Em 2026, o São Bernardo Futebol Clube (não confundir com o Esporte Clube São Bernardo, mais antigo) celebrará em grande estilo os seus 22 anos de sua fundação.
A equipe disputará pela primeira vez a Série B do Brasileirão. Ao longo de pouco mais de duas décadas de história, a equipe já alcançou alguns momentos de glória, como as conquistas dos títulos do Paulistão da Série A2, em 2012 e de 2021, e da Copa Paulista, em 2013 e 2021.
O acesso à Série B, porém, é sem dúvida o ponto alto da trajetória do Tigre do ABC Paulista. Além do São Bernardo, a segunda divisão nacional de 2026 terá a presença do Náutico, sem contar Londrina e a Ponte Preta, que disputarão o título da Série C no jogo da volta da final, que será realizado neste sábado (25), em Campinas, às 17h (horário de Brasília). A partida de ida, realizada no Paraná, terminou empatada em 0 a 0.
O bom momento atual tem a ver com o Grupo Magnum, que assumiu a gestão do São Bernardo em 2020, garantindo maior estabilidade do clube, que, anteriormente, tinha seus rumos fortemente influenciados pela política da cidade.
PSDB x PT
Conhecida por sediar grandes indústrias, especialmente no ramo automobilístico, São Bernardo do Campo tem sido palco de acontecimentos políticos relevantes na história do país. Lá foi o berço do chamado “Novo Sindicalismo”, surgido nos anos 1970, e das grandes greves que desafiaram a ditadura e ajudaram a projetar nacionalmente o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nas décadas mais recentes, a cidade viu ser reproduzida, em nível local, uma disputa que por anos pautou a política brasileira: a polarização PT x PSDB, que teve seus reflexos no futebol.
Conforme observa o pesquisador e escritor Victor Albuquerque Nadal, que já escreveu dois livros sobre a história do clube, o surgimento do São Bernardo está intimamente ligado à política.
A criação do clube foi liderada pelo ex-deputado federal Edinho Montemor (então no PSB e aliado do prefeito William Dib), além de empresários locais e políticos que orbitavam o deputado estadual Orlando Morando (PSDB). O grupo, portanto, tinha vínculos mais fortes com os tucanos, que ocupavam o Governo de São Paulo e faziam oposição ao PT, que comandava o país na esfera federal.
“O São Bernardo surgiu já constituído como empresa. Ele nunca foi clube associativo”, observa Nadal.
Por estar ligado à política partidária, porém, a equipe acabava por ser impactada pelas mudanças que ocorriam no jogo de poder do município.
E assim, a partir de 2008, o projeto passaria por uma reviravolta, com a chegada do sindicalista Luiz Marinho (PT) à Prefeitura de São Bernardo do Campo.
Marinho, atual ministro do Trabalho de Lula, manteve a parceria da gestão municipal com o clube. Em troca, porém, Edinho Montemor deixou a presidência, que passou a ser ocupada pelo futuro deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT), irmão do atual ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira.
Esse período ficou marcado por algumas das maiores conquistas da história do Tigre, incluindo os títulos da Copa Paulista e do Paulistão da Série A2.
Com a derrota do grupo de Luiz Marinho para Orlando Morando, em 2016, a gestão do clube passaria por nova mudança, com o retorno de Edinho Montemor à presidência.
Em 2019, o São Bernardo chegou a ter uma rápida experiência com a Elenko Sports, do empresário Fernando Garcia, filho de Damião Garcia, fundador da Kalunga.
Até que, em 2020, a fabricante de relógios Magnum, que é muito lembrada por haver patrocinado o Guarani na década de 1990, resolveu assumir a gestão do clube-empresa.
Gestão profissional
Roberto Graziano, da Magnum, sempre teve fortes vínculos com o Guarani. Há alguns anos, ele chegou a arrematar o Estádio do Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, em um projeto que prevê a construção de uma nova arena para o time alviverde.
Como o clube campineiro é estruturado no modelo associativo, ao longo dos tempos o empresário nunca teve a oportunidade de assumir a gestão do Guarani.
Já o São Bernardo, por ser um clube-empresa, representava uma oportunidade mais acessível para a Magnum.
Vale lembrar que, neste ano, a atual diretoria do Guarani passou a tratar publicamente da possibilidade de constituição da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Graziano e Magnum têm sido cotados como fortes candidatos a assumir esse possível negócio.
Na visão de Nadal, a chegada da fabricante de relógios foi de fato decisiva para o acesso do São Bernardo, sobretudo por conta dos maiores aportes financeiros feitos pelo grupo.
Ele considera que a atual gestão do clube é profissional, mas acredita que é injusto dizer que dirigentes que antecederam a “Era Magnum” não o fossem.
“O São Bernardo já foi bem gerido em diversas ocasiões. Na época de Luiz Fernando, por exemplo, a gestão era muito profissional. O grande problema de um time ligado a políticos é que ele depende do grupo que está no poder. Com a Magnum, a tranquilidade financeira é maior. Mas não sei se podemos dizer que esse investimento será para sempre. A partir do momento que o time tem um dono, vai depender de até quando esse empresário estará disposto a aplicar seu dinheiro no futebol. No dia em que não quiser mais investir, a situação muda”, pondera.
