O Botafogo foi o primeiro clube grande do país a implantar um modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Um ano após a aprovação da Lei da SAF pelo Congresso Nacional, o clube colhe os primeiros frutos da iniciativa, que culminou, em março, com a venda da SAF do time para o empresário norte-americano John Textor.
“A SAF permitiu, primeiramente, a captação de investimentos em equity [ações], possibilitando a entrada de novos recursos de curto prazo para cumprimento das obrigações passadas e equalização das contas correntes”, contou Thairo Arruda, diretor geral da SAF do Botafogo, em entrevista à Máquina do Esporte.
Para o executivo, a entrada de recursos, utilizados para o pagamento de dívidas mais urgentes e investimentos no elenco, não é o único fator que fez o Botafogo melhorar de patamar. A migração para clube-empresa ajudou a implementar outras mudanças no clube.
“A SAF também possibilitou a implantação de uma gestão profissional e eficiente. Na prática o que muda é que posições estratégicas do clube agora são ocupadas por especialistas em cada área e há um dinamismo muito maior na tomada de decisão”
Thairo Arruda, diretor geral da SAF do Botafogo
Para o executivo, a mudança de mentalidade se deve muito ao fato de o Botafogo ter atraído a atenção de um investidor dos Estados Unidos, o maior mercado da indústria do esporte.
“Sob o olhar do John Textor, estamos constituindo uma equipe de profissionais de alto nível na área corporativa, buscando a excelência nos diversos setores para além do futebol. Isso inclui a implementação de novos processos de gestão, normas e reestruturação organizacional”, disse Arruda.
“[Estamos] Plantando sementes para buscar os melhores resultados. O John nos dá suporte e incentiva, mas também cobra bastante [risos]. Temos convicção de que estamos no caminho certo”, acrescentou.
Ganho técnico
Por enquanto, a torcida ainda critica muito o desempenho esportivo do Botafogo. O time foi semifinalista do Cariocão (acabou eliminado pelo Fluminense, futuro campeão) e ocupa atualmente apenas a 12ª posição no Campeonato Brasileiro, com 25 pontos.
“A SAF Botafogo está trabalhando com seriedade na reestruturação e seguindo seu planejamento estratégico”, afirmou Arruda.
Para uma torcida acostumada a ver o Botafogo jogar a Série B ou lutar para não cair, é inegável que a Estrela Solitária ocupa atualmente outro degrau na hierarquia do futebol brasileiro.
Se está a apenas quatro pontos da zona de rebaixamento, o clube, por outro lado, estaria classificado para a Copa Sul-Americana de 2023, caso o Brasileirão terminasse hoje.
Acostumado a crises financeiras periódicas e atraso nos salários, o clube se deu ao luxo de investir pesado na atual janela de transferências, que se encerrará na próxima segunda-feira (15).
Já chegaram a General Severiano sete reforços, todos vindos do exterior: o zagueiro Adryelson (ex-Al-Wasl); o lateral-esquerdo Fernando Marçal (ex-Wolverhampton); o volante Danilo Barbosa (ex-Nice); os meias Eduardo (ex-Al Ahly), Gabriel Pires (ex-Benfica) e Jacob Montes (ex-Crystal Palace); e o atacante Luis Henrique (ex-Olympique de Marselha).
“Não é num passe de mágica que as coisas vão mudar. Mas, aos poucos, na linha do tempo, os resultados vão surgir. John Textor, em várias oportunidades, frisou os seus planos para ver o clube forte e vencedor novamente, e tem investido bastante para essa realização”, defendeu Arruda.
SAF como solução
Para Arruda, a lei, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em outubro, já é um sucesso no país por ter propiciado transformações importantes em clubes tradicionais, como Vasco, Cruzeiro e o próprio Botafogo.
“A SAF é, sem dúvidas, um caminho irreversível para o futebol do país. Há ainda necessidade de amadurecer o entendimento da lei em alguns pontos”, destacou.
Arruda contou que esteve em um seminário em São Paulo nesta semana, com a participação de advogados, políticos e dirigentes, e a reestruturação do futebol brasileiro por meio da SAF foi tema central da discussão.
“[Houve] várias frentes diferentes buscando equilíbrio e harmonia através de aprofundamento no tema. O Brasil, seus clubes, poderes e a Justiça estão empenhados em fazer dar certo”, declarou.
Para ele, o modelo associativo, que gerou enormes dívidas e crise financeira para clubes tradicionais do futebol brasileiro, está fadado ao passado. A SAF pode ser a solução.
“Vale destacar a atenção e a relevância que a imprensa tem dado ao tema SAF. De forma construtiva, há uma percepção coletiva, na minha opinião, de que o modelo tradicional de gestão dos clubes está esgotado”, analisou.
Reorganização
No Botafogo, a vinda de um investidor deu condições para que o clube reformulasse sua gestão e governança.
“Encontramos o clube muito enxuto em número de funcionários e com cargos e salários defasados, até mesmo pelo estrangulamento financeiro vivenciado. Trouxemos mais de 20 novos funcionários e redefinimos a política de cargos e salários”, revelou Arruda.
“Com isso, pudemos evoluir em redesenhar os processos das áreas e iniciar os projetos de curto e médio prazo. Temos ainda muitos desafios pela frente, mas a evolução já é muito evidente. É verdadeiramente uma revolução interna o que estamos realizando”, completou.
Para ele, com a reestruturação administrativa do Botafogo, é possível a retomada das glórias do passado em um futuro próximo.
“A SAF é um caminho sem volta para o produto futebol brasileiro. A lei acomodou de forma harmônica os interesses diversos e se tornou uma janela de oportunidade histórica para o resgate de clubes tradicionais como o Botafogo. As cartas estão sendo novamente embaralhadas, e a SAF tem um horizonte glorioso pela frente”, finalizou.