Agronegócio vai a campo em busca de visibilidade no esporte nacional

Com um peso considerável na economia brasileira, o agronegócio contribuiu com 24,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado, e foi responsável por US$ 159 bilhões das exportações do país em 2021. Em meio a esse cenário de expansão, o segmento tem procurado fincar cada vez mais suas estacas em um outro campo: o dos esportes.

Nos últimos tempos, multiplicam-se os casos de corporações com forte presença nessa cadeia produtiva, patrocinando clubes e eventos esportivos. O exemplo mais notório talvez seja o do Cuiabá, em que a presença do agro não se limita às parcerias comerciais propriamente ditas.

Sediado na capital do estado que abriga cinco dos dez municípios que mais plantam e colhem soja no Brasil (incluindo Sorriso, líder do ranking e que produz mais de 2,3 milhões de toneladas desse grão, um dos principais itens de exportação do país), o clube mato-grossense da Série A do Brasileirão adota inclusive um carro-maca em forma de colheitadeira, que se tornou uma das atrações dos jogos da equipe na Arena Pantanal.

Carro-maca do Cuiabá tem formato de colheitadeira – Divulgação / Agro Amazônia

Em abril deste ano, o Cuiabá renovou contrato de patrocínio com a Agro Amazônia, empresa do Grupo Sumitomo, do Japão, que conta com 61 filiais em nove estados e apoia o clube desde sua chegada à Série A do Brasileirão em 2021. O novo acordo garantiu à companhia o direito de estampar sua logomarca no carro-maca-colheitadeira do time mato-grossense.

Série A

Atualmente, os patrocínios de camisa de empresas da cadeia produtiva do agro são muito mais comuns na Série B, em que há casos de companhias do segmento ocupando os espaços mais nobres dos uniformes, do que na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Mas as parcerias também estão presentes na Série A. O Grêmio, por exemplo, possui patrocínio dos Fertilizantes Piratini, do Grupo Fertipar, que conta com três fábricas no Rio Grande do Sul, sendo duas em Porto Alegre e uma em Rio Grande.

Outra marca do agronegócio teve papel fundamental para ajudar a viabilizar uma das principais jogadas de marketing do clube nas últimas temporadas: a contratação do atacante uruguaio Luis Suárez. O Arroz Prato Fino foi uma das empresas que assumiram o compromisso de contribuir com recursos para o pagamento do salário mensal de R$ 1,5 milhão do craque.

Também na Série A, o Goiás firmou neste ano parceria com o Vascafé, empresa localizada na cidade goiana de Quirinópolis. O Athletico-PR, por sua vez, possui contrato com a Copacol, cooperativa que atua principalmente nos ramos de carne e leite, e cuja sede fica na cidade de Cafelândia (PR). A empresa, que tem forte presença no varejo com a venda de aves e peixes congelados, estampa sua logomarca na região da clavícula da camisa do Furacão.

Série B

Na Série B, os patrocínios do agronegócio são ainda mais notórios. Uma das razões para isso é que boa parte dos times são ou de cidades do interior ou de estados onde esse segmento possui um peso maior na economia.

É o caso do Novorizontino, terceiro colocado na classificação geral do campeonato e que tem patrocínio máster do Açúcar Santa Isabel, marca de um grupo sucroenergético localizado na própria cidade paulista de Novo Horizonte.

A Chapecoense é outro exemplo. Sediado em um dos principais polos de produção de aves e suínos do país, o clube tem patrocínio máster justamente de uma empresa do ramo de frigoríficos, a Aurora.

O Vila Nova, quarto colocado da Série B, tem um empresa de apostas (Esportes da Sorte) ocupando o principal espaço de sua camisa. No entanto, o clube de Goiás estampa na barra frontal inferior de seu uniforme a marca Sinhá, pertencente ao grupo paranaense Caramuru, que é um dos maiores processadores de grãos do país e tem atuação no Paraná, Mato Grosso e São Paulo.

Fórmula 1 e Rally dos Sertões

A presença das empresas do agronegócio também se faz sentir em outras modalidades, como nos esportes a motor. O Grupo Raízen, que detém a licença da marca Shell no Brasil, na Argentina e no Paraguai, aproveitou o Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 do ano passado para promover ações de relacionamento com clientes e parceiros.

A marca da Raízen também sorteou ingressos para a etapa brasileira da principal competição do automobilismo mundial, realizada em novembro do ano passado.

Outro exemplo de competição a motor que tem patrocínio do agronegócio é o Rally dos Sertões. A edição 2023 passou a contar com uma parceria com a multinacional indiana UPL.

A empresa investe em diversas plantações na Bahia, que se tornou um dos principais polos de plantio de algodão para exportação no Brasil. Entre as razões que levaram a empresa a patrocinar o Rally dos Sertões está também o fato de o percurso passar pelo estado do Nordeste, próximo a algumas dessas unidades produtoras da fibra vegetal. No ano passado, a UPL foi uma das patrocinadoras da Copa do Mundo realizada no Catar.

Exemplos históricos

A presença de corporações do agronegócio investindo no esporte é um fenômeno que vem crescendo nos últimos tempos no Brasil, sobretudo na medida em que a cadeia produtiva do setor vai se tornando cada vez mais complexa e ampliando sua participação no varejo, com marcas que disputam no mercado a atenção e a preferência do consumidor.

Em muitos casos, esse tipo de patrocínio também auxilia na construção, junto ao público, de uma imagem positiva da empresa e da atividade que ela desempenha (mesmo diante de eventuais impactos sociais e ambientais que ela possa ocasionar).

Ainda que hoje os patrocínios do agro tenham ganhado um caráter mais sistemático e profissionalizado, algumas tentativas feitas pelo setor em um passado mais distante acabaram por se tornar célebres. Mesmo que tenham sido um tanto efêmeras, merecem ser lembradas.

Um desses exemplos mais notórios é o contrato firmado em 1961 entre o extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), autarquia do Governo Federal que existiu de 1952 a 1989 e definia as políticas do produto no país, e o Rei Pelé.

O jogador, que faleceu aos 82 anos de idade no fim do ano passado, era pago para ser fotografado apreciando o café brasileiro, em imagens que depois eram enviadas para o mundo todo. De 1979 a 1983, quando Pelé já havia pendurado as chuteiras no país, o IBC foi patrocinador da própria seleção brasileira.

Nesse caso do IBC, por mais que os produtores tivessem influência sobre as ações e decisões do órgão, o que se tinha na prática era o Governo Federal pagando para promover um produto agrícola brasileiro e não necessariamente empresários ou fazendeiros patrocinando diretamente o esporte.

A relação de Pelé com a agroindústria passaria a ser mais direta na década de 1970, quando ele assinou contrato com a Cacique Alimentos, cedendo seu nome para a criação da marca de café da empresa. A linha solúvel passou a ser exportada para 50 países. Em 2017, os direitos de licenciamento do Café Pelé foram vendidos à JDL, da Holanda.

Um outro caso que marcou época foi a parceria da Copersucar, cooperativa brasileira de usinas de açúcar e etanol, com a Escuderia Fittipaldi, dos irmãos e pilotos Emerson e Wilson, iniciada em 1974 e que resultou no lançamento do primeiro carro brasileiro de Fórmula 1.

O patrocínio da empresa ao projeto na categoria durou até 1979, quando ela decidiu encerrar o contrato, sendo substituída pela cerveja Skol.

Sair da versão mobile