixo retorno que a plataforma de apostas oferecia.
Surpresa maior veio quando, ainda naquele ano, a Penn anunciou que deixaria o negócio na Barstool, mediante o pagamento do valor simbólico de US$ 1 a Dave Portnoy, fundador do site esportivo.
O foco da empresa se voltaria para o acordo de licenciamento com a ESPN, no valor de US$ 2 bilhões.
Subida rápida, queda drástica
A lógica que movia os executivos da Penn era de que a parceria com a ESPN reduziria os custos para atrair novos clientes.
Afinal, a emissora integra um dos maiores conglomerados de mídia do planeta e transmite as principais competições esportivas nos Estados Unidos, com uma projeção muito maior que a da Barstool.
A Penn buscava não apenas intensificar sua presença junto aos espectadores de esportes (que representam o público-alvo das “bets”), mas também integrar suas apostas ao portfólio de direitos esportivos ao vivo do canal, isso sem contar programas diários, redes sociais e aplicativos móveis.
Por essa linha de raciocínio, a ESPN Bet estaria apta a disputar mercado com gigantes como DraftKings e FanDuel, que dominam o setor de apostas nos Estados Unidos.
No segundo semestre de 2023, quando o negócio foi fechado, a Penn Entertainment apostava que sua bet licenciada controlaria 20% do segmento na terra do “Tio Sam”, até 2027.
Já na primeira semana de lançamento, o aplicativo da ESPN Bet registrou 1,1 milhão de downloads nos Estados Unidos, chegando a ser o item mais baixado na App Store, da Apple, durante 100 horas consecutivas, e respondendo por 70% dos downloads de apostas esportivas do país, naquela semana.
A euforia era tamanha que Bank of America lançou relatório, dias depois, antevendo que a ESPN Bet dominaria em breve de 9% a 10% do mercado, tornando-se a terceira maior casa de apostas dos Estados Unidos.
Porém, a subida rápida foi seguida pela queda drástica, nos meses seguintes. O balanço financeiro da Penn Entertainment, divulgado em fevereiro de 2025 e que trouxe os resultados relativos ao ano passado, mostrou que a divisão interativa da empresa, que inclui a ESPN Bet, havia perdido US$ 110 milhões apenas no quarto semestre de 2024.
Ao mesmo tempo, o valor de mercado da Penn derreteu, caindo de US$ 20 bilhões, em 2021, para US$ 3,3 bilhões, em fevereiro deste ano.
Os números do balanço da Penn mostravam que a ESPN Bet estava presente em 20 estados norte-americanos e detinha o equivalente 2,35% do mercado.
Isso representava metade do que a Penn havia projeto para 2025. Ainda assim, antes de jogar a toalha, a empresa acreditava poder atingir uma fatia de 4,7% do mercado até o fim deste ano, número que não irá se concretizar, já que a ESPN deixará de existir, antes de esse prazo ser cumprido.
