O Coritiba é mais um clube que criou sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF) após a aprovação da Lei da SAF, há um ano. Mas busca criar seu próprio caminho, em alguns aspectos diferente dos projetos já implementados em Cruzeiro e Botafogo ou recentemente aprovado no Vasco.
“A Lei da SAF possui três pilares fundamentais. Em primeiro lugar, trouxe mecanismos de reestruturação das dívidas, dando condições para que os clubes que quiserem enfrentá-la pudessem escolher um dos três modelos disponíveis [recuperação judicial, recuperação extrajudicial e Regime Centralizado de Execuções]. Como segundo ponto, estabelece um modelo de gestão profissional. O terceiro pilar é a possibilidade de ter um investidor”, analisou Lucas Pedrozo, head administrativo e financeiro do Coritiba, em entrevista à Máquina do Esporte.
Reestruturação da dívida
O Coritiba escolheu o caminho da recuperação judicial, aprovada em março, para a criação da sua SAF. O endividamento é um problema que o time paranaense terá que enfrentar aos poucos. Na última terça-feira (9), houve um revés na Assembleia Geral de credores do Coritiba, que suspendeu o plano de pagamento apresentado. Agora, o clube terá um prazo de 15 dias para reformulá-lo e apresentar nova proposta.
Antes do pedido de recuperação judicial, o Coritiba já havia aderido a um novo programa para o parcelamento de sua dívida fiscal.
“A SAF está criada. Hoje não tem ativos, mas existe. Nossa preocupação é fazer o melhor negócio para a instituição”
Lucas Pedrozo, head administrativo e financeiro do Coritiba
“Durante a pandemia, surgiu o Perse [Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos], que ofereceu prazo e desconto melhor do que o Profut. Saímos do Profut e entramos no Perse, que reduziu a dívida fiscal entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões. Reduzimos o total para cerca de R$ 100 milhões”, contou Pedrozo.
“Isso melhorou o fluxo de pagamentos e o fluxo de caixa porque também as parcelas são menores”, acrescentou.
Segundo o Relatório XP/Convocados, o Coritiba encerrou 2021 com dívidas de R$ 225 milhões. Isso representou uma queda de 6,64% no endividamento, mesmo considerando o fato de o clube ter enfrentado um ano difícil, com restrições por causa da pandemia e perspectiva menor de arrecadação por estar disputando a Série B na época.
Busca de investidores
Com a SAF criada, o Coritiba delegou para a XP a busca por investidores. Por enquanto, não há uma proposta formal para o time paranaense. Houve apenas sondagens, que ainda podem evoluir. Mas a diretoria não tem pressa em fechar negócio.
“A SAF está criada. Hoje não tem ativos, mas existe. Nossa preocupação é fazer o melhor negócio para a instituição”, afirmou Pedrozo, que ainda explicou qual é o perfil do investidor buscado.
“Queremos ter alguém com a mesma preocupação de pagamento da dívida, um parceiro que queira fazer um projeto sustentável a longo prazo, que tenha vontade de formar jogadores, busque ganhos esportivos e crescimento da torcida, e respeite as tradições do clube”, apontou o executivo.
Desafios do presente
Atualmente, o principal desafio do Coritiba é se manter na Série A do Brasileirão. O clube perdeu 4 dos 5 últimos jogos no torneio, ocupa a 15ª posição na classificação geral e está apenas um ponto à frente do Fortaleza, o primeiro time dentro do Z4.
Para fazer frente a esses desafios, o clube busca uma melhoria de gestão que seja capaz de impactar no desempenho em campo.
“Hoje, o Coritiba possui uma governança muito melhor do que no passado. As funções estão muito bem definidas em cada área aqui dentro, temos compliance, além de responsabilidade social e ambiental”, contou Pedrozo.
Sustentabilidade e inovação
Em julho, o Coritiba criou o programa ambiental “Nossa Identidade Verde”, aproveitando as cores do clube para expressar seu compromisso com a preservação de florestas nativas, como a Mata Atlântica, e a sustentabilidade.
“Com o Identidade Verde, o Coritiba assumiu um compromisso ambiental, com a busca de que todo o resíduo produzido no estádio [Couto Pereira] seja destinado à reciclagem, entre outras iniciativas. Buscamos certificações ambientais que vão nos credenciar como clube sustentável”, disse Pedrozo.
“Acredito que, no futuro, a sustentabilidade possa ser um requisito para o registro de um clube na CBF ou na Fifa”
Lucas Pedrozo, head administrativo e financeiro do Coritiba
O executivo afirmou que a busca pela sustentabilidade é um compromisso que tende a se tornar relevante para o futebol e o esporte em geral.
“Acredito que, no futuro, a sustentabilidade possa ser um requisito para o registro de um clube na CBF [Confederação Brasileira de Futebol] ou na Fifa”, destacou.
Outra iniciativa é o “Inova Coritiba”, tentativa de criar um ambiente de inovação dentro da estrutura administrativa do clube.
“Através do programa, queremos criar um ambiente que venha a favorecer o debate e a implantação de novas ideias nos mais variados setores do clube. O Inova Coritiba também irá nos ajudar a criar nosso modelo sustentável”, finalizou o executivo.