Clubes e entidades do futebol prestam homenagens a Zagallo

Zagallo morreu aos 92 anos de idade - Lucas Figueiredo / CBF

Nos tempos em que esteve em atividade, dentro de campo ou à beira dos gramados, Mário Jorge Lobo Zagallo passou longe de ser uma unanimidade. Com uma trajetória polêmica – intensificada por seu comportamento expansivo diante das câmeras e suas manias e superstições, como o apego ao número 13 -, o ex-jogador e ex-treinador acumulou títulos e também críticos e fãs, ao longo de sua carreira.

Morto na madrugada deste sábado (6), aos 92 anos de idade, vítima de falência múltipla dos órgãos (estava internado há 11 dias), o Velho Lobo enfim tornou-se unanimidade, recebendo homenagens de clubes e entidades do futebol, que fizeram questão de destacar as contribuições que o alagoano de Atalaia trouxe para o futebol.

As homenagens mais efusivas vieram justamente dos clubes do Rio de Janeiro, estado onde ele desenvolveu boa parte de sua carreira como jogador e treinador.

A relação profissional de Zagallo com o futebol começou em 1951, como ponta-esquerda do Flamengo, onde fez parte do esquadrão que conquistou o tricampeonato carioca em 1953, 1954 e 1955. “Formiguinha”, um de seus apelidos, era atleta do rubro-negro, quando foi convocado para a Copa do Mundo de 1958.

Este fato foi destacado pelo clube em sua homenagem a Zagallo. O clube também relembrou das passagens do Velho Lobo como treinador.

Pelo Flamengo, Zagallo atuou em 205 jogos e marcou 29 gols. No mesmo ano da conquista de sua primeira Copa, Zagallo transferiu-se para o Botafogo. Chegou a receber propostas de Palmeiras e Portuguesa (clube que viria a treinar, no fim dos anos 90), mas optou pelo time carioca porque a esposa era professora e perderia todas as aulas, caso mudassem de estado.

Na Estrela Solitária, Zagallo jogou ao lado de lendas como Didi, Nilton Santos e Garrincha e conquistou dois campeonatos cariocas e um Torneio Rio-São Paulo.

Além do post com uma foto dos tempos de jogador, o Botafogo também resgatou o vídeo da inauguração da estátua de Zagallo, instalada em 2013 no Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro.

Após encerrar a carreira como jogador, em 1965, Zagallo iniciou sua trajetória como treinador, pelo mesmo Botafogo, onde conquistou duas vezes o Campeonato Carioca e ainda um Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1968, o primeiro título nacional do alvinegro.

Esse currículo, aliado a um golpe do acaso, acabaria por fazer o destino de Zagallo cruzar-se novamente com a seleção brasileira. Mais tarde, ele voltaria a treinar outros clubes do Rio de Janeiro.

O primeiro deles foi o Fluminense, onde conquistou o Campeonato Carioca de 1971. O clube também rendeu homenagens a seu ex-treinador.

Nos anos 1970, além do trabalho pela seleção e das passagens por Flamengo e Botafogo, Zagallo foi desbravar o futebol no Oriente Médio, tendo treinado a seleção do Kuwait e o Al-Hilal, que hoje lidera o Campeonato Saudita, sob o comando de Jorge Jesus. Em 1980, ele retornaria ao Brasil para ser técnico do Vasco, outro clube que homenageou o Velho Lobo.

Na década de 1980, Zagallo treinaria as seleções da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. E ainda teve uma experiência de cinco meses à frente do Bangu, outro que lamentou a morte do treinador.

Na década seguinte, os trabalhos de Zagallo em clubes foram diminuindo, sobretudo por conta do vínculo dele com a seleção brasileira. Em 1999, ele teve a oportunidade de realizar sua única experiência em São Paulo, treinando a Portuguesa, que, na época, disputava as principais divisões do futebol do país. O clube destacou essa passagem, no post em homenagem ao Velho Lobo.

Seleção

A despeito da identificação que possui com alguns clubes, como Botafogo e Flamengo, Zagallo acabou por vincular sua história muito mais à seleção brasileira, mesmo enfrentando fortes contestações, quando estava em atividade.

Nos tempos de jogador, por exemplo, estava longe de ser o ponta-esquerda preferido para ocupar a posição nas Copas do Mundo, favoritismo que recaía sobre o santista Pepe e o são-paulino Canhoteiro, donos de estilos mais ofensivos e goleadores. O primeiro, porém, acabou por se contundir em 58, ao passo que o segundo (até então, titular absoluto) foi cortado às vésperas do Mundial.

Em campo, porém, Zagallo desempenhou um papel fundamental para essa primeira conquista do Brasil, sobretudo porque, apesar de atuar como atacante, auxiliava na marcação. Postura que faz dele um precursor do que se convencionou chamar de futebol moderno.

Em 62, Zagallo novamente foi titular, ajudando o Brasil a conquistar o bicampeonato. Seu histórico no time e boa experiência desenvolvida no Botafogo serviram para cacifá-lo junto à Confederação Brasileira de Desportos (CBD, antecessora da CBF), para assumir como técnico do time que disputaria a Copa de 70.

Utilizando uma base formada por João Saldanha (demitido do cargo, após uma série de desavenças públicas, inclusive com o ditador de plantão da época, Emílio Garrastazu Médici), mas com algumas inovações pessoais (como recuar o volante Piazza para a zaga, dando liberdade para o lateral Carlos Alberto Torres apoiar pela direita), Zagallo conquistou o tão sonhado tricampeonato.

Talento ou acaso?

A experiência ruim na Copa de 74 (quarto lugar, em uma campanha muito abaixo do esperado) serviu para incutir a dúvida na cabeça da imprensa e dos torcedores. Afinal, Zagallo era mesmo um bom técnico ou apenas alguém que teve a sorte de estar no lugar certo e na hora certa?

Nos anos 90, quando assumiu o cargo de coordenador técnico da seleção, o Velho Lobo passou a se portar como torcedor fervoroso da seleção. Tanto que, na Copa de 94, entre as cenas mais icônicas estavam justamente as de Zagallo vibrando diante das câmeras, a cada triunfo do time que conquistaria o tetra.

E foi assim que Zagallo garantiu seu retorno ao cargo de técnico, agora com uma postura de técnico/torcedor que colecionava polêmicas, como o célebre “Vocês vão ter de me engolir”, desabafo feito diante das câmeras, após a conquista da Copa América de 1997.

A indigestão, porém, acabaria chegando, com a amarga derrota diante da França, por 3 a 0, na final da Copa do Mundo de 1998. Visto como um dos responsáveis por esse “fracasso”, Zagallo deixou o comando da seleção.

Ainda conquistaria alguns troféus pelo Flamengo, como a Taça dos Campeões (que valia vaga na Copa Libertadores) e o Campeonato Carioca de 2001. De 2003 a 2006, voltou a ser coordenador técnico da seleção, novamente em parceria com Carlos Alberto Parreira (treinador de 1994), mas sem o mesmo êxito. Nesse meio tempo, foi um dos jurados do reality show Joga Dez, da Band, em 2005.

Nos anos que se seguiram, Zagallo talvez não tenha sido levado tão a sério como um especialista que entendia (e muito) de futebol, mas sim como um senhor que torcia de maneira exagerada pelo Brasil, apegado a diversas manias.

Mais recentemente, porém, seu legado começou a ser revisitado e reavaliado. E com isso, Zagallo passou a ter sua trajetória exaltada, com mais serenidade. O Movimento Verde e Amarelo, uma das torcidas organizadas da seleção brasileira, publicou um post no Instagram referindo-se ao ex-treinador como “um dos maiores nomes do futebol mundial”.

A Torcida Canarinho, por sua vez, postou um vídeo com imagens que recontam a trajetória de Zagallo enquanto jogador e técnico.

Em 2022, ele ganhou uma estátua de cera no Museu da CBF, fato que foi resgatado pela entidade, no post de homenagem ao Velho Lobo.

“A CBF e o futebol brasileiro lamentam a morte de uma das suas maiores lendas, Mário Jorge Lobo Zagallo. A CBF presta solidariedade aos seus familiares e fãs, neste momento de pesar pela partida deste ídolo do nosso futebol”, disse o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, que decretou luto oficial de sete dias e determinou a realização de um minuto de silêncio em todos os jogos da primeira rodada da Copa da Nordeste, que começa neste sábado.

A Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) também decretou luto oficial (três dias) pela morte de Zagallo. A instituição destacou, em seu post, a forte relação do ex-jogador com o futebol carioca. Em 2019, o troféu do Campeonato Carioca foi batizado com o nome do ex-jogador, como forma de homenageá-lo.

O presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Gianni Infantino, emitiu nota lamentando o falecimento do Velho Lobo.

“Hoje, estamos em luto pela perda de um dos verdadeiros ídolos da história do futebol, um homem cujo impacto na Copa do Mundo da Fifa foi inigualável. Mário Zagallo ganhou quatro edições da Copa do Mundo da FIFA, como jogador e como técnico. Mais do que qualquer outro”, afirmou.

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