Dinamarca e Hummel protestam contra o Catar na camisa da Copa do Mundo

As denúncias de violações de direitos humanos, praticadas inclusive contra trabalhadores que participaram das obras da Copa do Mundo deste ano, continuam atingindo em cheio a imagem do governo do Catar. Agora, o país do Oriente Médio e sede da maior competição de futebol do planeta tornou-se alvo de um protesto feito por uma das seleções que disputarão a competição.  

Nesta quarta-feira (28), foi anunciado o novo uniforme da Dinamarca para o Mundial de 2022. O material é produzido pela Hummel que, apesar de ter sido fundada na Alemanha, tem sua sede no país nórdico desde 1970.  

O que mais chama a atenção na camisa da seleção dinamarquesa é o fato de o escudo do time e a logomarca da empresa serem quase invisíveis, uma vez que foram feitos praticamente no mesmo tom do uniforme. O efeito estético inusitado tem sua razão de ser. Foi a forma encontrada por Hummel e Dinamarca para protestarem contra as violações de direitos humanos ocorridas no Catar.  

Na publicação em inglês da apresentação da nova camisa feita no Twitter, a Hummel afirmou: “Não desejamos estar visíveis durante um torneio que custou as vidas de milhares de pessoas”.  

Violações trabalhistas

Em maio deste ano, a Anistia Internacional, o Human Rights Watch e mais oito outros grupos de direitos humanos solicitaram à Fifa a doação de US$ 440 milhões para a criação de um fundo de compensação para centenas de milhares de trabalhadores migrantes que teriam tido seus direitos violados durante as obras da Copa de 2022.  

O Catar foi escolhido pela Fifa como sede da Copa deste ano em 2010. Visando preparar Doha para o evento, o governo do país investiu US$ 220 bilhões na construção de estádios e infraestrutura. Essas obras acabaram por atrair centenas de milhares de trabalhadores migrantes, vindos especialmente de regiões pobres de países asiáticos como Nepal, Índia, Bangladesh e Paquistão.  

Até 2017, vigorou no Catar o sistema kafala, em que o trabalhador migrante sem qualificação precisava recorrer a uma espécie de “patrocínio”, geralmente de seu empregador, responsável pelo visto. Empresas acabavam confiscando os passaportes dos operários, que recebiam péssimos salários e eram submetidos a condições de semiescravidão, segundo denúncias feitas por ONGs de direitos humanos.  

Denúncias de abusos persistem

O sistema kafala foi abolido, mas as denúncias de violações de direitos humanos persistem. Em agosto deste ano, 60 trabalhadores migrantes foram deportados do Catar por protestarem contra o não pagamento de seus salários. De acordo com a ONG Equidem, especializada em direitos trabalhistas, alguns estariam há sete meses sem receber da empresa de construção e engenharia Al Bandary.  

As violações aos direitos das mulheres e das minorias religiosas também são temas de constantes denúncias feitas pela comunidade internacional.

No anúncio da nova camisa da Copa do Mundo de 2022, a Hummel ainda destacou que “Nós apoiamos a seleção da Dinamarca de todas as formas. Mas isso não é o mesmo que apoiar o Catar como país anfitrião”.  

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