Depois de ser trocada pela Nike na seleção alemã, dando fim à mais duradoura relação de fornecimento de material esportivo da história do futebol mundial, de mais de 70 anos, a Adidas viu-se envolvida em uma polêmica envolvendo o uniforme que será usado pelo time na Euro 2024.
O evento esportivo organizado pela União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) será realizado na Alemanha, de 14 de junho a 14 de julho. Como o contrato da Nike com a seleção alemã terá início apenas em 2027, coube à Adidas elaborar o uniforme que será usado no torneio continental deste ano.
O lançamento do novo modelo ocorreu dias depois do anúncio do acordo entre a Federação Alemã de Futebol (DFL) e a Nike. Tudo corria bem, até que usuários perceberam uma peculiaridade na fonte utilizada pela Adidas para grafar os números nas camisetas.
Alguns deles resolveram personalizar a nova camisa com o número 44 e notaram uma grande semelhança com as letras “S”, grafadas no alfabeto rúnico conhecido como Futhark recente, que era utilizado pelos povos germânicos na Idade Média, especialmente na Escandinávia.
Os dois “S” em estilo rúnico foram o símbolo adotado pela Schutzstaffel, conhecida pela sigla SS e que era a tropa de choque do Partido Nazista, que governou a Alemanha entre 1933 e 1945.
Famoso por seus métodos violentos, o grupo esteve à frente de diversas atrocidades como o deslocamento de judeus para campos de concentração, além de haver sido escolhido para implementar a chamada Solução Final, que resultou no extermínio de milhões de pessoas durante o Holocausto.
Assim que o problema foi notado, depois que usuários compartilharam imagens da personalização on-line nas redes, a Adidas decidiu bloquear a opção com o número 44 em sua plataforma de vendas.
Nesta segunda-feira (1º), a DFL anunciou que o número 4 seria refeito, de modo a evitar que a polêmica permaneça.
A memória do Holocausto e o combate ao uso de símbolos nazistas são temas que ultrapassam o campo da moral na Alemanha.
A utilização de emblemas ligados a essa ideologia de extrema-direita, como a suástica, a saudação a Hitler ou mesmo o símbolo da SS, é proibida no país.
O tema é tão sensível na Alemanha que chega a afetar até mesmo os nomes com que os pais batizam seus filhos. Embora não exista uma lei que proíba expressamente um bebê de se chamar Adolf (sem o sobrenome Hitler), as autoridades responsáveis pelo registro civil podem recusar esse prenome, caso notem que a escolha tem o objetivo de promover ideologias supremacistas de direita.
Na década de 1930, Adolf chegou a ser um dos nomes mais populares da Alemanha, mas passou a sofrer rejeição antes do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando a derrota do país se tornava cada vez mais evidente.
Após a derrocada do nazismo, o prenome caiu em desgraça e mesmo pessoas nascidas muito antes da instituição do regime autoritário passaram a evitar usá-lo.
Coincidentemente, Adolf era o nome do fundador da Adidas, que preferia ser chamado pelo diminutivo Adi. A denominação da empresa veio justamente da fusão do apelido com as letras iniciais de seu sobrenome, Dassler.