Se perguntarem a uma pessoa qualquer, ao redor do mundo, qual jogador de futebol ela considera a personificação do sucesso, é muito provável que o argentino Lionel Messi seja o mais citado, dividindo votos, talvez, com o português Cristiano Ronaldo.
Campeão e craque da última Copa do Mundo, realizada em 2022 no Catar, Messi é o maior ganhador de prêmios individuais de melhor jogador do planeta na história, tendo brilhado em todos os times pelos quais passou (alguém discordará, talvez, em relação à sua passagem pelo PSG).
Para se ter uma ideia de quanto ele fatura, entre as temporadas 2017/2018 e 2020/2021, Messi recebeu no Barcelona a quantia de € 555.237.619 (entre salários e direitos comerciais e de imagem), o equivalente a R$ 3.244.308.931,58, pela cotação atual.
Atualmente jogando pelo Inter Miami, que disputa a MLS, Messi converteu-se na principal estrela da liga dos Estados Unidos, atraindo não apenas os holofotes da mídia, mas também ajudando a competição a fechar contratos milionários com patrocinadores e empresas de mídia, entre os quais um dos mais notórios é o do serviço de streaming oficial do campeonato, feito em parceria com a Apple.
No ano passado, a contratação de Messi pelo time de Miami fez o serviço ganhar 300 mil novos clientes e ultrapassar a marca de 1 milhão de assinantes.
Esse dado demonstra o quanto o craque argentino é capaz de render para os times e campeonatos em que atua. Na esfera pessoal, no entanto, o gênio da bola costuma tropeçar em alguns negócios pelos quais resolveu enveredar.
Logo abaixo, a Máquina do Esporte traz alguns episódios que mostram que mesmo Lionel Messi, do alto de sua carreira marcada por fama, dinheiro e conquistas, também pode ter um certo “dedo podre” para investimentos.
Negócio imobiliário afundou
Em 2008, aos 21 anos de idade, Messi já havia passado do status de promessa para a condição de principal estrela do Barcelona. Foi então que ele resolveu investir em um negócio do ramo imobiliário em sua terra natal, Rosário, na Argentina.
Com El Rincón Solidario SL, o jogador pretendia atuar no ramo de aluguel de imóveis no país sul-americano. O investimento, no entanto, não prosperou, tanto que acabou encerrando suas atividades em 2020, depois de registrar um prejuízo de mais de € 355 mil.
Ao fechar as portas, a empresa de Messi apresentava um patrimônio líquido de aproximadamente € 500 mil e um capital social de pouco mais de € 750 mil.
Restaurante fechou
Outro investimento de Messi que fracassou foi um restaurante denominado Bellavista del Jardín del Norte, que ficava localizado na região central de Barcelona.
Com cerca de mil metros quadrados de área, o estabelecimento foi inaugurado em 2016 e buscava reproduzir o ambiente do bairro onde o craque cresceu, em Rosário, com direito até a pratos inspirados na infância do jogador, além de muitos elementos que remetiam ao futebol.
Quando o restaurante foi aberto, obteve muita repercussão em todo o mundo. Atualmente, porém, se algum turista ou fã do jogador buscar informações sobre o estabelecimento em guias de gastronomia de Barcelona, deparará com o seguinte alerta, em espanhol: “Atención: Este restaurante está cerrado permanentemente” (“Atenção: Este restaurante está fechado permanentemente”, em tradução livre).
Bellavista del Jardín del Norte encerrou suas atividades em 2018, isso depois de uma série de mudanças em sua concepção original.
Loja de sapatos tropeçou
Messi conheceu sua esposa Antonela Roccuzzo quando os dois ainda eram crianças, em Rosário. O casal era muito jovem quando começou a namorar, relacionamento que resistiu à fama e ao assédio que passaram a marcar a vida do craque (exceto por um rápido término, em 2011, que durou alguns meses).
Os dois se casaram em 2017, ano em que a argentina resolveu lançar um empreendimento próprio, em parceria com Sofia Balbi, esposa do atacante uruguaio Luis Suárez, que, à época, era parceiro de Messi no Barcelona.
O negócio das duas consistiu em uma loja da marca argentina de calçados de luxo Sarkany, também instalada na metrópole catalã. A inauguração ocorreu em grande estilo e contou com as presenças dos dois craques do Barcelona. No fim das contas, porém, o estabelecimento fechou após apenas dois anos em funcionamento.
Marca de roupas não decolou e foi vendida
Em 2019, um ano após ser eliminado com a Argentina de maneira melancólica na Copa do Mundo da Rússia, Messi resolveu investir no lançamento de sua marca própria de roupas.
Nessa operação, ele trouxe sua irmã María Sol Messi como gerente e fez parceria com a MGO Global, de Ginny Hilfiger, que trazia no currículo passagens por grandes empresas como a Fila e a própria Tommy Hilfiger, de seu irmão.
O negócio nunca decolou plenamente, apesar da fama do craque e da experiência da executiva. Para se ter uma ideia, no segundo trimestre de 2022, a Messi Store faturou menos de US$ 100 mil.
Em 2023, esse acordo da empresa com o jogador foi renovado, prevendo o lançamento de uma linha de produtos do atleta na Messi Store. À época, o jogador estava em evidência, depois de conquistar a Copa do Mundo do Catar. A ideia era utilizar a fama e o engajamento do argentino para impulsionar as vendas.
Um detalhe é que o acordo de licenciamento da MGO com Messi, que era válido até dezembro de 2024, não incluía roupas e equipamentos esportivos, como chuteiras e bonés, nem qualquer item com a reprodução da assinatura do jogador, pois o argentino possui outro contrato que abrange esses produtos com a Adidas.
Em abril do ano passado, a MGO resolveu fazer uma Oferta Pública Inicial (IPO, na sigla em inglês). No primeiro dia de negociação na Nasdaq, as ações da companhia mais do que triplicaram de valor, chegando a US$ 16,61. A partir de então, houve perda de mais de 93% no preço, com os papéis passando a ser negociados a US$ 1,10.
No primeiro trimestre de 2023, embalada pela ida de Messi para o Inter Miami, a MGO vendeu US$ 335 mil (cerca de R$ 1,65 milhão, pela cotação atual) em produtos, o triplo em comparação ao mesmo período do ano anterior. Por outro lado, a empresa registrou uma perda de US$ 1,2 milhão, investindo muito mais do que vendeu.
Messi nunca foi acionista da marca e recebia royalties de € 500 mil, pagos a cada cinco meses pela MGO. O acordo ainda previa que ele teria direito a 12% referentes às vendas que ultrapassassem esse piso.
Com os resultados obtidos na venda de produtos da Marca Messi, a MGO nunca conseguiu superar os gastos com o pagamento dos royalties ao atleta. Em agosto do ano passado, ela já devia ao argentino cerca de US$ 2,2 milhões.
Conforme a Máquina do Esporte analisou, ainda em 2023, a parceria de Messi com a MGO Global foi um exemplo de como a associação entre marcas e atletas pode se converter em um pesadelo comercial.
Neste ano, a Marca Messi foi vendida para a Centric Brands, que, por sua vez, pertence ao Blackstone Group, de Nova York, nos Estados Unidos.
Para adquirir os direitos da marca, a empresa pagou US$ 2 milhões à MGO, valor que pode ser considerado uma pechincha, diante de toda movimentação que foi feita em torno do negócio. Além disso, para autorizar a venda, Messi recebeu da Centric Brands a quantia de US$ 1,5 milhão, relativa aos royalties atrasados.
Isotônico provoca polêmica
O mais novo produto lançado por Messi e que tem como público-alvo a Geração Z dos Estados Unidos, que consome cada vez menos cerveja e outros itens alcoólicos, é a bebida hidratante e energética Más+.
Grande aposta do atleta nas últimas semanas, o produto tem sido alvo de polêmica por conta da enorme semelhança do design de suas embalagens com as do Prime, bebida concorrente, lançada pelo lutador de wrestling Logan Paul e o youtuber e boxeador Olajide Olayinka Williams “JJ” Olatunji, conhecido profissionalmente como KSI, que, inclusive, fez questão de alfinetar o argentino, em um comentário feito em uma publicação que noticiava o lançamento do Más+.
Nos últimos dias, a imprensa tem repercutido fortemente essa questão negativa envolvendo as enormes semelhanças do produto de Messi (que foi lançado depois no mercado) com o de Logan Paul e KSI.
Tecnologia é a nova fronteira a ser desbravada
Apesar de seguir faturando fortunas imensas com seus contratos de jogador e também de patrocínios e de direitos de imagem (de modo que ganhar dinheiro está longe de ser uma urgência na sua vida), Messi (mesmo não sendo brasileiro) não desiste nunca do sonho de “se tornar seu próprio patrão”.
Da mesma forma que se esforçou até o fim para conquistar uma Copa do Mundo, calando de vez aqueles que o questionavam, o atleta continua em busca de novas formas de alcançar êxito pleno em seu negócio próprio.
Para tanto, resolveu desbravar novas searas, lançando a empresa de investimento Play Time Sports-Tech, que se propõe a fazer uma intersecção entre esportes, mídia e tecnologia.
O negócio foi desenvolvido em parceria com Razmig Hovaghimian e Michael Marquez, dois executivos experientes do Vale do Silício, na Califórnia, e já tem em seu portfólio a AC Momento, especializada em leilões de lembranças de partidas para torcedores, e a Matchday, startup de jogos eletrônicos com foco no futebol, que detém licenças da Fifa e da associação de atletas Fifpro (a participação do jogador no negócio foi essencial para a obtenção delas).
Nos dois casos, as empresas desenvolvem produtos com base na tecnologia de tokens não fungíveis (NFTs). Fundada em 2023, a Play Time está sediada em San Francisco, na Califórnia, e começou sua jornada com dois funcionários.
Segundo o perfil da companhia no LinkedIn, atualmente a Play Time tem quatro empregados, o que representa um aumento de 300% no quadro funcional.
Os valores desse investimento não foram divulgados. É curioso observar que o negócio foi lançado em uma época em que o mercado de NFTs mergulhava em uma forte baixa.
Depois da explosão registrada em 2021, quando diversos NFTs tiveram uma disparada nos preços, as cotações passaram a registrar repetidas quedas a partir de 2023.
Para se ter uma ideia, no primeiro trimestre de 2022, meses antes do lançamento da Play Time de Messi, o volume global de transações envolvendo NFTs foi de US$ 12,6 bilhões. No terceiro trimestre do ano passado, esse total caiu para US$ 1,39 bilhão.
Por se tratar de uma tecnologia (e de um mercado) relativamente nova, por enquanto é difícil tecer prognósticos sobre as chances de sucesso desse investimento tecnológico de Messi, até porque as cotações podem entrar em um novo ciclo de alta.
A se julgar pelo tempo médio de vida das demais empreitadas do craque e pelo cenário atual dos NFTs, não seria surpreendente ver, em um futuro não tão distante, a Play Time engrossando a “lista de CNPJs” cancelados de Messi.
A menos que, neste caso, o argentino alcance um desfecho similar ao da última Copa do Mundo, quando começou a competição com uma derrota improvável diante da Arábia Saudita e acabou se tornando campeão, sendo, de quebra, aclamado como o melhor jogador do torneio.
Mas se será “goat” ou “bode” nos negócios, só o tempo dirá.