Argentina x Croácia: No valor de mercado dos elencos, a vitória é sul-americana 

A Copa do Mundo 2022 chegou aos seus momentos derradeiros. Nesta terça-feira (13), às 16h, Argentina e Croácia se enfrentarão em jogo válido por uma das semifinais da competição. As diferenças entre as duas equipes são marcantes, especialmente no que diz respeito aos valores de mercado de seus respectivos elencos.  

Dentro das quatro linhas, por tudo o que foi mostrado até o momento pelos semifinalistas, o que se espera é uma partida muito disputada e sem favoritos. No entanto, quando analisamos as avaliações aproximadas dos jogadores de cada time, a Argentina ganha com folga.   

Considerando-se as estimativas mais recorrentes disponíveis na atualidade, a soma dos valores de mercado dos atletas da seleção azul e branca ultrapassa € 645 milhões. Enquanto isso, o elenco croata atinge, pela cotação atual, pouco mais de € 382 milhões. O país do leste europeu tentará usar sua eficiência para superar o elenco de peso dos adversários da semifinal.  

Ataque x defesa

Por essas estimativas, o valor de mercado do elenco argentino é quase 70% maior em relação ao da Croácia. E essa não é a única diferença que pode ser notada nesse levantamento de valores. Quando se analisa o perfil dos atletas mais valiosos de cada equipe, um detalhe chama a atenção.  

Enquanto o jogador mais caro da Argentina, Lautaro Martínez, da Internazionale, da Itália, avaliado em € 75 milhões, é um centroavante, na Croácia o atleta mais valorizado da atualidade é Josko Gvardiol, zagueiro do RB Leipzig, da Alemanha, cotado por expressivos € 60 milhões.  

O que talvez explique esses extremos seja a própria característica de cada time. No caso da Croácia, o ponto forte é justamente a defesa, com um sistema de marcação implacável. Os hermanos, por sua vez, são conhecidos em todo o mundo pelo poder do futebol ofensivo e o talento dos atacantes.  

Mais valiosos 

Na atual seleção da Argentina, nada menos do que cinco atletas estão cotados no mercado em quantias iguais ou superiores a € 40 milhões. Além de Lautaro Martínez, integram a elite dos mais valorizados da albiceleste: Cristian Romero (€ 55 milhões), Lionel Messi e Lisandro Martínez (€ 50 milhões cada um) e Ángel Correa (€ 40 milhões).  

Na Croácia, por sua vez, Gvardiol tem a companhia solitária de Mateo Kovacic no clube dos avaliados acima dos € 40 milhões. O meia vale € 45 milhões. Este é o valor exato que o Chelsea pagou ao Real Madrid pelo atleta, em 2019.  

Ainda compõem o Top 5 dos jogadores croatas mais bem cotados: o volante Marcelo Brozovic (€ 35 milhões) e os meias Mario Pasalic (€ 25 milhões) e Lovro Majer (€ 22 milhões).  

E os medalhões? 

Pode chamar a atenção do leitor a ausência no topo da lista croata de nomes como o atacante Ivan Perisic e sobretudo do meia Luka Modric, principal referência do time e que foi eleito melhor jogador da Copa de 2018, quando a seleção dos Bálcãs foi vice-campeã, perdendo para a França na final.  

O grande problema, em ambos os casos, é que os dois já estão com idades que podem ser consideradas avançadas pelo mercado (33 anos, no caso de Perisic, e 37, no de Modric). Por mais que os dois ainda estejam competindo em alto nível nos principais torneios do mundo, é pouco provável que essa boa fase ainda dure muito tempo. Por isso, as cotações desses medalhões croatas acabam ficando bem abaixo das de jogadores mais jovens e promissores.  

Em 2012, por exemplo, quando Modric tinha 27 anos de idade, o Real Madrid pagou € 35 milhões ao Tottenham para ter o meia em seu elenco. Em junho deste ano, ele renovou com o clube espanhol por mais uma temporada.  

Do lado argentino, Ángel Di María é outro exemplo de quem aparece avaliado em uma quantia que aparenta ser muito inferior à fama. Aos 34 anos, o atacante está cotado por modestos € 10 milhões. Há oito anos, o jogador chegou a ser negociado por € 75 milhões pelo Real Madrid para o Manchester United. No ano seguinte, seu preço cairia para € 63 milhões. Esse foi o valor que o PSG pagou ao time inglês pelo argentino.  

Estimativa 

Quem já teve a oportunidade de negociar algum bem, especialmente com valores maiores, sabe o quanto é complicado definir o preço de algo. Diversos fatores costumam influenciar a avaliação. Alguns deles são objetivos e fáceis de quantificar, ao passo que outros são de ordem subjetiva. 

No caso dos jogadores de futebol, as estimativas aqui citadas são as mais recentes disponíveis na imprensa e em páginas especializadas. Essas cifras servem como parâmetro, embora nem sempre encontrem equivalência exata na realidade. Um exemplo disso é Pasalic, que, dois anos atrás, também estava avaliado pelo mercado em € 25 milhões. Porém, na negociação do Chelsea com a Atalanta, a quantia que de fato foi paga pelo atleta foi de € 14 milhões.  

Em geral, jogadores com até 25 anos terão uma cotação maior que as de atletas acima dessa faixa etária por conta das razões já mostradas acima. Isso explica, por exemplo, o fato de Messi não estar em primeiro lugar na lista dos mais valiosos de seu país.  

O rendimento e a eficiência também são pontos óbvios que ajudam a elevar o preço do futebolista. Porém, a Copa do Mundo atual tem demonstrado que valores financeiros nem sempre são o parâmetro mais fiel para definir quem vai vencer.  

Autor do gol de empate da Croácia contra o Brasil, no segundo tempo da prorrogação das quartas de final, Bruno Petkovic, de 28 anos, joga no Dínamo Zagreb, que pagou € 1 milhão ao Bologna para contratá-lo. Atualmente, seu valor de mercado gira em torno de € 6 milhões, quantia bem inferior, por exemplo, aos € 95 milhões pagos pelo Manchester United na contratação do brasileiro Antony, uma das maiores ocorridas na atual temporada.  

Histórias distintas 

Alguns aspectos ajudam a explicar as disparidades nos valores dos elencos das duas seleções. As duas Copas do Mundo conquistadas pela Argentina certamente contribuíram para construir um forte imaginário em torno do futebol do país, o que acaba por estimular o interesse do mercado por seus atletas.

Mas há aspectos que vão além da Copa do Mundo. Tanto Argentina quanto Croácia são nações que exportam jogadores. Porém, a tradição dos sul-americanos nesse negócio é bem mais antiga. Muito antes de o futebol sequer sonhar em alcançar o atual nível de globalização, craques argentinos já desfilavam seu talento pelos gramados europeus. Foi o caso, por exemplo, de Alfredo Di Stéfano, que comandou a primeira grande geração do Real Madrid a dominar o continente nos anos 1950 e 1960.  

Nas décadas seguintes, diversos outros craques do país, como Mario Kempes, Diego Maradona, Gabriel Batistuta e Claudio Caniggia, foram protagonistas nos principais campeonatos da Europa Ocidental, criando uma reputação que é difícil de ser esquecida. Messi, que brilhou durante mais de uma década no Barcelona, é apenas mais um exemplo do sucesso dos argentinos no Velho Continente.  

Já para os croatas, a abertura dos grandes mercados para os atletas é bem mais recente. Quando a era profissional do futebol se iniciou, nas primeiras décadas do século passado, o país integrava a Iugoslávia, que se tornaria uma nação socialista ao final da Segunda Guerra Mundial.  

Os principais jogadores croatas costumavam ter suas carreiras restritas aos clubes iugoslavos. Nos anos 1960, eram raros os casos de atletas do país que conseguiam espaço em outros lugares, casos de Drazan Jerkovic, que atuou pelo La Gantoise, da Bélgica, e de Josip Skoblar, que jogou pelo Hannover, da Alemanha, e o Olympique de Marselha, da França.  

A partir dos anos 1980 e sobretudo 1990, com o colapso da Iugoslávia e a independência da Croácia, atletas do país passaram a ter uma presença mais constante nos grandes campeonatos da Europa. A geração liderada por Davor Suker, que alcançou o terceiro lugar na Copa de 1998, foi a primeira a mostrar ao mundo que a pequena nação dos Bálcãs tinha talento de sobra para exportar no futebol.  

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