A Copa do Mundo mais olímpica da história

Em Doha, não temos tocha olímpica, esportes diferentes sendo disputados ao mesmo tempo ou clean venues (locais de jogos sem propagandas das marcas patrocinadoras). Mas a Copa do Mundo do Catar se assemelha demais com os Jogos Olímpicos por uma questão pitoresca: nunca uma Copa havia sido disputada em uma área geográfica tão restrita, praticamente em uma única cidade.

Na prática, o que isso significa para quem vem a turismo, jogar ou ativar as marcas patrocinadoras?

Na prática, é uma experiência completamente diferente.

Para quem veio assistir aos jogos, significa a possibilidade de encurtar sua viagem e, ao mesmo tempo, estar em mais jogos ao vivo, aproveitando que a maior distância entre dois estádios é de menos de 70km. Não é raro ver torcedores assistindo a mais de um jogo de Copa do Mundo por dia, principalmente quem topa a “gincana” de pegar o metrô lotado para o próximo jogo.

Falando em filas, o fato de ter todos os fãs das 32 seleções em apenas uma cidade (pouco preparada para um evento desse porte) faz com que haja filas nos restaurantes, transportes públicos, fan fests, etc. Por outro lado, não existem filas nos aeroportos para voos internos. No máximo, um pouco mais de gente para um bate e volta até Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para os mais aventureiros.

Para quem veio jogar, estar em uma única cidade significa ter mais tempo de descanso entre os jogos, argumento que foi “aproveitado” pela Fifa para abreviar o tempo da competição e o intervalo entre as partidas. Também significa para as seleções se hospedarem em hotéis regulares e luxuosos, mas sem a mesma privacidade.

A falta de privacidade, aliás, vale também para os campos de treino por uma razão simples: eles não existem na quantidade requerida pelos 32 times como era padrão nas Copas anteriores. Outra particularidade é permanecer sempre no mesmo clima, algo que a Alemanha, por exemplo, deve preferir, ao invés de jogar no calor de Recife e depois em Porto Alegre (no inverno) em um intervalo de quatro dias, como fez em 2014.

Já para quem veio ativar sua marca, ter praticamente uma única sede faz com que os investimentos sejam menores, mais concentrados e, por que não, caprichados. Na Fan Fest central, há um telão gigantesco, áreas enormes para cada patrocinador e shows ao vivo todas as noites. Dividir os ingressos entre os convidados é mais simples por um lado, porém arranjar hospedagem é ainda mais difícil e caro. Principalmente na fase de grupos, conseguir programas na cidade para os convidados é uma tarefa dura, mesmo para os organizadores mais experientes.

Fato é que essa Copa “Olímpica” não deve se repetir nas próximas. Em 2026, os três países da América do Norte se dividirão para recepcionar as inflacionadas 48 seleções, e a tendência de mais de um país sediar a Copa deve se manter em 2030 entre os candidatos da América do Sul ou de vizinhos da Europa Ibérica.

Talvez em 2034 a China possa hospedar a Copa sozinha, mas, mesmo se isso acontecer, o extenso território do país exigirá de todos os participantes viagens internas para seguir a seleção preferida. Enfim, Paris 2024 já se apresenta no horizonte com o melhor e o pior de uma cidade única.

Sair da versão mobile