Os 21 clubes da Liga Forte Futebol (LFF) e os quatro do Grupo União concluíram, nesta terça-feira (31), a venda de 20% de seus direitos comerciais do Brasileirão por 50 anos, contados a partir de 2025, pela quantia de R$ 2,6 bilhões.
Esse montante será pago nos próximos 18 meses, sendo que a primeira cota, de 50% do valor do investimento, será quitada até a próxima sexta-feira (3). Outra parcela de 25% será paga daqui um ano, e o restante chegará aos clubes em 18 meses.
O negócio foi fechado com a Life Capital Partners (LCP), a XP Investimentos e a norte-americana General Atlantic. A informação da entrada das duas últimas foi veiculada pelo GE e confirmada pela Máquina do Esporte. Segundo a Máquina do Esporte apurou, a XP entrou no negócio por ter lançado o fundo de investimentos Sports Media Futebol Brasileiro Advisory em parceria com a LCP.
“Todas as condições para o crescimento do futebol brasileiro estão presentes. Temos grandes marcas, ótimos estádios, o talento dos jogadores brasileiros e, principalmente, dezenas de milhões de torcedores apaixonados”, afirmou Carlos Gamboa, fundador da LCP.
“O próximo passo agora é buscar a união de todos os clubes para que o futebol brasileiro possa ter uma Liga Unificada e possa ocupar o espaço do seu potencial no cenário global”, completou o executivo.
Os 25 clubes que assinaram o acordo são: América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Avaí, Botafogo, Ceará, Chapecoense, Coritiba, CRB, Criciúma, Cruzeiro, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Operário-PR, Sport, Tombense, Vasco e Vila Nova.
Serengeti sai
Nesse acerto, houve a saída de outra empresa norte-americana, a Serengeti Asset Management. A investidora de capital de risco, que estava no acordo desde o início, enviou, dias antes do fechamento do negócio, uma carta endereçada a alguns clubes e à direção da LFF. Na mensagem, obtida pela Máquina do Esporte com uma das equipes, a companhia justificou sua saída da empreitada.
“Nas últimas duas semanas, porém, soubemos que (1) alguns clubes elevaram seus direitos de transmissão da Série B a partir da temporada de 2027, concedendo direito de renovação preferencial a terceiros e que (2) a CBF declarou que é a proprietária legal dos ativos imóveis comerciais das competições que organiza, incluindo o Campeonato Brasileiro, conforme definido nos contratos”, afirmou a Serengeti.
Provavelmente, o direito de renovação preferencial seja um acordo prévio com a Brax Sports Assets, que adquiriu os direitos comerciais da Série B de 2023 a 2026. O contrato deste ano deu fôlego financeiro aos clubes da segunda divisão, que estavam sem nenhum acordo de transmissão às vésperas do início do torneio.
Sem esses ativos, a Serengeti decidiu deixar o negócio. Ao menos por enquanto.
“Infelizmente, é claro que, neste momento, os clubes não são capazes de fazer as representações e garantias exigidas nos acordos e de transmitir os direitos comerciais e de transmissão livres aos investidores”, declarou a investidora.
“Além disso, a declaração da CBF de que é titular de alguns dos direitos – uma ação de uma entidade de administração desportiva nacional que pode impedir ou comprometer a implementação boa e pacífica das atividades comerciais descritas nos acordos – tem como efeito adverso material, conforme definido nos acordos”, acrescentou.
Segundo a Máquina do Esporte apurou, a Serengeti, porém, não descarta entrar no negócio na segunda ou terceira fase do acordo, que seriam as datas de realização de dois novos aportes financeiros aos clubes, que serão feitos em um ano e em 18 meses, respectivamente. A investidora poderia pagar parte desse valor, ficando com uma parcela do negócio.
Forte Futebol ou Forte União?
Em nota oficial, a LFF passou a se autointitular como Liga Forte União (LFU), para mostrar que o bloco de clubes se integrou ao Grupo União, formado por Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco, todos clubes geridos como Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Esses clubes, que chegaram até a rejeitar o termo Grupo União, sempre tentaram mostrar independência em relação aos times da LFF, embora tivessem acertado com os mesmos investidores. Agora, estão incluídos na antiga LFF.
“Esse investimento, associado à negociação coletiva dos direitos, será fundamental para a reorganização financeira dos clubes e para a possibilidade de investimentos em infraestrutura que fortalecerão o futebol brasileiro”, afirmou Mário Bittencourt, presidente do Fluminense.
“Com o fechamento do negócio, acredito que possa haver uma nova rodada de diálogo para tentar juntar todos os clubes das Séries A e B em um só grupo para formarmos a tão sonhada liga de clubes”, acrescentou o dirigente do time finalista da Libertadores 2023.
Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, acredita que o negócio permitirá um reequilíbrio financeiro dos clubes. O próprio Cruzeiro, que retornou à Série A do Brasileirão neste ano, tem passado por dificuldades econômicas por conta do alto endividamento. Segundo o Relatório Convocados, a Raposa fechou 2022 com débitos de R$ 800 milhões, muito acima das receitas da temporada passada, que foram de R$ 150 milhões.
“O movimento é significativo porque podemos debater os melhores mecanismos de governança, compliance, fair play financeiro, qualidade dos gramados, logística. O futebol brasileiro inicia um movimento fundamental de crescimento financeiro institucional, que passará também pela gestão e a criação de uma liga”, declarou o executivo.