Pular para o conteúdo

Premier League: A um ano da proibição definitiva, 10 times ainda têm patrocínio máster de apostas

Veto à presença das logomarcas das "bets" no espaço máster dos uniformes dos times ingleses passará a valer a partir da temporada 2026/2027

Aston Villa, parceiro da Betano, é um dos clubes ingleses que ainda têm patrocínio de apostas - Reprodução / Instagram (@avfcofficial)

Dentro de um mês, no dia 16 de agosto, terá início a temporada 2025/2026 da Premier League. Turbinada por contratos bilionários de direitos comerciais e de mídia, a primeira divisão do futebol inglês consegue reunir alguns dos principais craques do planeta, atraindo a atenção de torcedores de todo o mundo.

Apesar de ostentar o status de campeonato nacional mais rico do mundo, nem mesmo a Premier League foi capaz de passar ao largo do dinheiro das casas de apostas esportivas.

Por vários anos, diversos de seus clubes se refastelaram no patrocínio proporcionado pelas empresas do setor. A partir da temporada 2026/2027, a festa chegará ao fim, já que passará a valer a regra que proíbe sites de apostas de exibirem suas logomarcas na parte frontal das camisas dos times profissionais ingleses.

Mas enquanto o veto definitivo não entra em vigor, clubes menores aproveitam para extrair até o último “pence” das “bets”.

Levantamento realizado pela Máquina do Esporte mostra que, dos 20 clubes que disputarão a Premier League 2025/2026, dez terão patrocínio máster de casas de apostas.

São eles: Aston Villa (Betano), Bournemouth (BJ88), Brentford (Hollywoodbets), Burnley (96.com), Crystal Palace (Net88), Everton (Stake), Fulham (Sbotop), Sunderland (W88), West Ham (Boyle Sports) e Wolverhampton Wanderers (Debet).

Sem patrocinador

A lista de times da Premier League patrocinados por casas de apostas poderia ser ainda maior, uma vez que, ao menos por enquanto, dois times aparecem sem parceiro máster para a temporada 2025/2026.

Um deles é o Chelsea, atual campeão da Copa do Mundo de Clubes, que chegou a firmar acordo com a Stake, que seria válido a partir de 2023/2024.

A pressão dos torcedores fez com que o clube de Londres desistisse do patrocínio. Pesquisa feita à época pelo Chelsea Supporters’ Trust concluiu que 77% dos fãs da equipe eram encontra esse tipo de parceria.

O Nottingham Forest, propriedade do magnata grego Evangelos Marinakis, é outro que está sem patrocinador máster no uniforme que será usado na próxima temporada.

Até a última edição da Premier League, o clube tinha parceria com a casa de apostas asiática Kaiyun Sports, que operava no Reino Unidos com com base em uma licença obtida pela TGP Europe.

Porém, em maio deste ano a TGP deixou de atuar no Reino Unido. Em 2024, tanto Nottigham Forest quanto Crystal Palace, que também era patrocinado pela Kaiyun Sports, foram advertidos por promoverem em seus uniformes uma casa de apostas não licenciada no país.

Marcas globais

A discussão sobre os patrocínios de apostas costuma ser controversa, independentemente da competição analisada.

No caso específico da Premier League, por mais que ela seja a liga nacional de futebol mais rica do planeta, ela apresenta uma disparidade financeira considerável entre os clubes participantes.

À exceção do Chelsea, times com grandes torcidas e arrecadações maiores sempre evitaram se associar d e maneira explícita às casas de apostas.

Em alguns casos, a opção é favorecida pelo fato de algumas dessas equipes serem controladas por grupos bilionários.

O Manchester City, por exemplo, pertence ao City Football Group, da família real de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. O arquirrival Manchester United tem entre os acionistas Jim Ratcliffe, dono da Ineos e um dos homens mais ricos do Reino Unido.

De acordo com o relatório Deloitte Football Money League 2025, o Manchester City foi o segundo clube que mais faturou no mundo no ano passado, com um total de € 837,8 milhões. Já o arquirrival ficou na quarta colocação, com € 770,6 milhões.

Dessa forma, esses times e também Liverpool, Arsenal e Tottenham preferem exibir no espaço principal de suas camisas marcas globais e de segmentos menos polêmicos.

Isso não significa que esses clubes não se beneficiem do patrocínio de apostas. Em setembro de 2023, por exemplo, o Arsenal fechou acordo com a plataforma Betway.

Porém, a casa de apostas não passou a figurar na camisa da equipe, que tem a companhia aérea Emirates como patrocinadora máster. Em vez disso, a Betway teve sua marca exibida nos painéis de led do estádio do time.

Possíveis impactos

A proibição das casas de apostas no espaço principal das camisas dos times ingleses certamente trará impactos a curto prazo para os clubes que hoje dependem desse tipo de patrocínio.

Porém, a análise do faturamento das equipes das grandes ligas europeias comprova que elas podem se beneficiar de outras fontes de receitas.

Em 2020 e 2021, no auge da pandemia da covid-19, os clubes ficaram praticamente privados do dinheiro proveniente do matchday, por conta do fechamento dos estádios e da paralisação dos campeonatos.

A partir de 2022, porém, essa fonte de renda crescido de maneira constante. Os acordos de direito de mídia também apresentaram valorização significativa nos últimos anos.

Não se pode esquecer de que, a partir desta temporada, entra em vigor o novo ciclo de direitos de transmissão da Premier League, que será válido por quatro anos e renderá o valor global recorde de £ 6,7 bilhões. O contrato anterior era de £ 5 bilhões.

Dessa forma, o volume de recursos disponível para os clubes ingleses será maior daqui para frente, mesmo sem o dinheiro do patrocínio máster de apostas.

Outras fontes de receita

O impacto do crescimento do matchday e dos direitos de mídia pode ser observado na análise das finanças de um time como o Aston Villa, hoje patrocinado pela Betano.

De acordo com o relatório da Delloitte, as receitas comerciais do clube (que incluem patrocínio máster) eram de € 39 milhões em 2022, passando para € 36 milhões no ano seguinte, até atingirem € 43 milhões em 2024, quando o clube tinha como principal parceiro o site de apostas BK8.

Ou seja, o dinheiro das “bets” não turbinou de maneira significativa o faturamento comercial do time. Em contrapartida, as receitas de mídia da equipe passaram de € 146 milhões, em 2022, para € 215 milhões, no ano passado.

Já o faturamento com matchday passou dos € 26 milhões, registrados três anos atrás, para € 52 milhões, em 2024, superando todas as receitas comerciais obtidas pelo clube.

O Newcastle é outro exemplo que vale ser analisado. Em 2023, o time fechou com a empresa de eventos saudita Sela, que assumiu o patrocínio máster antes ocupado pela casa de apostas Fun88.

No último ano em que estampou uma “bet” no espaço principal da camisa, o clube faturou um total de € 54 milhões em sua área comercial.

Em 2024, já sem a casa de apostas, os acordos comerciais injetaram € 90 milhões nos cofres da equipe. A parceria com a Sela respondeu por £ 25 milhões (€ 28,82 milhões) desse total.

Vale lembrar que os times não serão proibidos de firmar contratos com as casas de apostas. O veto afetará apenas o espaço máster dos uniformes.

As empresas do setor ainda poderão veicular suas logomarcas nas mangas das camisas (cujos contratos, hoje, rendem o equivalente a 39% do que costuma ser pago pelos espaços frontais) e também nos painéis de led dos estádios, durante os jogos.