Torcida da Argentina: Um show na Copa do Catar

Em 2014, os argentinos invadiram o Brasil para seguir sua seleção e ficaram até a final, quando foram derrotados pela nossa algoz Alemanha. Apesar da rivalidade, a mistura entre amarelo e celeste nas arquibancadas do Maracanã conviveu em paz. Em 2018, argentinos e brasileiros se encontravam eventualmente em alguma Fan Fest ou nos aeroportos, já que as distâncias eram grandes e quem quisesse acompanhar sua seleção teria dificuldades em assistir a um jogo da seleção sul-americana vizinha. Já no Catar, ambas as torcidas estão presentes na mesma cidade, frequentam os mesmos ambientes e é possível assistir a jogos do Brasil e da Argentina com um dia de diferença.

Em geral, os torcedores de ambos os países são pessoas de alto poder aquisitivo e que conseguem arcar com os custos de viagem, hospedagem e ingressos. É possível não deixar um rim se voar usando milhas, hospedando-se em apartamentos alugados ou comprando ingressos por cerca de R$ 400 cada. Mesmo assim, o perfil dos torcedores de ambas as seleções é bastante diferente de membros de torcidas organizadas brasileiros ou argentinos.

Os torcedores brazucas ou hermanos “desorganizados” ficam espalhados pelos estádios, com alguma concentração atrás dos gols, onde a Fifa colocou pessoas do mesmo país para facilitar a vida dos cinegrafistas. Dessa forma, quem quer estar no meio da bagunça e assistir aos jogos em pé já sabe: perto dos gols é o lugar a se ficar.

Quem assiste à Copa pela TV deve ter percebido que a torcida argentina faz mais barulho do que a brasileira. Quem esteve no estádio pôde constatar que isso é uma realidade, e eu daria algumas razões:

– os argentinos vieram em maior número para o Catar, e seus torcedores são mais fanáticos;

– eles não parecem ter divisões internas: Messi é reverenciado por toda a torcida, diferentemente de Neymar ou outro brasileiro, que ainda não são unanimidades;

– eles trouxeram mais instrumentos de percussão e tocam de forma coordenada, posicionados lado a lado na beirada da arquibancada superior, dando o ritmo para todo o estádio. Os batuques brasileiros acontecem em menor número e próximos ao campo, causando menor eco na arquibancada;

– as músicas argentinas são adaptações fáceis dos gritos dos estádios ou criadas para durarem mais tempo de cantoria. Os maiores sucessos brasileiros (“Mil Gols” e “58 foi Pelé”) são conhecidos por muita gente, mas acabam rápido. Em resumo, falta repertório;

– por mais que sejamos reconhecidos como ótimos percussionistas (os desfiles das escolas de samba são famosos mundialmente), nosso batuque nos estádios não tem o mesmo impacto, volume ou organização.

Quer dizer que só nos resta bater palmas para a torcida argentina? Claro que não. Mas precisamos reconhecer que eles estão em um patamar acima dos brasileiros dentro dos estádios.

Alguns grupos começaram a se organizar, e, com o reforço de instrumentos, torcedores acostumados a puxar a massa dos grandes times, união e criatividade, podemos nos tornar protagonistas em 2026. 

Para 2022, fica a esperança de que torcida ajuda, mas não ganha Copa do Mundo. Os apoiadores da França em 2018 e da Alemanha em 2014 estavam longe de ser os mais animadas, mas saíram com os maiores sorrisos no final.

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