Pular para o conteúdo

Deputado, filho de ex-presidente, presidente “eterno” de federação: Quem são os novos vice-presidentes da CBF

Chapa de consenso que elegeu Samir Xaud como novo presidente da entidade é formada por representantes de diversas regiões do país

Samir Xaud (centro), eleito presidente da CBF, posa com os vice-presidentes da chapa - Rafael Ribeiro / CBF

Samir Xaud (centro), eleito presidente da CBF, posa com os 8 vice-presidentes da chapa - Rafael Ribeiro / CBF

A articulação para a sucessão de Ednaldo Rodrigues começou logo após o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ter sido afastado do cargo por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

E, para acomodar todas as forças políticas com influência dentro dos corredores da confederação, foi necessário um ajuste de nomes para compor a nova diretoria.

Nela entraram representantes de todas as regiões do país, a maioria formada por presidentes de federações estaduais. Nenhum integrante da nova diretoria representa os clubes, que reivindicam a criação de uma liga brasileira e articularam boicote à Assembleia Eleitoral que contou com a participação de 21 equipes das Séries A e B.

Há também quem detenha poder político a partir de cargos que já exerceu na própria CBF ou na estrutura do futebol brasileiro.

Veja abaixo de onde vem cada vice-presidente da chapa de Samir Xaud, eleita neste domingo (25) sem enfrentar concorrência.

Fernando Sarney

Fernando sempre foi o mais discreto dos filhos do ex-presidente da República, José Sarney. Ao contrário dos irmãos Roseana, ex-governadora e ex-senadora pelo Maranhão, e Zequinha Sarney, ex-deputado federal pelo estado e ex-ministro do Meio Ambiente (governos Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer), Fernando se direcionou à vida empresarial, cuidando dos negócios da família.

Sua atuação mais destacada fora da vida corporativa sempre foi no esporte. Ele entrou na CBF em 1998, como diretor de relações governamentais, ainda durante a gestão de Ricardo Teixeira à frente da entidade. Em 2004, tornou-se um dos vice-presidentes.

Foi indicado em 2015 para membro do Conselho da Fifa, após a renúncia de Marco Polo Del Nero da presidência da CBF. Ficou no cargo até 2023, quando foi destituído da função por Ednaldo Rodrigues. Esse, aliás, seria um dos motivos para o rompimento entre os dirigentes.

Nas voltas que o destino dá, Fernando Sarney acabou indicado como interventor da CBF logo após a destituição de Ednaldo. Rapidamente, o dirigente convocou novas eleições. Dez dias depois, Xaud estava eleito.

Flávio Zveiter

É o mais novo representante de uma família com muita influência nos corredores da CBF desde, pelo menos, os anos 1990. Seu pai, Luiz Zveiter, foi presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em duas oportunidades (1996-1998 e 2000-2005).

Entre 1998 e 1999, o tribunal foi comandado por outro representante da família, Sérgio Zveiter, tio de Flávio, ex-deputado federal e secretário de Justiça do Rio de Janeiro na gestão do governador Cláudio Castro, entre 2021 e 2022.

Flávio estreou no mundo esportivo como auditor do STJD em 2000. Foi presidente do tribunal esportivo de 2012 a 2014.

Em 2017, foi indicado pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) para integrar o Comitê de Ética da Fifa, sendo o primeiro brasileiro a ocupar o cargo. Na CBF, foi ainda vice-presidente de projetos especiais.

Em 2023, quando Ednaldo foi afastado da CBF pela primeira vez, chegou a se lançar candidato à presidência, na época para concorrer com Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), outro eterno postulante ao cargo. A Justiça acabou reconduzindo Ednaldo ao cargo.

É sócio da Codajás Sports Kapital, empresa que prestou consultoria durante a criação da Liga do Futebol Brasileiro (Libra). A iniciativa de entregar aos clubes, divididos hoje entre Libra e Liga Forte União (LFU), a organização do Campeonato Brasileiro foi uma das promessas de campanha de Xaud.

Michelle Ramalho Cardoso

Michelle Ramalho Cardoso se tornou a primeira mulher a ocupar uma das vice-presidências da CBF. Presidente da Federação Paraibana de Futebol (FPF), foi uma das dirigentes que bateu de frente com Ednaldo Rodrigues recentemente, quando o dirigente impôs aos clubes da Série D do Campeonato Brasileiro que não poderiam negociar seus jogos no torneio com empresas de mídia.

Ela liderou um grupo de presidentes de federações estaduais que se opôs à medida. A CBF acabou cedendo esse ativo aos clubes para que exibissem as partidas em suas TVs oficiais enquanto a entidade não negociasse os direitos de transmissão com alguma empresa interessada.

Integrante destacada das articulações que alçaram Xaud ao poder, Michelle chegou a ser cogitada como candidata à presidência, assim como os presidentes das federações do Pará (Ricardo Augusto Lobo Gluck Paul) e de Alagoas (Felipe Feijó).

Ex-auditora do STJD, Michelle se tornou presidente da federação paraibana em 2018 em uma decisão bastante dividida: ela venceu Eduardo Araújo por 26 a 24.

Defensora do futebol feminino, foi chefe de delegação na Copa do Mundo Feminina de 2019, realizada na França, quando o Brasil foi eliminado nas oitavas de final pelo time da casa. Exerceu o mesmo cargo nas Olimpíadas de Paris 2024. À ocasião, a seleção brasileira feminina terminou com a medalha de prata após cair diante dos EUA, na final, por 1 a 0.

Em seu estado, organizou um Campeonato Paraibano Feminino com a participação de 11 clubes no ano passado. O futebol da Paraíba, porém, não conta com nenhum representante nas Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro.

Ricardo Augusto Lobo Gluck Paul

Outro dos cotados a encabeçar a chapa à presidência da CBF, Ricardo Augusto Lobo Gluck Paul, presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF), acabou se acomodando em uma das vice-presidências.

Empresário, ele exerceu diversos cargos no Paysandu, clube do qual é associado desde 2006. Em 2019, foi eleito presidente do clube, em eleição com chapa única. Ficou à frente do time por dois anos (2019 e 2020), assumindo, em seguida, a presidência da Assembleia Geral do Paysandu.

Em 2022, Gluck Paul foi eleito presidente da Federação do Pará, derrotando Paulo Romano por 118 a 60 votos. Ele assumiu a entidade após um imbróglio judicial que durou cerca de seis meses para a sucessão do ex-mandatário Adelcio Torres e colocou a presidente da Tuna Luso, Graciete Maués, de maneira interina no cargo.

Durante seu mandato, Remo e Paysandu, as duas principais forças do estado, voltaram a atuar na Série B do Campeonato Brasileiro.

Com muita força política na Região Norte, Gluck Paul foi um dos principais avalistas da candidatura de Xaud, de quem é aliado.

Ednailson Leite Rozenha

Deputado estadual no Amazonas e presidente da Federação Amazonense de Futebol (FAF), Ednailson Leite Rozenha é outro integrante da turma do Norte na chapa de Xaud, ele próprio representante de Roraima, também na região.

Natural de Porto Velho (RO), iniciou trajetória profissional muito jovem, tornando-se empresário do ramo de calçados. Mais à frente, entrou para a carreira política em 2012, sendo eleito vereador de Manaus (AM).

No futebol, começou no Fast Clube, tradicional time da capital amazonense, dono de sete títulos estaduais (1948, 1949, 1955, 1960, 1970, 1971 e 2016). A última conquista, aliás, aconteceu durante o período em que Rozenha esteve na presidência do Fast, após um jejum de 45 anos.

Em 2022, triunfou em duas eleições: para presidente da FAF e para deputado estadual (PMB-AM), com a conquista de 20.876 votos.

Rubens Renato Angelotti

Uma tragédia que marcou o futebol brasileiro alçou Rubens Renato Angelotti ao seu principal cargo na gestão do esporte até este domingo (25), quando foi eleito um dos vice-presidentes da CBF na chapa de Xaud.

O ex-dirigente do Criciúma assumiu a presidência da Federação Catarinense de Futebol (FCF) após a morte do titular do cargo, Delfim Pádua Peixoto Filho, que estava no voo da Chapecoense que caiu na Colômbia, em 2016. A tragédia aérea matou 71 pessoas entre jogadores, integrantes da delegação, jornalistas, dirigentes e tripulantes.

Angelotti era vice-presidente da federação desde 2015. Desde que assumiu o principal posto, foi reeleito mais duas vezes, estando com mandato garantido até 2027, quando completará 11 anos no poder.

Ele foi o principal articulador da candidatura de Samir Xaud na Região Sul, sendo premiado com uma das vice-presidências.

Gustavo Dias Henrique

Nascido em Brasília (DF), Gustavo Dias Henrique se tornou, neste ano, o primeiro natural do Distrito Federal a integrar a vice-presidência da entidade. Assim como outros integrantes da vice-presidência, representa um estado com pouco destaque no futebol nacional.

Não há nenhum time representante do DF nas Séries A, B ou C do Campeonato Brasileiro, característica que divide com Roraima, estado do presidente eleito Samir Xaud.

Na direção da CBF, porém, Henrique não é o primeiro cartola brasiliense a ascender ao poder. O carioca Weber Magalhães, ex-presidente da Federação Brasiliense de Futebol (FBF), foi o primeiro. Pela primeira vez, porém, haverá alguém nascido na região.

O dirigente já havia sido eleito vice-presidente em março, na chapa de Ednaldo Rodrigues, escolhido de forma unânime e destituído 50 dias depois pelo TJ-RJ sem quase apoio algum.

Na diretoria de Xaud, Henrique terá a função de transitar pelos salões do poder em Brasília, onde possui familiaridade. Ao contrário de outros membros da diretoria, iniciou a carreira no esporte como jogador. Foi lateral-esquerdo das categorias de base do Brasília, time mais tradicional do DF.

José Vanildo da Silva

Presidente da Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol (FNF), José Vanildo da Silva é mais um representante do Nordeste na nova diretoria da CBF. Um dos mais longevos dirigentes do futebol brasileiro, já garantiu continuidade à frente de sua federação estadual até 2030.

Advogado, Silva assumiu a presidência da FNF pela primeira vez em 2007, após a renúncia do antigo mandatário, Alexandre Cavalcanti. Três anos depois, houve uma mudança no estatuto da entidade, com base em alterações da própria CBF, prorrogando seu mandato por mais quatro anos. Em 2012, garantiu que seu mandato, que seria encerrado em 2014, fosse prorrogado até 2019.

Um ano antes do fim desse novo período, antecipou a Assembleia Eleitoral, garantindo mais uma reeleição até 2022. Essa estratégia de antecipar a reeleição voltou à tona em janeiro de 2021, quando garantiu mandato até 2026. No final de 2024, já renovou sua presença à frente da FNF até 2030.

Ou seja, José Vanildo da Silva pode ficar ao menos 27 anos no poder, algo impensável em boa parte das entidades esportivas, que obedecem a um artigo da Lei Pelé, ratificado na Lei Geral do Esporte em 2023, que limita os mandatos a apenas uma reeleição. Como não recebe verba pública, a FNF pode se dar ao luxo de não seguir tal regra.

A vice-presidência da CBF não é algo novo para o dirigente potiguar. Ele já exerceu o mesmo cargo durante as gestões de Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, ambos banidos do futebol pela Fifa após acusações de corrupção.