Perto do adeus às Copas, Galvão Bueno tem virada na carreira e se torna influencer número 1 das marcas

Toda Copa do Mundo tem um rosto que acaba por personificá-la. Em 1994, esse papel no país coube a Romário e Bebeto. Em 1998 e 2002, o grande ídolo foi Ronaldo Fenômeno. E de 2014 para cá, o protagonista do Brasil nos Mundiais, dentro e fora de campo, vinha sendo Neymar.  

Nesta Copa do Mundo, porém, outra figura tornou-se onipresente, antes, durante e depois dos jogos do Brasil. As marcas foram buscar fora dos gramados um antigo conhecido dos torcedores brasileiros, Galvão Bueno, para transformá-lo em um dos principais “influencers” do país, na época da maior competição de futebol do planeta.  

Prestes a se despedir das coberturas de Copa do Mundo e depois de ter enfrentado períodos de forte contestação nos “tribunais” das redes sociais, o narrador aproxima-se de se tornar quase que uma unanimidade em uma nação dividida e carente de ídolos e referências.  

50 jogos em Copas do Mundo

Nesta segunda-feira (28), ao comandar a exibição da vitória do Brasil sobre a Suíça por 1 a 0, Galvão Bueno completou 50 jogos da seleção brasileira em Copas do Mundo transmitidos ao longo da carreira. Essa trajetória teve início em 1974, quando ainda estava na TV Gazeta, de São Paulo. À época, a emissora integrava o Sibratel, pool formado também por Record e Bandeirantes para a transmissão do Mundial, realizado na Alemanha.  

Depois de acumular passagens por Record e Bandeirantes, ele chegou à Globo em 1981, onde teve a oportunidade de narrar a Copa do Mundo do ano seguinte, mas não os jogos do Brasil, que ficavam sob a batuta de Luciano do Valle.  

Em 1986, Galvão teve a chance de narrar apenas um jogo do Brasil, já que o locutor principal da emissora à época, Osmar Santos, havia passado mal. Foi a partir do Mundial seguinte, em 1990, que ele se firmou como o principal narrador da Globo, onde impôs seu estilo para lá de passional nos jogos da seleção brasileira.  

Narrando e torcendo, Galvão deixou sua voz marcada na memória dos torcedores em momentos históricos como as conquistas das Copas de 1994 e 2002.

Ficar em evidência por tanto tempo no maior canal do país pode ser consagrador, mas tem seu ônus. Para o locutor, conhecido pelo seu turbilhão de “erres” e bordões como “Haja coração!” e “Sai que é sua!”, a chegada e a consolidação das redes sociais representou um momento de inflexão na relação com o grande público.  

A quase onipresença de Galvão Bueno nos meios digitais nos dias de hoje contrasta com a postura extremamente reativa que uma parcela dos usuários das redes costumava adotar em relação ao narrador algumas Copas atrás.  

Em 2010, por exemplo, Galvão chegou a figurar nos trending topics do Twitter por conta de uma brincadeira feita por um usuário do YouTube, que compartilhou um vídeo falso sobre uma ave que estaria ameaçada de extinção no Brasil.   

O autor da pegadinha convenceu milhões de pessoas de que uma falsa entidade dedicada à preservação da ave imaginária receberia US$ 0,10 cada vez que alguém tuitasse algo com a hashtag #CalaBocaGalvão.

Essa trolagem permaneceu durante duas semanas como o assunto mais comentado no Twitter, gerando forte repercussão na imprensa nacional e internacional. Fatos como esse passaram a ter repercussão fora das redes, como na transmissão do UFC 153, em 2012, quando a Globo foi obrigada a baixar o som ambiente do local onde se desenrolava a luta de Anderson Silva por conta das ofensas que a plateia dirigia em coro ao narrador.  

Inabalável 

Por mais que tais fatos tivessem repercussão em blogs, jornais e nas redes sociais, o posto de narrador da maior emissora de TV do Brasil permaneceu inabalável. Galvão continuaria a ser a voz da Globo nas Copas do Mundo seguintes, sempre no comando das transmissões dos jogos da seleção brasileira.  

Essa relação, que já dura mais de 40 anos (exceto por um breve intervalo no início dos anos 1990, quando Galvão transferiu-se para a OM/Gazeta, onde teve a oportunidade de narrar uma Copa Libertadores vencida pelo São Paulo), está em vias de chegar ao fim.  

Em abril deste ano, ele assinou com a Play9, do youtuber Felipe Neto. O objetivo é que Galvão comande transmissões digitais em plataformas como Twitch e YouTube. Nesta Copa do Mundo, pela primeira vez, o narrador teve liberdade para firmar contratos publicitários próprios. Ao longo de 2022, também esteve à frente do podcast “PodFalar, Galvão!”, em parceria com a HUB Mídia, seu primeiro projeto digital feito sem a participação da Globo. O nome é uma referência mais do que clara ao ocorrido em 2010.

Só Vinícius Júnior supera Galvão

E as marcas se esbaldam na figura do narrador. Diferentemente da trolagem realizada 12 anos atrás, agora todas querem que ele fale muito. Em matéria de quantidade de negócios fechados, Galvão supera estrelas como Neymar e só fica atrás do atacante da seleção Vinícius Júnior, que acumula dez parcerias, enquanto o narrador soma oito.  

No esquadrão “Fala, Galvão” estão marcas como Pixbet, TikTok, Visa, IQI Investimentos, Johnnie Walker e Petrobras. Além disso, o narrador foi a principal estrela da campanha de Black Friday da Americanas, cuja live, realizada na semana passada, foi comandada por Felipe Neto.  

A Ambev é outra que tem apostado na figura de Galvão Bueno, que se tornou embaixador da Brahma nesta Copa do Mundo. Na semana passada, foi anunciado o lançamento do vinho “Bien Amigos”, resultado da parceria entre o locutor e a empresa.  

Os valores dessas parcerias não foram divulgados, mas as especulações envolvem cifras milionárias, não confirmadas nem negadas. Nos dias que se seguem, Galvão tem recusado convites para entrevistas, alegando que seu foco está inteiramente voltado à transmissão das partidas da Copa do Mundo, que, ao que tudo indica, pode ser sua última.

Isso, é claro, se não o virmos, daqui a alguns anos, à frente de empreitadas no streaming, seguindo os passos de “veteranos das redes” como Casimiro e sem os velhos conhecidos “amigos da Rede Globo”.  

Sair da versão mobile