A série “Baila, Vini”, que estreou em maio deste ano na plataforma de streaming Netflix e narra a trajetória do atacante brasileiro Vinicius Júnior, do Real Madrid, vem rendendo polêmica na Espanha, mais precisamente na cidade de Valência, palco de episódios de racismo cometidos contra o atleta revelado pelo Flamengo.
Tanto o Valencia quanto autoridades locais resolveram contestar a veracidade de algumas imagens exibidas na produção documental.
A polêmica tem a ver com cenas mostradas na série, gravadas no Estádio Mestalla, em que torcedores do Valencia aparecem proferindo ofensas contra Vinicius Júnior.
As legendas usadas pelos produtores da série para essa cena trazem a frase em espanhol “mono, mono”, que em português significa “macaco, macaco”.
Segundo o jornal Marca, da Espanha, o Valencia diz ter obtido evidências audiovisuais de que os termos corretos usados pelos torcedores seriam “bobo, bobo”.
Inicialmente, com base nessa narrativa, o clube e a Jupol, entidade sindical que representa os policiais do país, exigiram que a Netflix alterasse as legendas.
De acordo com o jornal espanhol, porém, a Netflix e a Conspiração, produtora da série, recusaram-se a fazer as mudanças, alegando que a versão exibida é baseada em “fontes comprovadas”.
O clube, agora, ameaça recorrer à Justiça para alterar as legendas das cenas de “Baila, Vini”. Enquanto isso, o Conselho Audiovisual da Comunidade Valenciana (CAVC) apresentou uma queixa formal contra a série à Comissão Nacional de Mercados e Concorrência (CNMC).
O órgão acusa a produção da Netflix de incorrer em possível falta de veracidade de informações em relação ao discurso de ódio.
Muito além da série
Por mais que o Valencia e as autoridades da cidade recorram a malabarismos retóricos e se contorçam por conta da legenda usada na série da Netflix, foi no Estádio Mestalla que o problema do racismo na LaLiga ganhou repercussão global.
Em 21 de maio de 2023, durante o confronto entre Valencia e Real Madrid pelo Campeonato Espanhol, torcedores locais ofenderam Vinicius Júnior com gritos de “macaco”.
O atleta queixou-se ao árbitro Ricardo de Burgos Bengoechea, que nada fez. Em uma confusão no fim do jogo, Vini levou uma gravata do atacante Hugo Duro, do Valencia. Ao reagir à agressão, o brasileiro derrubou o espanhol.
O árbitro de vídeo Iglesias Villanueva chamou Bengoechea para analisar no VAR apenas a atitude de Vini Jr., que acabou sendo expulso de campo.
Para piorar a situação, Javier Tebas, presidente da LaLiga, praticamente culpou o jogador pelo racismo sofrido. A atitude do cartola serviu para arranhar ainda mais a imagem do Campeonato Espanhol em nível internacional.
Para contornar a crise, a LaLiga passou a adotar uma série de medidas de conscientização contra o racismo nos estádios.
A organização também firmou parceria com as autoridades espanholas, a fim de identificar e punir os torcedores envolvidos em racismo.
Em junho do ano passado, três torcedores do Valencia, que proferiram cânticos racistas contra Vinicius Júnior, foram presos e condenados a oito meses de prisão. Como parte da punição, eles também ficaram impedidos de frequentar estádios de futebol pelo período de dois anos.