Nos dias atuais, com a força adquirida pelo universo virtual, existe de tudo na internet, inclusive memes que brincam sobre CPF e CNPJ. Assim, se fosse possível tirar uma “licença poética” sobre o tema e levá-la para a Fórmula 1, pode-se afirmar que Lewis Hamilton é o principal CPF vinculado à categoria nos últimos anos, enquanto a Ferrari é, já há várias décadas, o principal e mais tradicional CNPJ. No início desta semana, o principal CPF e o principal CNPJ se uniram de maneira oficial, e o resultado disso, em poucos dias, já é ainda maior do que se esperava desde o anúncio do acordo do heptacampeão mundial com a escuderia, feito em fevereiro de 2024.
Não é novidade para ninguém que, esportivamente, a chegada de Hamilton à Ferrari seja comparada à de Michael Schumacher, que fez história pela equipe italiana entre o final da década de 1990 e principalmente a primeira metade da década de 2000. No entanto, o alemão chegou a Maranello em 1996 sendo “apenas” bicampeão mundial (viria a conquistar seus outros cinco títulos entre 2000 e 2004 como piloto da Ferrari) e em uma época que não existia o digital e a força desse universo para alavancar a parceria.
Agora, é diferente. Hamilton chega à Ferrari aos 40 anos, já heptacampeão mundial, mais do que consagrado, e com todo o canhão das redes sociais no auge. Assim, além de histórica, trata-se de uma parceria verdadeiramente bombástica, que ultrapassa o automobilismo, alcança outros segmentos como moda e ativismo social, e cujo processo pode ser acompanhado nas redes sociais em um trabalho meticuloso feito por piloto e equipe em conjunto, e que tenta respeitar cada identidade e cada marca individual.
“Quando você junta o maior campeão da história da Fórmula 1 com a equipe que é a maior vencedora da história, isso por si só já tem força suficiente para fazer história a partir do primeiro dia”, afirmou Fabio Seixas, jornalista especializado em automobilismo, atualmente na LiveMode, em entrevista à Máquina do Esporte.
“Mas acho que o mais importante são as duas trajetórias. A Ferrari, com tudo que ela representa para a Fórmula 1, estando presente desde o primeiro campeonato em 1950. É uma paixão, é uma marca que supera fronteiras, que é global, a maior marca do automobilismo mundial. E o Hamilton, que também rompeu barreiras, que hoje é muito mais que um piloto. Ele não é conhecido só por ser piloto. É um cara que faz questão de ser muito mais que um piloto. A junção dessas duas histórias tem um potencial enorme”, completou.
Cronologia
No último domingo (19), o perfil da Scuderia Ferrari postou um vídeo em que um despertador chega até as 16 horas e 44 minutos para marcar o momento da chegada do novo ídolo. Uma ação exclusiva, que já contemplou a marca da HP, uma das maiores patrocinadoras da equipe neste momento, e o número 44, que é utilizado pelo piloto em seus carros.
Na segunda-feira (20), Hamilton chegou a Maranello trajado de forma impecável, com terno e sobretudo pretos, sendo recebido com requinte na sede da Ferrari, o que gerou uma gama de análises semióticas sobre toda a composição da cena.
E aqui um número impressiona. Um recorde, na verdade. A primeira foto divulgada (Hamilton em Maranello, de terno e sobretudo, em frente a um modelo F40) tanto no perfil do piloto como no da equipe já ultrapassou 5,5 milhões de curtidas. Isso faz dela a postagem relacionada à principal categoria do automobilismo mundial com mais curtidas da história do Instagram.
Antes, esse recorde pertencia a uma foto publicada por Chales Leclerc após vencer o GP da Itália, em Monza, no ano passado, com a pista tomada por torcedores da Ferrari. A imagem conta com 4,6 milhões de curtidas.
“A foto do Hamilton chegando a Maranello ser a mais curtida da história da Fórmula 1 no Instagram é só o começo”, enfatizou Fabio Seixas.
Seguindo a cronologia
Nos dias seguintes, foram diversas postagens da visita de Hamilton à fábrica e aos escritórios. Em todas, é perceptível a recepção preparada nos mínimos detalhes. Nas fotos com o macacão, há amplo destaque para todos os patrocinadores do time.
Na sequência, foi revelada a troca do capacete. Sim, Hamilton mudou totalmente a cor do capacete que vinha usando. A peça agora é totalmente amarela. Isso talvez cause estranheza para quem sempre relaciona a Ferrari à cor vermelha, mas é preciso que se diga que a cor de Maranello é o amarelo, basta lembrar a tradicional logomarca do cavalo rampante.
Por fim, a cereja do bolo: Hamilton na pista. Os tifosi, como são conhecidos os fãs da Ferrari, finalmente puderam comemorar o heptacampeonato a bordo de um carro da escuderia. Detalhe: um posto Shell, que sempre esteve ali, é destacado, e mais uma entrega é feita para um patrocinador.
Enfim, dá para perceber a grandiosidade da campanha que foi planejada e discutida com diversos envolvidos, tanto da escuderia como da própria equipe do piloto.
Digital
Atualmente, apenas no Instagram, Lewis Hamilton possui 39 milhões de seguidores. É disparado o líder entre todos os envolvidos com a Fórmula 1. Atual tetracampeão da categoria, Max Verstappen, por exemplo, tem um terço disso (13,5 milhões). O segundo da lista é justamente o companheiro do britânico na Ferrari, o monegasco Charles Leclerc, com 17,4 milhões, ou seja, menos da metade.
O perfil da Ferrari (a marca), por sua vez, conta com 31 milhões, enquanto o da Ferrari (a escuderia) tem 17,2 milhões. Já a Fórmula 1 possui 32,4 milhões.
Sim, Lewis Hamilton tem muitos milhões de seguidores a mais que qualquer piloto, que a própria equipe que passou a defender, que a própria marca que passou a vestir e que a própria categoria em que atua há quase duas décadas.
E isso fica ainda mais impressionante ao se comparar o antes e o depois da primeira foto dele como piloto da Ferrari. Aquela do recorde mencionada anteriormente.
Impulso
Em 10 de janeiro, mais de uma semana antes da foto, Lewis Hamilton tinha 38,5 milhões de seguidores. Nesta sexta-feira (24), cinco dias após a postagem e o início de todo o trabalho de comunicação feito para divulgar a oficialização da parceria, já são 39 milhões. Um aumento de 500 mil seguidores.
No perfil da equipe, em 10 de janeiro, eram 16,9 milhões de seguidores. Em 24 de janeiro, o número saltou para 17,2 milhões. Um crescimento de 300 mil seguidores.
Ou seja, no total, foram 800 mil seguidores a mais angariados, número muito difícil de ser alcançado. Ainda mais em tão pouco tempo.
“A Ferrari é maior que a Fórmula 1, uma equipe que é maior que o evento. E o Hamilton, com tudo que ele fez pelo ativismo e os números que ele já tem, com recorde de títulos ao lado do Schumacher, ele se transformou em um piloto que transcende a fronteira do esporte. No século XXI, ele já é um dos principais ícones esportivos”, disse Luis Ferrari, sócio-fundador da Ferrari Promo, agência-boutique com ênfase no mercado do esporte a motor, empresário de relações públicas e diretor de marketing e comunicação do Club Athletico Paulistano, além de colunista da Máquina do Esporte.
“Aí, obviamente, a junção dos dois potencializa tudo ao extremo. É bom para a Ferrari, é bom para a Fórmula 1, é bom para o esporte a motor como um todo e até para a indústria esportiva em geral. Vale lembrar que, há quase um ano, quando foi anunciada a ida do Hamilton para a Ferrari, houve uma subida expressiva das ações da marca italiana. Foi um reconhecimento imediato, uma apreciação imediata do mercado, e agora a gente está vendo isso na prática”, acrescentou.
Por fim, para se ter uma ideia do impacto da parceria Hamilton/Ferrari: nos últimos 12 meses, o perfil do piloto teve um crescimento de 2,7 milhões de seguidores, portanto uma média de 225 mil por mês. Agora, em um período de apenas duas semanas, foram 500 mil seguidores a mais.
De 10 a 24 de janeiro, entre os 20 pilotos que estarão na temporada 2025 da F1, ninguém cresceu como Hamilton. Aliás, apenas outros quatro tiveram crescimento, sendo todos eles novatos (Gabriel Bortoleto, Liam Lawson, Jack Doohan e Isack Hadjar). Os quatro, somados, alcançaram a marca de 43 mil novos seguidores. Juntos, eles são seguidos por pouco mais de 2,4 milhões de fãs no total.
Sim, falta só um pouquinho para alcançar 39 milhões.