EXCLUSIVO: Sem acordo, Brasileirão 2024 pode ter blecaute de direitos internacionais e de apostas

Capitão Gustavo Gómez, do Palmeiras, ergue a taça de campeão brasileiro de 2023 - Cesar Greco / Palmeiras

A divulgação do Campeonato Brasileiro para o exterior e a transmissão das partidas em sites de apostas podem não acontecer em 2024. O contrato dos clubes com a 1190 Sports, que gere os direitos internacionais da competição, e com a Zeus Sports Marketing, que faz a distribuição das partidas para as plataformas de apostas, terminou no ano passado.

Uma proposta conjunta para os direitos internacionais e os direitos de apostas (betting) foi enviada em setembro tanto aos times que integram a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) como para as equipes da Liga Forte União (LFU). O prazo para fechar o novo acordo se esgota nesta sexta-feira (15) e até agora não houve resposta.

“O dano que uma liga pode ter por ficar em ‘black’ é muito grande. É atrasar seu crescimento internacional. Hoje, a Premier League fatura mais de direitos domésticos do que ganhava antes. Mas se olharmos o mercado internacional, esse valor multiplicou por 15”, argumentou Leonardo Caetano, diretor-geral da 1190 Sports, em entrevista à Máquina do Esporte.

Aumento

Apesar de ser uma proposta válida por apenas um ano, o contrato oferecido por 1190 e Zeus aos clubes brasileiros prevê um aumento de remuneração.

As empresas avaliaram que seria necessário esperar o início do novo ciclo do Brasileirão para oferecer um contrato de longa duração, válido por cinco anos (2025 a 2029), período em que os clubes da Libra já fecharam com a Globo para todas as plataformas no país.

“Já conquistamos uma presença muito forte no mercado latino-americano mesmo com um produto pensado exclusivamente para o Brasil”, contou Caetano, preocupado com a perda de mercado internacional, caso a renovação não ocorra ou continue sendo postergada.

Visibilidade

Sem firmar um novo compromisso, a 1190 Sports não poderá renovar acordos que hoje tem com cerca de 150 países em todo o mundo. Atualmente, os principais mercados da empresa são para América Latina (com ESPN), México (Univisión), EUA e Portugal.

Até o ano passado, a empresa distribuía os sinais das Séries A e B com narração em português, inglês, espanhol ou apenas com som ambiente. Segundo a empresa, a última edição do Campeonato Brasileiro foi distribuída em 13 idiomas diferentes.

“Temos a atratividade dos estádios feitos para a Copa [do Mundo de 2014] e imagens de boa qualidade [produzidas pela Globo]. Estamos atrás de Premier League, Bundesliga, LaLiga e Serie A [da Itália]. A partir daí, o Brasileirão só não é a quinta força por problemas nossos”, analisou Caetano.

“Quem assiste à liga grega ou belga, teria muito mais prazer em ver o Brasileirão”, acrescentou.

Para ele, caso haja esse blecaute internacional, o Brasil perderia mercado. Isso porque as TVs do exterior buscariam outras atrações para o lugar do Brasileirão, como o Campeonato Argentino ou a segunda divisão da Bundesliga.

Apostas

Pelo lado da Zeus, a ausência dos direitos de apostas para a distribuição às plataformas de apostas diminui a atratividade das opções disponíveis aos apostadores.

Para as empresas do setor, os horários de jogos do Brasileirão nunca foram um problema. O que interessa a essas empresas é ter atrações disponíveis 24h por dia para realização de apostas. Há clientes on-line em qualquer momento do dia, não importando o fuso horário.

Impasse

A falta de uma resposta para a proposta de contrato de direitos internacionais e direitos de apostas encontra-se em um impasse entre os dois blocos de times que disputam a hegemonia do Brasileirão. Segundo a Máquina do Esporte apurou, a Libra quer que a fatia paga ao seu bloco seja superior à remuneração dos times que integram a LFU.

Até o ano passado, o pagamento era igualitário para todos os times da primeira divisão, sem importar tamanho de torcida, audiência ou engajamento. Assim, Flamengo e Corinthians receberam o mesmo que Cuiabá e Goiás, por exemplo.

Já do lado da LFU há problemas considerados mais urgentes. O bloco de times conta com dez clubes que disputarão a Série B em 2024. E a Brax rescindiu o contrato com a segunda divisão, gerando um impasse para essas equipes que, por enquanto, estão sem contrato de direitos comerciais e de TV.

Por outro lado, a própria LFU ainda tenta negociar um contrato de TV de seu bloco para o próximo ciclo (2025 a 2029). Por enquanto, nada foi fechado, e a direção do Forte União sabe que dificilmente conseguirá valores iguais ao que os times da Libra conseguiram da Globo, mesmo contando com maioria (11 clubes) hoje na elite do Brasileirão.

Fator Corinthians

Um complicador adicional nessa história é que, atualmente, o Corinthians não tem contrato com a Globo, por não ter aderido ao acordo firmado pela Libra, assim como não aceitou a proposta da LFU, que havia oferecido um mínimo garantido ao time paulista.

A oferta do Forte União teria expirado logo após o time do Parque São Jorge receber uma proposta da Brax para a venda desses direitos de TV por R$ 240 milhões.

Na prática, 1190 e Zeus teriam que ter o aceite de Libra, LFU e Corinthians para haver a renovação do acordo. Como esse imbróglio está longe de ser solucionado, o risco de haver um blecaute internacional e de direitos de apostas para o Brasileirão 2024 é grande.

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