O Sport é mais um clube importante do futebol brasileiro que estuda seguir o modelo de criação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), estratégia que já rendeu frutos em times como Cruzeiro, campeão da Série B do Brasileirão, e Botafogo, que conquistou vaga para a Copa Sul-Americana 2023.
“Ao longo do segundo semestre do ano passado, começamos a ver a formação das SAFs no Botafogo, no Cruzeiro e começamos a olhar de perto essa situação, vendo o que estava ocorrendo”, contou Yuri Romão, presidente do Sport, em entrevista à Máquina do Esporte.
Antes de pensar em um modelo de SAF, o clube pernambucano passou por um processo de reestruturação administrativa. Houve a contratação da Win The Game, que realizou um levantamento sobre a torcida do Sport e sua relação com o time. A empresa também realizou um projeto de melhoria na gestão e governança do clube.
Dívidas
Em conjunto com a Ernst Young (EY), também houve uma auditoria para saber o montante das dívidas do Sport. De acordo com o relatório XP/Convocados, considerando o balanço de 2021, o time pernambucano tinha dívida total de R$ 195 milhões. Segundo Romão, porém, o montante é um pouco maior.
De acordo com o dirigente, o time deve aproximadamente R$ 100 milhões em ações trabalhistas, R$ 115 milhões em dívidas com a Receita Federal e o INSS, R$ 20 milhões com transferências de atletas e R$ 60 milhões na área cível, que engloba débitos com fornecedores e todas as dívidas que não se enquadram nas demais áreas.
“Tudo junto dá cerca de R$ 300 milhões. Se negociadas, as dívidas fiscais podem ser reduzidas de R$ 115 milhões para R$ 50 milhões. Na área trabalhista, tem que aguardar a finalização dos processos. De todo o dinheiro que entra no clube, 20% vão para esse departamento. À medida que vão sendo julgadas as ações, o dinheiro já está lá para ir pagando”, revelou Romão.
“A ideia é terminar o próximo ano com o número mínimo de causas trabalhistas em aberto”, acrescentou o mandatário.
Interesse de investidores
Para o dirigente, não é o montante das dívidas que assustaria o interesse de potenciais investidores, mas sim o desconhecimento sobre elas.
“Como venho do mercado financeiro, entendo que qualquer investidor quer saber como estão as contas do clube. Podem ser negativas, mas querem números reais”
Yuri Romão, presidente do Sport
“A intenção com a vinda de EY, Win The Game e outras auditorias foi colocar de pé uma estrutura administrativa para que qualquer investidor pudesse ter certeza de estar com números fidedignos”, complementou o dirigente.
Processo interno
De maneira semelhante ao que já aconteceu com outros clubes, será o Conselho Deliberativo do Sport quem iniciará as discussões sobre a possível montagem de uma SAF. Aprovada pelo setor, o passo seguinte seria a aprovação pela Assembleia dos sócios do time. Essas discussões, no entanto, devem começar apenas no ano que vem.
“A partir do momento em que o Conselho Deliberativo acreditar que o caminho é a criação da SAF, vamos iniciar esse trabalho”
Yuri Romão, presidente do Sport
Segundo o dirigente, seis potenciais investidores já o procuraram. Desses, três são estrangeiros e três brasileiros. Dos nacionais, porém, dois estão em consórcio com empresas internacionais. Apenas um é de capital totalmente nacional.
“Com todos, eu aceito conversar e passar as informações que precisam. Mas tudo isso vai passar ainda por um grande debate interno a partir de 2023, quando a nova gestão se inicia. Teremos um Conselho formado para debater esse assunto, de forma séria, tranquila, os prós e contras”, afirmou Romão.
Eleições
Antes de iniciar discussões sobre SAF, o Sport terá eleições na próxima sexta-feira (16). Romão, que é candidato à reeleição na chapa Sport do Futuro, terá um forte oponente pela frente: o deputado federal Luciano Bivar (União Brasil), à frente da chapa Lealdade ao Sport.
Bivar conseguiu confirmar a candidatura graças a uma decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco nesta segunda-feira (12). Inicialmente, a candidatura havia sido impugnada pela Comissão Eleitoral do Sport, alegando que, pelo artigo 116 do estatuto do time, um dirigente não pode ser candidato a um cargo executivo no clube no mesmo momento em que ocupa um cargo público.
Bivar foi um dos principais apoiadores da candidatura de Jair Bolsonaro à presidência em 2018. À época, o deputado federal pelo Rio de Janeiro se candidatou pelo PSL, então partido de Bivar.
Em 2022, o político pernambucano se tornou um dos líderes da fusão do PSL com o Democratas, que gerou o atual União Brasil. Agora, Bivar é presidente do partido, que lançou a senadora Soraya Thronicke como candidata à presidência nas últimas eleições.
Contudo, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição, Bivar se aproximou do presidente eleito e chegou a declarar, em entrevista à Folha de S.Paulo, que não faria oposição “de jeito nenhum”, embora divergisse das ideias econômicas de Lula.
O União Brasil possui bastante peso no Congresso Nacional, sendo o terceiro partido com mais deputados federais (59) e a terceira maior bancada no Senado (10), empatado com o MDB.