Argentina x França: LaLiga supera Premier League e emplaca mais jogadores na final da Copa

Quando a Copa do Mundo do Catar começou, um dado chamou a atenção: a predominância de jogadores cedidos pelos clubes da Premier League, da Inglaterra, campeonato nacional de futebol mais valorizado dos tempos atuais. Nada menos que 17% dos 830 atletas convocados pelas 32 seleções participantes da competição atuam na primeira divisão inglesa.

São 143 nomes, para ser mais exato. No entanto, à medida que a fase de grupos chegou ao fim, o poderio dos súditos do Rei Charles III passou a ruir e ceder espaço para que outra potência europeia pudesse mostrar sua força. Às vezes, as pessoas não se lembram, mas, desde que o futebol começou a se globalizar, a Espanha conta com alguns dos clubes mais poderosos do planeta.

Se os ingleses levam vantagem quando o assunto é dinheiro, os times da Espanha levam a melhor com a bola nos pés. Dos 52 atletas que disputarão a final da Copa do Mundo, entre Argentina e França, no próximo domingo (18), nada menos que 16 atuam na LaLiga.

A Premier League vem logo atrás, com dez. Em nenhuma das seleções os atletas oriundos de clubes ingleses são maioria. Tanto na França quanto na Argentina, eles estão atrás dos rivais ibéricos.

“Armada invencível” que não afunda

Na história ocidental, há um ponto em que os caminhos de Inglaterra e Espanha se cruzaram, alterando para sempre os rumos do planeta. Estamos falando não de futebol, mas de geopolítica. Em 1588, o espanhol Filipe II, que comandava um império onde o sol nunca se punha, resolveu invadir a Grã-Bretanha com a maior frota naval já vista.

Boa parte da “Armada Invencível” afundou no Canal da Mancha e, depois disso, a Espanha começou a entrar em um lento processo de decadência, ao passo que os ingleses, a partir dessa época, lançaram as bases que tornaram o Reino Unido um dos países mais ricos do mundo (e cujo campeonato de futebol, hoje em dia, concentra boa parte dos craques do planeta).

Já a Espanha se modernizou no século passado e voltou a se desenvolver. A bem da verdade, seus clubes sempre foram potências globais, muito antes de o mundo ser globalizado. Nos anos 1950 e 1960, já desfilavam craques argentinos, brasileiros e húngaros pelo Campeonato Espanhol.

Se, mais recentemente, a Premier League avançou na busca pela hegemonia no continente, o fato é que, no futebol, a “Armada Invencível” da LaLiga não dá sinais de que possa naufragar. Pelo contrário. Nas últimas 20 edições da Champions League, a Espanha abocanhou dez taças, contra apenas cinco da Inglaterra.

Se trazemos o período analisado mais para perto, a vantagem espanhola aumenta, graças ao predomínio absurdo do Real Madrid, atual campeão do continente. São seis taças na conta dos ibéricos nas últimas dez temporadas da Champions, enquanto os anglo-saxões faturaram apenas três. Um sinal de que a Inglaterra gasta como nunca, mas os espanhóis levantam taças como sempre.

Predomínio nas seleções finalistas

Comparar número de taças do principal e mais disputado torneio de clubes do mundo talvez não traga uma verdade absoluta sobre as duas ligas. Mas dá indícios. Na final da Copa do Mundo do Catar, o futebol espanhol é o ganha-pão de seis jogadores da França e de dez da Argentina.

A LaLiga lidera nas duas equipes, sendo que, no caso francês, o topo do pódio é dividido com o campeonato do próprio país e a Bundesliga. Na lista geral, a Ligue 1 está em terceiro lugar, com oito jogadores, dois a menos que a Premier League. Já o futebol alemão e o italiano empatam em quarto na classificação geral, com sete atletas cada um na final.

A lista ainda tem presenças inesperadas como a de Portugal, com dois representantes (graças ao Benfica, que cedeu à Argentina o zagueiro Nicolás Otamendi e o meia Enzo Fernández). A seleção sul-americana também tem outros dois jogadores que atuam em ligas não citadas anteriormente: o goleiro Franco Armani, do River Plate, e o meia-atacante Thiago Almada, do Atlanta United, dos Estados Unidos.

Atlético de Madrid e Bayern de Munique

Se na Champions o Real é quem domina, na final da Copa do Mundo o Atlético de Madrid é quem brilha. O clube é um dos que mais emplacaram jogadores na grande decisão, que será jogada no próximo domingo (18), às 12h (horário de Brasília).

São três na Argentina (Nahuel Molina, Rodrigo de Paul e Ángel Correa) e um na França, o atacante Antoine Griezmann, que, apesar dos altos e baixos vividos nos campos espanhóis, nesta Copa do Mundo corre por fora (mas com fôlego de sobra) para tomar de Kylian Mbappé e Lionel Messi os louros de craque do Mundial do Catar, graças às suas atuações decisivas pelos Bleus.

O Bayern de Munique é o outro recordista desta final. Neste caso, porém, todos os seus jogadores estão concentrados no time francês. Em caso de vitória dos europeus, o time da Baviera será o mais vitorioso do Mundial, pelo menos quantitativamente.

Já no caso da Argentina sagrar-se campeã, o Atlético de Madrid dividirá sua glória com o Sevilla, que tem todos os seus três atletas desta final atuando pela albiceleste. Na lista geral, o time da Andaluzia aparece empatado com Real Madrid e Juventus na segunda colocação.

PSG

Clube de propriedade da família real do Catar, o PSG tem sido muito citado em análises recentes como sendo um dos grandes vitoriosos deste Mundial por conta da projeção de seus jogadores.

Quantitativamente, isso pode ser contestado, já que o bilionário clube francês conta com a mesma quantidade de finalistas que Real Betis, Monaco, Benfica, Milan, Barcelona, Olympique de Marselha e Tottenham.

Mas, em termos qualitativos, é sempre bom lembrar que os dois atletas que representam a equipe de Paris nesta decisão são ninguém menos que Messi e Mbappé, maiores estrelas de suas respectivas seleções e da própria Copa do Mundo.

Manchester City

Na lista dos times que contam com apenas um jogador na final, merece menção o Manchester City, de Julián Álvarez. O atleta tem feito boas apresentações na competição e já marcou quatro gols até agora, sendo dois na semifinal contra a Croácia. Em caso de um eventual título argentino, o atacante poderá acabar trazendo um certo brilho ao clube inglês.

Dificilmente, porém, ele será capaz de apagar as principais estrelas de Argentina e França. Nem de ofuscar o fato de que o City foi o time que mais mandou jogadores para a Copa do Mundo. Foram 16 no total e, no fim das contas, apenas um chegou à decisão.

Brasil, Portugal e Inglaterra afetaram Premier League

O desempenho abaixo do esperado da Premier League nesta Copa do Mundo se deve muito às eliminações de Inglaterra, Portugal e Brasil na competição. A seleção canarinho levou 12 jogadores que atuam na primeira divisão inglesa: desde o goleiro Alisson, passando pelo capitão Thiago Silva, até o atacante Richarlison.

O Brasil era a segunda equipe mais “reforçada” por atletas que atuam na Premier League depois da própria Inglaterra, que buscou 25 dos 26 jogadores em sua competição doméstica. Em terceiro lugar, vem Portugal, que iniciou a Copa do Mundo com dez representantes nos gramados ingleses, número que depois caiu para nove, já que o astro Cristiano Ronaldo acabou sendo dispensado pelo Manchester United no meio da competição.

Os Red Devils contarão com dois representantes na final do Mundial: os zagueiros Varane, da França, e Lisandro Martínez, da Argentina. Independentemente de quem for campeão, o Manchester United (nestes tempos de elencos globalizados) poderá celebrar a vitória de um deles, enquanto tentará, quem sabe, consolar o outro.

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