Ednaldo Rodrigues conseguiu retornar à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) respaldado por uma liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com o apoio (até agora) incondicional da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e da Federação Internacional de Futebol (Fifa).
Mas o dirigente ainda está longe de poder sonhar com dias tranquilos à frente do cargo, devido a uma denúncia que foi protocolada no Comitê de Ética da entidade, último domingo (7) – data em que Rodrigues oficializava a contratação de Dorival Júnior como técnico da seleção brasileira, para o lugar de Fernando Diniz. Uma ex-diretora da instituição acusa o presidente da CBF da prática de assédio.
A informação foi divulgada nesta terça-feira (9), pelo site Poder 360, que publicou inclusive uma cópia da suposta denúncia. O documento divulgado pela página não traz a assinatura da autora e apresenta alguns trechos destacados em amarelo, indicando que posteriormente deveriam ser incluídas informações adicionais, como a qualificação do dirigente Hélio Santos Menezes Junior, que também foi denunciado, juntamente de Rodrigues. Aparenta, portanto, ser um rascunho da queixa apresentada pela ex-diretora.
Revelada nesta semana, a denúncia feita ao Comitê de Ética da CBF serviu para tumultuar ainda mais o já conturbado ambiente na entidade máxima do futebol brasileiro. A Máquina do Esporte apurou a história e traz uma cronologia a respeito do caso, que é bem mais antigo do que aparenta, embora tenha explodido novamente agora, abalando o retorno triunfal de Ednaldo Rodrigues à presidência da CBF.
Situação remonta a maio do ano passado
O suposto assédio relatado na denúncia teria ocorrido há alguns meses e acabou resultando em questionamento feito em maio do ano passado pela então diretora, ao Comitê de Ética da CBF. Ela perguntou quais protocolos deveria adotar diante desse tipo de situação.
Como neste e nos demais procedimentos realizados a denunciante solicitou sigilo aos órgãos competentes, a Máquina do Esporte optou por não divulgar seu nome nesta reportagem.
Passados alguns dias, a CBF promoveu mudanças na composição de seu Comitê de Ética, que optou por não acolher o questionamento feito pela diretora. A solicitação foi repassada ao Comitê de Integridade da instituição.
Ao mesmo tempo, o caso vazou para a imprensa. O órgão acabou por tratar o questionamento como uma denúncia falsa e usou essa conclusão, juntamente com a repercussão negativa do episódio na mídia, como justificativa para demitir a dirigente.
Em julho, no entanto, o Ministério Público do Trabalho (MPT), que havia tomado conhecimento do episódio pela imprensa, intimou a ex-diretora a prestar depoimento.
Em 20 de dezembro de 2023, ela fez denúncia sobre o suposto assédio ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Novamente a informação vazou para a imprensa.
Na época, Rodrigues encontrava-se afastado do cargo de presidente, por conta de uma decisão proferida pela 21ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 7 de dezembro.
Última cartada
O vazamento da última denúncia feita ao Comitê de Ética aparenta ser uma cartada derradeira na disputa pelo poder na CBF, que foi definida com a visita da comitiva formada por membros da Fifa e da Conmebol, na segunda-feira (8).
As duas instituições endossaram a permanência de Rodrigues no cargo e reforçaram a ameaça de sanções à seleção e aos clubes brasileiros, que ficariam sujeitos à exclusão de competições internacionais, caso prosseguisse a intervenção judicial na CBF.
Vale lembrar que denúncias de assédio sexual foram a causa da queda de Rogério Caboclo da presidência da entidade, em junho de 2021.
Procurada, a CBF optou por não se pronunciar sobre o caso. Nos bastidores, a Máquina do Esporte apurou que o vazamento das denúncias é interpretado pelo comando da entidade como uma manobra política.