A três meses da Copa do Mundo, Catar deporta operários que protestaram por não receber salário

A três meses do início da Copa do Mundo 2022, o Catar deportou 60 trabalhadores migrantes que protestaram contra salários não pagos. Alguns disseram que ficaram até sete meses sem receber. As deportações foram divulgadas pela ONG Equidem, especializada em direitos trabalhistas.

Os trabalhadores fizeram um protesto do lado de fora dos escritórios da Al Bandary, uma empresa de construção e engenharia, no último dia 14. Isso foi o suficiente para que o governo do Catar decidisse pela deportação desses trabalhadores.

O poder público catariano justificou a expulsão à BBC com o argumento de que os operários “violaram as leis de segurança” do país. O governo também informou que pagaria todos os salários atrasados dos trabalhadores afetados.

Sistema kafala

Para a construção dos estádios, um novo aeroporto e outras edificações relacionadas à Copa do Mundo, o Catar contou com a vinda de milhares de trabalhadores migrantes, principalmente de países pobres do Sudeste da Ásia, como Índia, Nepal, Bangladesh e Paquistão.

Para concluir uma transformação radical em Doha, capital do país, o governo catariano gastou cerca de US$ 220 bilhões em obras de infraestrutura. A obtenção do status de sede do Mundial da Fifa, em 2010, porém, foi acompanhada por denúncias sobre o péssimo histórico de respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas no país.

Apenas em 2017 o Catar aboliu o sistema kafala para a contratação de trabalhadores. Mas, segundo seguidas denúncias de ONGs de direitos humanos e veículos de comunicação, a prática se mantém no país.  

Por esse sistema, para atuar no Catar, todo trabalhador migrante não qualificado era obrigado a contar com o “patrocínio” de alguém, geralmente seu empregador, que é responsável pelo visto. Com isso, muitas empresas confiscavam o passaporte dos operários que tinham direitos escassos e viviam em um regime de semiescravidão.

Segundo a Human Rights Watch, essa empresa patrocinadora conquista “poderes descontrolados sobre os trabalhadores migrantes, permitindo-lhes escapar da responsabilidade por abusos trabalhistas e de direitos humanos, e deixa os trabalhadores endividados e com medo constante de retaliação”.

Mortos nas obras

No ano passado, o diário britânico The Guardian informou que 6.500 trabalhadores migrantes morreram em obras de construção e infraestrutura relacionadas à Copa do Mundo desde 2010. O número foi desmentido pelo governo do Catar, mas a reportagem gerou uma onda de protestos no mundo.

Recentemente, a Human Rights Watch e outras ONGs pediram à Fifa e ao Catar que criem um fundo de compensação de pelo menos US$ 440 milhões, o equivalente ao prêmio em dinheiro que será distribuído na Copa do Mundo, destinado a trabalhadores migrantes e suas famílias que sofreram abusos de direitos humanos.

Até agora, poucos dirigentes se pronunciaram a respeito do problema. Uma das exceções foi Lise Klaveness, presidente da Associação Norueguesa de Futebol, país que não está na Copa do Mundo. A dirigente criticou as violações de direitos humanos, trabalhistas e a opressão contra a comunidade LGBTQIAP+ no país durante um Congresso da Fifa.

Sair da versão mobile