O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) anunciou, em entrevista à Rádio Senado, que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Manipulação de Resultados dos Jogos de Futebol, que investigará denúncias de armação de resultados, iniciará seus trabalhos ainda neste mês.
“A CPI começa em abril. Eu seria o presidente, e o Romário [PL-RJ], o relator”, contou o senador, referindo-se ao ex-atacante, que é presidente da Comissão de Esportes do Senado. Kajuru é vice-presidente da mesma comissão.
A CPI está baseada em um relatório feito pela Sportradar, que mostrou que o Brasil lidera o ranking mundial de países com mais jogos suspeitos. Um total de 109 partidas apresentaram anomalias, segundo a empresa especializada em inteligência de dados.
De acordo com Kajuru, os líderes dos partidos já começaram a indicar membros para a comissão. Entre os participantes estariam os senadores Carlos Portinho (PL-RJ), Eduardo Girão (Novo-CE), Leila Barros (PDT-DF) e Espiridião Amin (PP-SC).
John Textor
O senador de Goiás já tem um primeiro alvo para convocar para depor à CPI: o norte-americano John Textor, dono da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo, que, nesta segunda-feira (1º), fez novas denúncias, ainda sem nenhuma comprovação, de que houve manipulação de resultados nas edições de 2022 e 2023 do Brasileirão.
Textor colocou sob suspeita dois jogos específicos, as goleadas do Palmeiras sobre o Fortaleza (4 a 0), em 2022, e sobre o São Paulo (5 a 0), em 2023. Na ocasião em que jogou contra o Leão do Pici, o Palmeiras já tinha ganhado o título do Campeonato Brasileiro. Já a vitória sobre o Tricolor Paulista aconteceu durante a arrancada do time alviverde, que conquistou o bicampeonato nacional no ano passado.
Anteriormente, o empresário já havia falado em um esquema de manipulação de resultados com pagamento de propina a árbitros.
“Aquele diretor do Botafogo [Textor] fez uma denúncia gravíssima dizendo que ele tem a gravação de um árbitro cobrando a propina que lhe foi prometida”, lembrou Kajuru.
O senador quer que Textor apresente esse áudio à CPI. O dirigente pode pegar uma suspensão de 120 dias de atividades relacionadas ao futebol, em um julgamento no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), se não provar a denúncia que havia feito.
“Ele disse: ‘Eu vou apresentar [a gravação] ao Ministério Público’. Vai quando, cara-pálida? Tem duas semanas isso. Então ele vai ser, na nossa primeira reunião, convocado a se explicar. Tomara Deus que ele comece a dar uma pista para nós que ele queira apresentar antes do Ministério Público aqui na nossa CPI. Isso seria ouro”, disse o senador.
Outros casos recentes, segundo Kajuru, referem-se a 13 jogos suspeitos na Série D do Brasileirão e uma partida da Série B de 2023, entre Londrina e Tombense. As equipes se enfrentaram duas vezes no campeonato, com vitória do Londrina fora de casa (2 a 0), no primeiro turno, e empate no Paraná (1 a 1), no segundo turno. Os dois times acabaram rebaixados e disputarão a Série C em 2024.
Fiasco
Uma outra CPI, realizada no ano passado, já investigou manipulação de resultados para beneficiar clientes de sites de apostas esportivas. Feita pela Câmara dos Deputados, a CPI da Manipulação do Futebol foi um fiasco completo.
Os trabalhos começaram em maio, motivados pela Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás (MPGO), que denunciou jogadores e apostadores que participaram do esquema.
Sem chegar a lugar algum, os deputados pediram a prorrogação dos trabalhos ao presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), que negou estender o prazo. O relatório final, que continha apenas sugestões de mudanças na lei, não foi sequer votado pela comissão.