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Com BTG, LFU prepara investida sobre clubes da Libra

Banco de investimentos tentará ajudar nova parceira a viabilizar a criação da tão falada liga unificada no futebol brasileiro

Encontro da LFU na sede da LiveMode, no Rio de Janeiro - Rafael Brito / Divulgação

Dirigentes posam durante encontro da LFU na sede da LiveMode, no Rio de Janeiro (RJ), no final de fevereiro - Rafael Brito / Divulgação

Esta terça-feira (28) ficou marcada por trazer notícias péssimas para a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e que podem representar o início da derrocada do grupo.

Idealizado inicialmente por alguns dos clubes de maior torcida do país, como Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Santos, Corinthians e Cruzeiro (os dois últimos acabaram migrando para a Liga Forte União (LFU)), o bloco atualmente derrete em meio a um racha ocasionado pela discordância da diretoria rubro-negra em relação ao modelo de divisão das receitas pagas pelo Grupo Globo.

A Libra acaba de perder oficialmente um de seus membros, o Atlético-MG, e está sem nenhum representante em Minas Gerais, o segundo estado mais populoso do Brasil. Mas a ruína do bloco não passa apenas pela debandada dos clubes.

No mesmo dia em que o Galo resolveu bater asas rumo à LFU, surgiu a notícia de que o BTG Pactual também está trocando a Libra pelo bloco rival. A informação foi inicialmente divulgada pelo NeoFeed e confirmada pela Máquina do Esporte.

Libra sem parceiros financeiros

Enquanto o BTG se une à LFU, que também está com a XP Investimentos, a Libra acaba ficando sem parceiro na área financeira e justamente no momento em que está mais fragilizada.

A função do banco na LFU não será a de investidor, mas sim a de auxiliar na atração de clubes para a formação de uma liga unificada.

Na Libra, o BTG operou para obter o investimento do fundo soberano Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, que se dispunha a adquirir um percentual que variaria de 12,5% a 20% dos direitos comerciais e de mídia do bloco, pelo prazo de 50 anos. O valor a ser pago poderia alcançar algo em torno de R$ 4,75 bilhões, caso fosse formada uma liga unificada.

Mas, ao participar do podcast Maquinistas, da Máquina do Esporte, em novembro de 2023, o então vice-presidente de marketing do Flamengo, Gustavo Oliveira, informou que o clube não assinaria esse acordo, por discordar das condições apresentadas (sobretudo o prazo de cinco décadas).

A recusa do clube de maior torcida em aderir ao negócio acabou inviabilizando que o bloco avançasse no acordo com o fundo árabe.

Enquanto isso, a XP levou adiante um contrato parecido na LFU, com a General Atlantic e a Life Capital Partners, em que os clubes venderam até 20% de seus direitos aos investidores por 50 anos.

Hoje, a XP atua diretamente nos negócios que envolvem os direitos econômicos da LFU, por meio da Sports Media Entertainment, que acaba de fechar com o Atlético-MG, embora o clube mineiro siga vinculado aos contratos fechados por meio da Libra até 2029.

Fragilizados, clubes endividados podem virar alvos

Com uma dívida que pode variar de R$ 1,3 bilhão (cálculo do próprio clube) a R$ 2,3 bilhões (estimativas do mercado), o Atlético-MG tem buscado meios de equilibrar suas finanças.

Em julho, precisou recorrer a um empréstimo feito pelo empresário Rubens Menin, principal investidor da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), para saldar salários atrasados do elenco.

No mês passado, o Conselho Deliberativo do Galo aprovou uma mudança na regra antidiluição da SAF, permitindo que a participação do clube associativo possa cair de 30% para um mínimo de 10%, de modo a viabilizar a entrada de novos investidores no negócio.

É fato que, na nota em que anuncia a mudança de bloco, o Atlético-MG joga o peso da decisão no imbróglio com o Flamengo (o texto não cita nominalmente o time carioca, mas critica “atitudes individualistas”, que já haviam sido atribuídas ao clube rubro-negro recentemente, em meio à polêmica da divisão das receitas da Libra).

No fim das contas, porém, a questão financeira também foi decisiva para que a troca ocorresse. Na Libra, o clube não teria como vender parte de seus direitos econômicos para a Sports Media Entertainment.

Hoje, não se pode ignorar que parte dos membros da Libra convive com uma situação financeira bastante complicada, diferentemente de Palmeiras e Flamengo, que estão com as contas equilibradas.

Se o derretimento da Libra se mostrar um processo irreversível, a LFU pode se converter na tábua de salvação para equipes como São Paulo e Santos, que, embora grandes, teriam poucas condições de barganha negociando sozinhas no mercado.

A chegada do BTG à LFU tende a reforçar a estratégia de crescimento do bloco, mediante a atração de novos clubes, que hoje estão no grupo rival.

De sua parte, a Libra, hoje, aparenta não ter um futuro promissor. O atual presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista de Souza, o Bap, já se movimenta para que o clube passe a negociar individualmente seus direitos de mídia para o ciclo que terá início em 2030.

O dirigente tenta atrair o Corinthians, que hoje está fechado com a LFU e representa o grande trunfo do grupo nas negociações com as empresas de comunicação.

Outro que definiu sua saída do grupo é o Vitória, que aguarda apenas o término do contrato de mídia, em 2029, para dar seu próximo passo.

Fragilizada, a Libra ainda convive com o tiroteio verbal entre Bap e a presidente do Palmeiras, Leila Pereira. A iminente derrocada do bloco, então, abre caminho para que a LFU sonhe alto em seu plano de criar a liga unificada.

Resta saber se o grupo seria capaz de, no futuro, atrair o Flamengo, que, pelo menos na atual gestão, tem dado mostras de que não está disposto a abrir mão de sua hegemonia financeira para que a ideia da liga avance.