O racha provocado na Liga do Futebol Brasileiro (Libra) pela decisão do Flamengo de questionar judicialmente o modelo de divisão dos recursos pagos pelo Grupo Globo resultou na primeira baixa no bloco.
O Atlético-MG anunciou, nesta terça-feira (28), que deixará a Libra e migrará para a Liga Forte União (LFU), da qual o Galo fez parte, quando o grupo ainda se denominava Forte União.
No comunicado, a equipe mineira não cita nominalmente o Flamengo, embora nas entrelinhas a referência seja mais do que clara.
“O Galo acredita que atitudes individualistas comprometem o diálogo e enfraquecem o propósito comum. O desenvolvimento do futebol só é possível por meio da cooperação entre os clubes”, diz a nota.
“A conduta sorrateira e mesquinha da atual gestão do Flamengo mina a relação de confiança estabelecida entre os clubes e, por consequência, enfraquece todo o futebol brasileiro”, declarou o Atlético-MG, à época.
Crise na Libra
O objetivo declarado do Atlético-MG, ao deixar a Libra rumo à LFU, seria o de contribuir “decisivamente para a criação de uma liga unificada no Brasil”.
O clube alega que a “a LFU oferece a estrutura sólida para que esse modelo se concretize, combinando governança consistente, união de ideais, visão de longo prazo, incentivos à cooperação saudável e processos profissionais, em linha com as melhores práticas dos principais mercados esportivos do mundo”.
Na prática, a decisão do clube reflete o momento de incerteza que acomete a Libra, desde que teve início a gestão do atual presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap.
Apesar de já haver garantido, por mais de uma vez, que não pretende deixar o bloco (não antes do fim do contrato de direitos de transmissão, que ficará em vigor até 31 de dezembro de 2029), o dirigente é crítico declarado do modelo de divisão adotado pelo grupo.
Com base nos valores que o clube recebia pelos direitos de transmissão da Série A do Brasileirão no antigo contrato de mídia (R$ 300 milhões, contra os quase R$ 200 milhões hoje em vigor), Bap argumenta que o Flamengo estaria sofrendo prejuízo anual de R$ 103 milhões.
A queixa do presidente rubro-negro reside no modo como a Libra distribui o percentual de 30%, com base no critério de audiência. O clube afirma que o bloco não teria estabelecido uma norma prévia e clara para essa divisão de receitas.
O bloqueio dos recursos pagos pelo Grupo Globo, em decorrência da liminar obtida pelo Flamengo, comprometeu o fluxo de pagamentos dos demais membros do bloco.
O impacto se faz sentir com mais força em equipes que estão altamente endividadas, caso do Atlético-MG, cujo total declarado de passivos alcança R$ 1,3 bilhão (embora existam estimativas, como a do Relatório Convocados/Outfield, de que o valor estaria em R$ 2,3 bilhões).
No mês passado, o Conselho Deliberativo do Atlético-MG aprovou a mudança na regra antidiluição da SAF, permitindo a redução do percentual de capital do clube associativo dos atuais 30% para um limite de 10%. A medida é vista como uma forma de atrair novos investidores e equilibrar as contas da equipe.
Futuro incerto para a Libra
O clube comunicou que venderá parte de seus direitos econômicos relacionados à Série A do Brasileirão para o Sports Media Entertainment, fundo que opera junto à LFU.
Mesmo com a mudança de bloco, o Atlético-MG informou que respeitará os contratos em vigor firmados na Libra e que são válidos até 2029.
A saída do clube amplia o cenário de incertezas para a Libra, que, no passado, chegou a contar com os clubes de maior torcida do país, mas hoje apresenta sinais de que está em vias de derreter.
O Flamengo de Bap, por exemplo, já se movimenta para negociar individualmente seus direitos de mídia, a partir de 2030. O dirigente inclusive tentou envolver nessa empreitada o Corinthians, time que tem a segunda maior torcida do Brasil e que atualmente está na LFU (representando o grande trunfo do bloco nas negociações com as empresas de comunicação).
Além da saída do Atlético-MG, existem rumores de uma possível debandada do Vitória, que foi o único integrante da Libra a não se posicionar na polêmica com o Flamengo no mês passado.
Sem o Galo, a Libra deixa de ter representantes em Minas Gerais, estado que possui a segunda maior população do Brasil, já que o Cruzeiro também está na LFU.
As recorrentes trocas de farpas entre Bap e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, ajudam a intensificar ainda mais o clima de racha na Libra.
Por enquanto, é difícil afirmar que a decisão do Galo seja o início da derrocada do bloco. Se for, o caminho lógico para os demais clubes, especialmente aqueles que hoje enfrentam dificuldades financeiras e não têm força para negociar individualmente, seria bater às portas da LFU.
Se essa hipótese vier a se concretizar (o que, por enquanto, não está claro), acabaria por tornar profética a declaração feita por Leila, em uma entrevista concedida à Record, no fim do mês passado.
“A minha sugestão seria nós criarmos uma outra liga e excluir o Flamengo. Acho que o Flamengo tem que jogar sozinho. Nenhum clube é maior que o futebol brasileiro. O Palmeiras não joga sozinho, o Flamengo não joga sozinho”, disse Leila.
Ao ser confrontado com a opinião da dirigente rival, Bap ironizou, chamando a fala de “narrativas tolas” e dizendo que “se o Flamengo jogasse sozinho, o dinheiro que sobraria para os outros seria muito pouco”.
