A exigência da biometria facial como forma de acesso aos estádios brasileiros com capacidade superior a 20 mil pessoas está perto de completar 150 dias. Obrigatória a partir de 14 de junho deste ano, a tecnologia tem gerado mudanças tanto na experiência do torcedor quanto em alguns outros aspectos que vão desde segurança pública até o trabalho de marketing dos clubes.
Segundo Ricardo Cadar, fundador e CEO da BePass, empresa que fornece a tecnologia para estádios como Allianz Parque, Maracanã e Morumbis, entre outros, o balanço dos primeiros meses de operação após a obrigatoriedade é positivo, principalmente porque não foi necessário adiar os prazos para adequação e instalação das novas catracas.
Além disso, em comparação com os métodos usados anteriormente, como o QR Code, o executivo apontou que o acesso via biometria facial gera um aumento considerável na velocidade de entrada dos torcedores nos estádios.
“A nossa estatística mostra que a gente conseguiu aumentar em quase três vezes a velocidade de entrada. Por catraca, nós tínhamos uma média de sete pessoas por minuto na época do QR Code, e, hoje, essa métrica fica em torno de 20 pessoas por minuto [com a biometria facial]”, destacou Cadar, em entrevista à Máquina do Esporte.
Para os clubes, outro benefício imediato foi a redução do cambismo e da incidência de ingressos falsos. Embora o CEO da BePass reconheça que possam surgir novas tentativas de fraude, ele reforçou que o modelo anterior de venda ilegal foi massivamente combatido.
“Isso deixou de existir do dia para noite, já que não se pode mais transferir o ingresso com a biometria facial, e a percepção geral é de que [o cambismo] diminuiu muito, chegando a quase não existir mais”, comentou Cadar.
Outro pilar da adoção da tecnologia é o aumento da segurança dentro dos estádios. O sistema da BePass permite a integração com bases de dados de órgãos governamentais, possibilitando a identificação de pessoas com mandados de prisão ou procuradas pela Justiça.
“Com uma integração que nós temos com o Ministério da Justiça e com a Secretaria de Segurança Pública dos estados, a gente consegue saber se um torcedor que tem um mandado de prisão em aberto, por exemplo, comprou ingresso [para o jogo]. E essa pessoa não vai entrar no estádio porque ela é bloqueada”, explicou o executivo.
Desde 2023, quando a BePass iniciou a operação das catracas com biometria facial no Allianz Parque, a tecnologia da empresa já identificou a tentativa de acesso de 380 pessoas com pendências judiciais.
Dados
Além da segurança e da velocidade de acesso, a biometria facial consolida dados de presença que, segundo o CEO da BePass, abrem novas frentes de monetização e marketing para os clubes. A tecnologia permite identificar com precisão quem de fato frequentou a partida, diferentemente de sistemas antigos de check-in utilizados por programas de sócio-torcedor.
Ricardo citou como exemplo a possibilidade de premiar os torcedores mais frequentes em uma temporada ou criar ações de marketing direcionadas, como parcerias personalizadas com empresas para cada perfil de torcedor. Mas, apesar do potencial, o executivo avalia que o mercado ainda está amadurecendo para esse tipo de inteligência.
“Hoje, a gente tem condições de ter muito mais dados para os clubes utilizarem e, com isso, criarem novas fontes de receita. Porém, poucos times no Brasil estão com a mentalidade voltada para explorar esse tipo de coisa”, ponderou Cadar.
Sistema
Em relação à estabilidade da tecnologia em dias de jogos com alta demanda ou problemas de infraestrutura, como quedas de rede, Ricardo explicou que o sistema da BePass possui um protocolo de contingência e que ele tem capacidade para operar totalmente off-line.
“A BePass tem um sistema que trabalha 100% off-line. A partir do momento em que os portões são abertos, caso haja uma perda de rede, por exemplo, de internet, a gente tem um sistema que funciona totalmente off-line”, explicou.
