Um número alarmante de 41% dos jogadores negros dos principais campeonatos do país contaram que já sofreram racismo, de acordo com uma pesquisa do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, realizada em colaboração com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Nike.
O levantamento abordou questões de raça, religião, orientação sexual e origem, envolvendo 508 profissionais do futebol brasileiro atuantes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro Masculino, além das Séries A1 e A2 do Feminino em 2023. A pesquisa foi aplicada entre julho e agosto deste ano, com atletas, comissões técnicas, staffs dos clubes e arbitragem.
Entre os dados considerados alarmantes, o relatório destacou que 53,9% dos ataques racistas ocorreram em estádios e 31% nas redes sociais. A pesquisa também revelou desafios enfrentados pela comunidade LGBTQIAP+ no futebol, bem como a necessidade de mais inclusão de mulheres no esporte.
“O levantamento é um recorte sobre os efeitos nocivos do racismo. Com esse diagnóstico, vamos trabalhar ainda mais para banir essas e outras práticas discriminatórias do futebol, seja dentro ou fora dos campos”, afirmou Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF.
“Não podemos tolerar o racismo, o medo e a discriminação. Que cada vitória no combate a esse, que é um mal global, possa reverberar não só na cadeia do futebol brasileiro, mas em toda a sociedade”, acrescentou o mandatário.
Religião e sexo
Cerca de 11,4% dos participantes mencionaram incidentes em centros de treinamento e concentrações, mostrando que o problema não está limitado aos jogos de futebol. Aproximadamente 4,23% dos entrevistados não têm afiliação religiosa específica, enquanto 5,08% se identificam com candomblé e umbanda. Apenas 2,75% dos seguidores dessas religiões de matriz africana sentem que suas crenças são respeitadas.
Apenas 1% dos entrevistados se identificaram como homossexuais ou bissexuais. Em relação a isso, a pesquisa indica que 61% dos incidentes de homofobia relatados são atribuídos diretamente à torcida, com 36% provenientes da torcida adversária e 25% da própria torcida do time. O relatório também constatou que 21,06% dos participantes mencionaram ter experienciado xenofobia. No entanto, somente 3% optaram por denunciar tais comportamentos.
Dentro do total de participantes, 28% são mulheres. Destas, 57% são atletas, enquanto 35% desempenham funções como treinadoras, assistentes, dirigentes, pessoal de assessoria e membros da equipe médica, todos dentro do cenário do futebol feminino.
Somente 8% delas estão envolvidas no futebol masculino, principalmente em áreas como comunicação e saúde. Em contrapartida, 18% dos homens estão engajados em diversas posições nas divisões do Brasileirão Feminino. Essa distribuição evidencia que quase metade (precisamente 45%) das pessoas atuando nas Séries A1 e A2 do Feminino são do sexo masculino.
“A fotografia dos times de futebol no Brasil nos apontava para um espaço democrático e com a grande presença de atletas negros. No entanto, o percentual de atletas era uma questão que o Observatório sempre quis saber, e esse levantamento foi a oportunidade para conhecermos esses dados”, afirmou Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
“Os dados desse levantamento certificam nossa desconfiança de que o futebol brasileiro está longe de ser um local democrático e com respeito às diferenças”, ressaltou Carvalho.