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Bap questiona receitas da Libra e defende que Flamengo fique, mas lamenta ter apoiado criação do bloco

Em entrevista ao UOL, presidente do clube criticou exclusão em decisões, apontou conflitos e cobrou transparência na divisão de receitas

Luiz Eduardo Baptista, presidente do Flamengo, durante reunião do Conselho Deliberativo - Reprodução

Luiz Eduardo Baptista, presidente do Flamengo, durante reunião do Conselho Deliberativo do clube - Reprodução / Flamengo TV

Luiz Eduardo Baptista, o Bap, presidente do Flamengo, afirmou que o clube nunca cogitou sair da Libra, mas criticou a condução da liga e a falta de equilíbrio nas decisões. Em entrevista ao UOL, ele apontou que o Flamengo foi excluído de comitês e votações, mesmo tendo aberto mão de receitas em nome da construção de uma liga nacional.

“O Flamengo quer ficar na Libra. O Flamengo nunca discutiu, o Flamengo nunca aventou a possibilidade de sair. O Flamengo, muito antes de todo esse pessoal, defendeu a Lei do Mandante que trazia pra todos os clubes um valor que eles não tinham até então”, disse o dirigente.

Exclusão

Bap afirmou que o Flamengo foi impedido de participar do comitê de integração com a Liga Forte União (LFU), após votos contrários de Palmeiras e São Paulo.

“Quando você pensa em juntar Libra e Liga Forte, e você vê clubes que são, em tese, seus parceiros, acreditarem que o Flamengo não pode, ou não deve, ou eles não querem que participe de um comitê de união das ligas, quem é egoísta? Quem é excludente?”, questionou.

Segundo ele, há uma tentativa de criar uma narrativa de que o Flamengo não pensa no coletivo.

“O Flamengo abriu mão de meio bilhão de reais em cinco anos, sem nenhuma garantia de absolutamente nada”, afirmou.

Contrato

O presidente do Flamengo também criticou o contrato da Libra de venda de direitos de transmissão para a Globo, especialmente na fórmula de divisão de receitas.

“Eles apostaram o tempo inteiro que o Flamengo acabaria concordando, ainda que houvesse uma lacuna claríssima que a gente está endereçando agora, qual seja a discussão sobre a partilha dos 30% [de audiência] que havia remanescente”, contou.

“Eles ofereceram cinco cenários diferentes. Ora, quem oferece cinco cenários pra discussão de uma fórmula é porque não tinha fórmula nenhuma estabelecida”, completou.

Relações

O dirigente comentou a relação com Leila Pereira, presidente do Palmeiras, e com Julio Casares, presidente do São Paulo.

“A relação com a Leila é ótima quando você concorda com tudo que ela quer. Aí, a relação é muito boa. Tá certo? Com o Casares, a gente tem uma relação pessoal, de empatia, e da gente se dar bem de longa data. Tivemos um ou outro estresse aqui, acolá, por causa desse processo que a gente falou”, contou.

Bap, porém, rebateu as declarações de Leila, que mencionou que o dirigente seria “terraflanista” e sugeriu que o Flamengo jogasse sozinho.

“Eu acho que é uma declaração infantil. Tentando colocar uma coisa que não é viável. Não existe isso. Quem é que discutiu que quer estar separado?”, ressaltou.

Bloqueio

Bap justificou o pedido de bloqueio dos pagamentos da Globo à Libra como uma medida preventiva para assegurar o direito do Flamengo de receber o valor que reivindica.

“Você divide esse dinheiro agora. Daqui a dois anos, você decide na Justiça que o dinheiro é do Flamengo”, afirmou.

“Como é que você vai reter esse dinheiro depois que ele foi recebido e foi gasto pelos clubes?”, completou.

Segundo o presidente do Flamengo, a Globo realizou pagamentos mesmo com a decisão sobre essa divisão de receitas em aberto.

“Se não houvesse essa primeira autorização, talvez a atitude do Flamengo tivesse sido diferente. E depois de a gente protestar e de a gente notificar a Globo e a Libra, eles orientaram o segundo pagamento”, enfatizou.

Conflito de interesses

O presidente do Flamengo também apontou conflito de interesses na atuação do advogado André Sica, representante da Libra.

“O Sica é advogado do Palmeiras, ele trabalha pro Palmeiras, a família dele trabalha pro Palmeiras há muito tempo, o escritório que entrou com o agravo lá da Libra contra o Flamengo é o escritório do Sica. Isso é um conflito evidente”, acusou.

Bap afirmou que, se pudesse voltar atrás, não teria apoiado a criação da Libra.

“A Libra é verde. A Libra é toda verde. A Libra é palmeirense”, criticou.

Crefisa

O dirigente também comentou o empréstimo feito pela Crefisa, empresa de Leila Pereira, ao Vasco.

“São dois clubes de grandeza nacional, são dois dos clubes das cinco maiores torcidas do Brasil, tá certo? Que disputam competições comuns, como Copa do Brasil, Brasileiro. Faz uma relação dessas?”, disse o presidente do Flamengo.

LEIA MAIS: Vasco fecha empréstimo com Crefisa, que terá poder de autorizar ou não venda da SAF

Bap reconheceu que a operação não é ilegal, mas considera que há um problema ético na transação entre a empresa da presidente do Palmeiras e o clube de São Januário.

“Eu entendo que isso aí, na minha opinião, tem um conflito intrínseco”, ressaltou.

“Isso não é ilegal, pra mim é só imoral”, acrescentou.

Outro lado

Procurados, Libra e Palmeiras não se pronunciaram. André Sica, advogado da Libra, enviou uma nota em resposta às declarações de Bap. Leia na íntegra abaixo:

Eu fico lisonjeado com as palavras do Bap, mas imagino que ele não tenha acesso a todas as informações.

Meu pai faleceu em 2001 e era engenheiro. Minha mãe é professora de francês. Portanto, não é verdadeiro que qualquer pessoa da minha família tenha trabalhado para o Palmeiras. Apenas eu tenho essa honra.

A respeito de trabalhar para outros clubes da Libra, meu escritório trabalha para mais de 30 clubes pelo país. Tenho também a honra de trabalhar para o Red Bull [Bragantino] desde 2011, para o Cruzeiro desde o início da SAF, para o Bahia desde a compra pelo [Grupo] City, além de muitos outros gigantes, tanto da Libra quanto da LFU. Justamente por isso fui escolhido pelo [Rodolfo] Landim [ex-presidente do Flamengo] e [Guilherme] Bellintani [ex-presidente do Bahia] como o advogado para iniciar o movimento de Liga no Brasil. Meu sonho e minha ambição profissional é ver o futebol unido. Para isso, invariavelmente, tenho que defender a Libra e, depois disso, a união com a LFU. Tenho certeza de que o Presidente Bap perceberá isso com o tempo e, por que não, ainda pode virar um grande parceiro e amigo.