Anistia Internacional denuncia jornadas de 12h sem folga de seguranças no Catar

Um novo relatório da Anistia Internacional revelou que os seguranças envolvidos em projetos ligados à Copa do Mundo do Catar 2022 vêm sendo submetidos a condições próximas ao “trabalho forçado”. A ONG de direitos humanos pede para a FIFA agir em relação ao problema.

O relatório de 74 páginas é intitulado “Eles pensam que somos máquinas”. Nele, a Anistia Internacional divulgou o relato de 34 empregados atuais ou ex-funcionários de oito empresas de segurança privada do Catar mostrando abusos como submeter os empregados a jornadas de 12 horas durante meses sem um dia de folga sequer.

“Os seguranças, todos trabalhadores imigrantes, descreveram que trabalhavam cotidianamente 12 horas por dia, sete dias por semana, muitas vezes por meses ou anos sem um dia de folga. A maioria disse que seus chefes se recusavam a respeitar o dia de descanso semanal exigido pela lei trabalhista do Catar”, afirmou a ONG, no relatório.

“Os trabalhadores que tiravam um dia de folga eram punidos, com redução salarial arbitrária. Um homem descreveu seu primeiro ano no Catar como ‘a sobrevivência dos mais capacitados’”, acrescentou o informe.

Os abusos não se limitaram a quem tirou um dia de folga. Houve guardas que contaram terem sofrido desconto no salário por ir ao banheiro.

“Os empregadores ainda estão explorando seus trabalhadores à vista de todos. As autoridades do Catar devem tomar medidas urgentes para proteger os trabalhadores e responsabilizar os violadores”, pediu Stephen Cockburn, chefe de justiça econômica e social da Anistia Internacional.

“Muitos dos seguranças com quem conversamos sabiam que seus patrões estavam infringindo a lei, mas se sentiam impotentes para desafiá-los. Fisicamente e emocionalmente exaustos, os trabalhadores continuaram a se apresentar sob ameaça de punição financeira. Ou pior, rescisão do contrato de trabalho e deportação”, completou Cockburn.

Na semana passada, a FIFA organizou seu Congresso e o sorteio dos grupos da Copa em Doha, capital do Catar. O país ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo em 2010. Desde então, o local enfrenta críticas por seu histórico de violação de direitos humanos e péssimo tratamento dado aos trabalhadores.

“Com a Copa do Mundo a apenas alguns meses, a FIFA deveria se concentrar em fazer mais para evitar abusos no setor de segurança privada potencialmente perigoso. Ou verá o torneio se tornar ainda mais marcado por abusos”, comentou o dirigente da Anistia Internacional.

Cockburn disse acreditar que a entidade que comanda o futebol mundial tem condições de fazer pressão para que as condições de trabalho melhorem para os imigrantes no Catar.

“A FIFA também deve usar sua influência para pressionar o Catar a implantar melhor suas reformas e fazer cumprir as leis. O tempo está se esgotando rapidamente. Se as melhores práticas não forem estabelecidas agora, os abusos continuarão por muito tempo depois que os torcedores voltarem para casa”, criticou o diretor da ONG.

A FIFA respondeu às denúncias de forma lacônica, dizendo que “não aceita nenhum abuso de trabalhadores por empresas envolvidas na preparação e entrega da Copa do Mundo”. Segundo a Anistia Internacional, mais de 6.500 trabalhadores já morreram durante a construção das obras para o Mundial de 2022 por conta das péssimas condições de trabalho oferecidas. Patrocinadores da FIFA já fizeram pressão para que a entidade tomasse providências

“Após vistorias durante o Mundial de Clubes e a Copa Árabe, foram identificadas as empreiteiras que descumpriram as normas exigidas, e os problemas encontrados foram solucionados no local”, afirmou a FIFA.

O Comitê Supremo de Entrega e Legado, organizador da Copa, afirmou que decidiu não renovar contratos com algumas empresas.

“Infelizmente, três empresas foram consideradas incompatíveis em várias áreas durante a Copa do Mundo de Clubes de 2020 e a Copa Árabe de 2021. Essas violações foram completamente inaceitáveis ​​e levaram à aplicação de uma série de medidas, incluindo a colocação de empreiteiros em uma lista de vigilância ou lista negra para evitar que eles trabalhassem em projetos futuros, incluindo a Copa do Mundo da FIFA, antes de denunciá-los ao Ministério do Trabalho”, afirmou o comitê.

Apesar disso, o Ministério do Trabalho do Catar condenou o relatório da Anistia Internacional. A pasta acusou a organização e seu relatório de destacar, de maneira seletiva, “um pequeno número de casos em que as violações persistem”. Em nota, o ministério afirmou que a ONG “ignora o impacto positivo para toda a população das reformas no Catar”.

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