Especial SAF: Pioneiro no Brasil, Cruzeiro não tem prazo para recuperação financeira plena

Primeiro clube de massa do Brasil a implantar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF), a diretoria do Cruzeiro não estipula um prazo para a recuperação financeira do time. No entanto, no marco de um ano de aprovação da lei da SAF pela Câmara Federal, a evolução do Cruzeiro esportivamente falando é evidente.

“É muito difícil colocar um prazo nisso, ainda mais quando se fala em recuperação financeira plena. Certamente vão demorar anos até que o Cruzeiro esteja saudável de maneira completa. Mas trabalharemos no dia a dia para conseguir isso no menor espaço de tempo possível”, afirmou Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro, em entrevista à Máquina do Esporte.

“Com boa gestão, transparência nas finanças, é possível recuperar um clube tão endividado como o Cruzeiro”, completou.

Se ainda enfrenta ameaças constantes de transfer ban devido a dívidas passadas, o Cruzeiro já ensaia uma recuperação de desempenho no futebol brasileiro, apesar dos poucos meses em que Ronaldo Nazário assumiu a SAF do clube.

Melhoria de desempenho

Neste ano, o Cruzeiro já chegou à final do Campeonato Mineiro, feito que não alcançava desde 2019, antes de mergulhar em grave crise financeira e técnica. Na decisão, perdeu para o Atlético-MG, em um momento muito mais rico financeiramente falando, por 3 a 1.

Três anos após cair para a Série B do Brasileirão, o time mineiro mostra sinais de que está próximo de alcançar seu principal objetivo na temporada: retornar à elite do Campeonato Brasileiro.

Mesmo sem ter o elenco mais caro e badalado da Série B do Brasileirão, o Cruzeiro mantém a liderança da competição, com 49 pontos. O clube acumula uma gordura de 9 pontos em relação ao Bahia, o vice-líder, e tem vantagem de 16 sobre o Londrina, o primeiro time fora do G4.

“A SAF ajuda porque é um modelo de governança que exige responsabilidade dos administradores. Se eu cometo um erro grave ou má-fé, é o meu CPF que está lá assinando por todos os atos daquela sociedade”

Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro

Esse desempenho esportivo é, sem dúvida, influenciado pela melhoria na gestão e equalização de receitas e despesas que o modelo da SAF, implementado no Cruzeiro, possibilitou.

“A SAF ajuda porque é um modelo de governança que exige responsabilidade dos administradores. Se eu cometo um erro grave ou má-fé, é o meu CPF que está lá assinando por todos os atos daquela sociedade”, exemplificou Lima, trazido por Ronaldo ao Cruzeiro após comandar o Valladolid, da Espanha, outro clube pertencente ao ex-atacante.

“Acho que não resolve, mas ajuda muito. Nesse sentido, ela traz responsabilidades pelos administradores. Você tem um dono que exige resultado, que não quer perder dinheiro”, acrescentou.

Desafios enfrentados

O CEO do Cruzeiro evita comentar sobre um passado nem tão distante em que os gastos superavam em muito as receitas do clube, obrigando o time mineiro a garantir receitas de premiação por títulos ou com venda de jogadores. Quando o desempenho esportivo não veio, as finanças degringolaram.

“Não gosto de falar de problemas dessa ou daquela gestão. Prefiro falar de como temos enfrentado as coisas. Temos a nossa característica de gestão que é pautada por um extremo compromisso orçamentário”, afirmou Lima.

“O principal desafio que encontramos foi definir as bases orçamentárias e garantir que colocássemos de pé as ferramentas para cumprir esse orçamento em todas as áreas”, completou.

“Um dos principais desafios é entender como serão as interpretações jurídicas sobre as dívidas das associações em relação à SAF. Esperamos e confiamos na Justiça brasileira, e que a lei seja cumprida”

Gabriel Lima, CEO do Cruzeiro

Outro desafio enfrentado foi a grande mudança, promovida por Ronaldo, de profissionais nos cargos de comando nas mais diversas áreas do Cruzeiro.

“Fizemos uma troca muito grande na gestão, trazendo novos executivos, gente que não necessariamente era oriunda da indústria do futebol. Então, leva tempo para você colocar todo esse time em campo e garantir uma organização e uma fluidez de comunicação e de processos. Esses foram os maiores desafios”, analisou.

Dívidas preocupam

O enorme rombo financeiro de administrações passadas ainda é um fantasma presente no dia a dia da gestão do Cruzeiro. Segundo o Relatório XP/Convocados sobre o balanço financeiro dos principais clubes brasileiros, o Cruzeiro fechou 2021 com dívidas totais de R$ 723 milhões, o que representou um aumento de 9,2% em relação a 2020.

A resolução sobre quem é o responsável pelo pagamento desse passivo segue sendo um pesadelo para a administração atual.

“Um dos principais desafios, na minha opinião, é entender como serão as interpretações jurídicas sobre as dívidas das associações em relação à SAF. É um tema que preocupa bastante. A gente tem bastante atenção nesse sentido. Esperamos e confiamos na Justiça brasileira, e que a lei seja cumprida”, avaliou Lima.

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