Dirigente diz que Liga Portugal ficou para trás por não vender direitos de forma conjunta

Pedro Proença, durante palestra no Sports Summit, em São Paulo (SP) - Adalberto Leister Filho / Máquina do Esporte

No momento em que há discussão no Brasil para a formação de uma liga de clubes para gerir o Brasileirão, Portugal mira na obrigatoriedade de haver uma negociação conjunta para a venda dos direitos comerciais de sua liga nacional.

“Acho que nós, da Liga Portugal, perdemos pelo menos mais de uma década ao não ter esses direitos centralizados no início desse processo”, afirmou Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, que está em São Paulo (SP), onde fez palestra durante o Sports Summit.

Para o dirigente, o crescimento econômico da liga não é a razão mais importante para a centralização da venda dos direitos comerciais do campeonato.

“A grande razão é não termos um produto homogêneo. Não temos um modelo , em que o primeiro e o 18º colocado cumprem exatamente as mesmas regras. Não temos um modelo de controle econômico dos clubes que obrigue que as verbas que recebemos sejam investidas nomeadamente em infraestrutura, gramado, iluminação, na qualidade do produto”, analisou Proença.

Outro problema é a liga se organizar para combater de forma mais eficiente a pirataria, tanto na transmissão de jogos como de produtos dos times sem licenciamento oficial.

“Na Europa, cerca de 60% dos valores de direitos audiovisuais ficam em quem faz pirataria. Não podemos ter um modelo concentrado e internacionalizar a Liga Portugal, o que só poderá ser feito se tivermos o modelo centralizado”, apontou o dirigente.

Proença, por conta da experiência com a liga portuguesa, defende que seja adotado um modelo semelhante no Brasil. Para ele, é inviável exportar a futura liga brasileira se times como Flamengo e Corinthians venderem seus direitos de maneira individualizada.

Intervenção estatal

Em Portugal, esse modelo centralizado será implantado após intervenção estatal. É algo semelhante ao que já aconteceu com a LaLiga (Espanha) e a Serie A (Itália), por exemplo.

“A recomendação que eu dou para o futebol brasileiro é: quanto mais cedo fizerem, mais cedo haverá o produto”, ensinou o português.

Em 2021, o governo federal aprovou uma lei que determina a comercialização centralizada dos direitos de TV da primeira e segunda divisões de Portugal. Há um período de transição até a implantação da regra, que está prevista para 2028.

Quem não se adequar à lei estará impossibilitado de disputar os campeonatos de futebol profissional no país. Para Proença, foi necessária a intervenção estatal para que esse processo acontecesse.

“Os grandes clubes se habituaram a fazer negociação individualizada. Aí, a intervenção governamental foi fundamental”, explicou o dirigente.

Com a lei, a Liga Portugal espera que possa diminuir a disparidade de arrecadação entre os principais times do país (Benfica e Porto) e os clubes menores.

Brasil

O Brasil vive um processo de formação de sua liga, prevista para começar em 2025, quando terá terminado o atual contrato de direitos de transmissão da Série A do Brasileirão.

Por enquanto, os clubes estão divididos entre a Liga do Futebol Brasileiro (Libra), que tem a adesão de 18 clubes, incluindo os dois de maior torcida (Flamengo e Corinthians) e a Liga Forte Futebol (LFF), que conta com a participação de 26 equipes.

“Acho que o Brasil está a perder oportunidades. Na Europa, todos os grandes campeonatos têm ligas à frente. Futebol profissional é uma área muito especializada. No momento em que o Brasil fizer isso [criar sua liga], com a capacidade que tem de produzir jogadores, vai ter um salto qualitativo muito grande”, resumiu o dirigente.

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