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Com torneios continentais, Fifa se aproxima de Oriente Médio e se afasta da Uefa

Copa Intercontinental e Copa do Mundo de Clubes são armas de entidade para descentralizar o futebol

Gianni Infantino, presidente da Fifa (à dir.): proximidade cada vez maior com Arábia Saudita - Divulgação/Fifa

Gianni Infantino, presidente da Fifa (à dir.): proximidade cada vez maior com Arábia Saudita - Divulgação/Fifa

A Copa Intercontinental chegou ao fim na quarta-feira (17), com a vitória do Paris Saint-Germain sobre o Flamengo nos pênaltis, após empate no tempo regulamentar. Pela primeira vez, em 2025, foram realizados dois torneios em nível mundial entre clubes pela Fifa.

Pela segunda vez, a Copa Intercontinental foi disputada em seu novo formato, com apenas um jogo para o time europeu, algo que era um pedido da Uefa.

No entanto, a mudança no formato veio junto com a criação de um novo torneio, a Copa do Mundo de Clubes, que acontece a cada quatro anos e já tem a próxima edição marcada para 2029. Desde a sua criação, o novo torneio foi alvo de crítica.

“O que vimos na última Copa do Mundo de Clubes, que aconteceu nos Estados Unidos, foi um torneio desenhado para maximizar receitas, sem se importar com o sofrimento de jogadores ou torcedores”, afirma Sergio Marchi, presidente da FifPro, sindicato internacional dos jogadores de futebol.

“Não há planejamento nem respeito. Só há uma obsessão pelas receitas econômicas”, acrescenta.

Boicote

Muito além de duas competições, os torneios continentais de clubes da Fifa  servem a um propósito político maior, e simboliza a guerra de Gianni Infantino, presidente da entidade, com a Uefa

O esloveno Aleksander Ceferin, presidente da Uefa, não compareceu a nenhum dos jogos na Copa do Mundo de Clubes, todas as outras federações enviaram representantes. Na época, o dirigente alegou estar focado na Euro Feminina, mesmo tendo estado presente em apenas um dos primeiros 22 jogos da disputa.

De acordo com o site The Athletic, fontes ligadas ao presidente da Uefa acreditam que ele não compareceu às partidas por estar preocupado com “a invasão da Fifa nos torneios entre clubes e a possível expansão da Copa do Mundo de Clubes, que poderia potencialmente disputar a hegemonia da Champions League”.

Perto do dinheiro

Os dois torneios intercontinentais de clubes da Fifa não servem só para enfrentar a hegemonia europeia e descentralizar o poder do futebol do Velho Continente, que tem na Champions League a principal liga de clubes do mundo.

Ambas as competições são também marcadas por uma aproximação da Fifa com o novo polo financeiro do futebol mundial, o Oriente Médio.

A Copa do Mundo de Clubes teve grande participação do dinheiro saudita. O Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), foi um dos parceiros do evento. Além do fundo, o DAZN, parceiro de mídia que desembolsou U$S 1 bilhão pelos direitos de transmissão, teve uma parte adquirida pelo Surj Sports Investment, outra empresa saudita.

A Copa Intercontinental também tem grande investimento e participação árabe. O principal patrocinador do evento é a Aramco, gigante petrolífera saudita. A empresa, inclusive, é patrocinadora da Fifa com contrato até 2034, pagando U$S 100 milhões por ano, de acordo com o jornal britânico The Times.

Dos seis times que disputaram o evento, três são financiados pelo dinheiro árabe. O Al-Ahly, pelo PIF; o PSG pelo Qatar Sports Investment (QSI); o Pyramids pelo Turki Al-Sheikh, que é ligado ao governo da Arábia Saudita. O evento também foi sediado no Catar, país de Nasser Al-Khelaïfi, presidente do PSG e do QSI.

Tanto a Copa do Mundo de Clubes quanto a Copa Intercontinental são alvos de críticas por parte de clubes da Uefa. Com a realização dos torneios, Infantino agrada federações fora da Europa, que são fundamentais em futuras eleições na Fifa. Assim, o italiano consolida sua base eleitoral dentro da entidade.

O dirigente tem adotado um movimento de não apenas se distanciar da Uefa, mas de se aproximar do novo polo financeiro do futebol mundial, o Oriente Médio. Outro sintoma dessa aproximação é a Copa do Mundo de 2034, programada para acontecer na Arábia Saudita.