Fundada nesta terça-feira (3) com a adesão de apenas 8 de 40 clubes possíveis, a Libra, entidade que em tese representaria os times das Séries A e B do Campeonato Brasileiro e organizaria as duas competições, promete reduzir para 3,5 vezes a diferença entre o faturamento dos times de maior torcida com relação àqueles de menor tamanho.
Pelo menos é isso o que prometem os seis clubes que articularam a fundação da empresa: Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo. A proposta de divisão da receita arrecadada pela liga faz parte do anexo do documento entregue na reunião desta terça-feira (3) pelos seis clubes e pela Codajas Sports Kapital (CSK), empresa que montou o projeto de estruturação da Libra.
A ideia é que os times mais bem-remunerados, que seriam Corinthians e Flamengo, recebam, no máximo, 3,5 vezes mais do que aqueles que estão na parte mais baixa da tabela. Atualmente, a proporção é de 1 para 9, de acordo com alguns clubes ouvidos pela reportagem da Máquina do Esporte.
“Fizemos uma reunião após o encontro para estudar os estatutos e ver até que ponto eles são vinculantes aos princípios deles [fundadores da Libra] e se não haverá espaço para algo ser conversado. Mas ficou muito ruim, foi desconfortável. A prepotência dos considerados grandes durante o encontro foi grande”, disse Mário Celso Petraglia, presidente do Athletico-PR, em conversa com a Máquina do Esporte.
Petraglia foi o maior opositor à assinatura do acordo para a criação da Libra. Principal líder do movimento Forte Futebol, o dirigente conseguiu unir os demais clubes em torno de seus questionamentos.
“Ficou um clima de desencontro. Fomos para uma coisa [discutir a divisão de receitas de uma liga], mas eles queriam que procedêssemos de outra forma. A gente pediu que deixássemos os 20 clubes para assinar o estatuto na próxima semana em reunião na CBF, mas eles saíram de lá com a liga formada”, argumentou Petraglia.
O impasse sobre a divisão de receitas é o maior entrave para a formação da liga. Os articuladores da Libra acreditavam que, ao documentar que Corinthians e Flamengo querem reduzir a diferença de ganhos entre os clubes, os dirigentes adeririam ao projeto.
O problema é que a proporção sugerida pela Libra é muito similar à que havia de diferença dos clubes com maior receita daqueles de menor receita e que faziam parte do Clube dos 13, entidade que representava 19 clubes, em diferentes divisões do futebol nacional. O C13 foi implodido em 2010 pelos mesmos Corinthians e Flamengo, após a entidade montar um projeto multiplataforma de transmissão de jogos que prometia reduzir a possibilidade de venda exclusiva dos direitos a um grupo de mídia.
Desde então, os clubes negociam seus contratos para o Campeonato Brasileiro individualmente, o que criou essa diferença de arrecadação entre eles e foi a mola propulsora para se buscar uma união. Em junho do ano passado, os clubes se rebelaram contra a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e anunciaram que criariam uma liga, mas desde então têm tido dificuldade em chegar a um consenso de como será a divisão da receita entre eles.
A baixa adesão dos clubes à Libra (além do Flamengo e das equipes paulistas, apenas Cruzeiro e Ponte Preta, que hoje estão na Série B, assinaram o documento para serem sócios da empresa) após a reunião desta terça-feira (3) deixou mais dúvidas do que certezas sobre o futuro da organização.
Os 14 clubes da Série A que se recusaram a aderir à Libra prometeram, em nota divulgada na noite da mesma terça-feira (3), que estudarão nos próximos dias os estatutos propostos pela liga e de que forma poderiam aderir a ela.
No próximo dia 12 (quinta-feira), os clubes se reunirão na sede da CBF, no Rio de Janeiro. A ideia original era de que, ali, a principal entidade do futebol brasileiro desse sua “bênção” para a formação da liga. Possivelmente, no entanto, o encontro servirá para se discutir um pouco mais sobre a real possibilidade da liga finalmente sair do papel.