Em transição para SAF, Bahia sonha alto, mas não promete títulos à torcida no curto prazo

Apesar da perspectiva de investimento de R$ 1 bilhão com a venda de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Bahia para o City Football Group (CFG), Guilherme Bellintani, presidente do clube baiano não promete títulos à torcida.

No passado, o Bahia já conquistou duas vezes o Brasileirão. Em 1959, ao vencer na final o poderoso Santos de Pelé pela antiga Taça Brasil, e em 1988, ao derrotar o Internacional na decisão. A realidade atual é outra. Mesmo estruturado, o clube baiano vem de uma temporada na Série B, na qual reconquistou o acesso para a elite.  

“Eu tenho certeza de que a ambição do clube no médio e longo prazo é voltar a disputar títulos nacionais. Agora há também uma certeza de que o projeto vai ser aplicado passo a passo, gradativamente, sem exagerar na expectativa do curto prazo”, afirma Bellintani, em entrevista à Máquina do Esporte.

“A gente sabe o quanto o futebol brasileiro é competitivo, o quanto vai receber investimentos nos próximos anos e o quanto ainda o Bahia está distante dos grandes orçamentos do futebol brasileiro mesmo com a SAF”, acrescenta o dirigente.

Médio prazo

Para o presidente do Bahia, com o montante dos aportes financeiros que o Grupo City fará ao time, esse objetivo pode ser atingido, mas dentro de alguns anos.

“Ao mesmo tempo em que é preciso voltar a disputar títulos nacionais no médio prazo tem sempre o cuidado para não parecer que estamos criando uma expectativa além do que a realidade nos impõe”, pondera Bellintani.

O dirigente conta que procurou deixar claro para a torcida, desde os primeiros passos de apresentação do projeto de venda da SAF do Bahia ao Grupo City, que disputar títulos como o do Brasileirão ainda é uma ambição distante.

“Teremos o Brasileirão com as SAFs estruturadas do Bahia, Vasco, Botafogo e Cruzeiro e outros clubes que, independentemente de não serem SAF, têm um poder econômico muito grande, como Palmeiras, Flamengo, Corinthians, Internacional, Grêmio, Athletico Paranaense e vários outros. Não tem vaga de campeão brasileiro para todo investimento alto”

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia

Gestão e governança

Para o dirigente, porém, clubes mais adiantados em adotar o regime da SAF, como Botafogo e Cruzeiro, já mostraram melhorias de gestão e governança. Com isso, subiram de patamar no futebol brasileiro.

O Botafogo deixou de ser um clube que lutava para não cair e, sem maiores atropelos, conquistou uma vaga na Copa Sul-Americana de 2023. Já o Cruzeiro fez campanha consistente na Série B do Brasileirão e voltou à primeira divisão após ausência de três anos.

“É muito claro que a chegada da SAF gera mudança de patamar econômico, inclusive de estruturação no curto prazo. Mas isso não significa que os títulos chegarão. É um processo gradativo, é resultado de um processo longo e a estruturação de Cruzeiro e Botafogo mostra isso”, analisa Bellintani.

Dívidas

Da injeção de investimentos prevista para o Grupo City aportar no Bahia, R$ 300 milhões serão destinados ao pagamento de dívidas. De acordo com o relatório XP/Convocados, que analisa o balanço dos principais clubes brasileiros, as dívidas do Bahia eram de R$ 176 milhões em 2021.

No entanto, de acordo com auditoria feita pelo clube, esse montante pode chegar próximo dos R$ 300 milhões previstos de investimento do CFG para zerar os débitos do time. Mas, isso também será feito aos poucos.

“Nosso contrato prevê que dívidas serão pagas em duas ou três etapas, a partir da identificação de certeza. Dívidas constituídas, que são de fato devidas, serão pagas em curto prazo. Há outro grupo de dívidas em que há divergência de valores. Apesar de o Bahia reconhecer ser devedor, não concorda com os valores. E existe um terceiro grupo em que o clube não concorda que é devedor”

Guilherme Bellintani, presidente do Bahia

“O certo é que o Grupo City é responsável pela quitação integral da dívida. O Bahia é a única das grandes SAFs constituídas em que investidor tem obrigação quitar toda dívida”, completa.

Categorias de base

Apesar de já contar com um Centro de Treinamento estruturado, pelo contrato, o CFG irá investir R$ 200 milhões em reformas do espaço e melhorias gerais, entre outras despesas com infraestrutura. Tudo para que o espaço seja de primeiro nível e capaz de revelar jogadores que possam se tornar bons negócios no mercado de transferências para o Grupo City.

“Temos um CT bem moderno, que foi inaugurado em janeiro de 2020. Estão previstos novos investimentos que não foram feitos por causa da pandemia, que chegou dois meses depois da inauguração”, conta Bellintani.

O primeiro passo para a reestruturação da área no Bahia foi a contratação de Marcelo Teixeira, ex-Athletico, como diretor executivo das categorias de base. Teixeira teve passagem pelo Fluminense, outro clube conhecido por revelar atletas, entre 2011 e 2019. O dirigente também foi scout do Manchester United na América do Sul por quatro anos e dá aula na CBF Academy.

Time feminino do Bahia irá jogar a Série A do Brasileirão em 2023 – Felipe Oliveira /Bahia

Outra medida é a ampliação de equipamentos. De acordo com o presidente do Bahia, da área de 300 mil metros quadrados do Centro de Treinamento, o clube hoje ocupa apenas metade do terreno. Há cinco campos para as diferentes categorias treinarem. Esse número deverá ser bem ampliado com as reformas.

“Deverão ser feitos investimento em melhoria de equipamentos, construção de mais campos e do alojamento do [time] feminino. Tudo isso ocupa a primeira fase de investimentos, que já deve começar em 2023”, conta o dirigente, ressaltando que a SAF também prevê investimento no time feminino do Bahia.

Na última temporada, a equipe chegou às semifinais da Série B do Brasileirão Feminino e garantiu o acesso para a elite em 2023.

Contratações

Há ainda uma verba de R$ 500 milhões para a contratação de jogadores e melhoria do elenco. Que a torcida não pense que o Bahia irá se tornar um dos times mais caros do futebol brasileiro. Esse investimento será diluído ao longo dos anos. Mas, para Bellintani, o montante desembolsado pelo Grupo City no Brasil poderá ser ainda maior.

“Esse é o investimento mínimo. Pelo que eu vi na negociação do projeto, me parece que o investimento final ao longo do processo será razoavelmente maior do que isso”, afirma ele.  

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