O X tem perdido relevância para os clubes brasileiros desde a compra do antigo Twitter pelo empresário Elon Musk, segundo um levantamento do Ibope Repucom. O bloqueio judicial da rede no Brasil, pedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro, representou apenas um novo capítulo da derrocada da plataforma, que já vinha em queda livre anteriormente, para os times do Brasil.
Segundo o instituto de pesquisa, a partir de 2023, a média mensal de novos seguidores no então Twitter entre os 50 maiores clubes do Brasil caiu para 129 mil. Esse número representa apenas 5% dos novos inscritos considerando as principais redes sociais (o levantamento inclui também Facebook, Instagram, YouTube e TikTok).
“Esse número despencou ainda mais em 2024, atingindo 56 mil novos seguidores mensais e um share de apenas 3%, colocando o X como a quinta plataforma em termos de crescimento de seguidores”, destacou Danilo Amâncio, coordenador de marketing do Ibope Repucom, à Máquina do Esporte.
Auge
Nem sempre foi assim. Entre 2021 e 2022, o Twitter ocupava uma posição de destaque entre as principais redes sociais trabalhadas pelos clubes brasileiros. A média mensal de novos inscritos foi de 348 mil em 2021 e 363 mil no ano seguinte.
A plataforma era a terceira principal no ganho de seguidores, com uma parcela de 17% em 2021 e 14% em 2022, contando as cinco principais redes sociais do país.
“Considerando todo o período, até os dias atuais, os cinco maiores resultados mensais de novas inscrições foram registrados justamente nesta fase antes de outubro de 2022, mês em que Elon Musk anunciou a aquisição da plataforma”, contou Amâncio.
“Esse momento marcou o ápice da performance do Twitter como motor de crescimento digital para os clubes nos últimos cinco anos”, acrescentou o executivo.
Bloqueio judicial
Segundo o Ibope Repucom, os cinco piores resultados mensais para os clubes brasileiros foram registrados nos últimos 12 meses. Nesse período, houve inclusive o primeiro saldo netegivo de seguidores, em setembro de 2024, aí sim, sendo resultado direto do bloqueio judicial da plataforma no Brasil.
“O bloqueio judicial da plataforma no Brasil gerou um impacto imediato: pela primeira vez na história, os clubes de futebol registraram um saldo negativo de novos seguidores”, revelou Amâncio.
A proibição do X no Brasil, ainda não revogada, gerou a perda de 56 mil seguidores entre os 50 maiores times do país.
“O evento [bloqueio judicial] apenas escancarou o declínio, mas é importante ressaltar que a plataforma já vinha perdendo relevância mesmo antes do bloqueio, com resultados em 2023-2024 na proporção de 30% do obtido em 2021-2022”
Danilo Amâncio, coordenador de marketing do Ibope Repucom
TikTok
Há outras razões que podem ter ajudado no declínio do X. Uma delas foi a ascensão de outras plataformas, como o TikTok, que passou a ser monitorado pelo Ibope Repucom para o Ranking Digital dos Clubes Brasileiros a partir de maio de 2020, em meio à pandemia de Covid-19.
“Com uma média anual consistente de 30% de participação no ganho de novos seguidores ano a ano, o TikTok se consolidou como o segundo motor de crescimento da base digital dos clubes, enquanto o X não conseguiu manter seu padrão de crescimento e hoje contribui 85% menos do que em 2022”, contabilizou o executivo do Ibope Repucom.
Amâncio, porém, ponderou que outras redes sociais mantiveram relevância mesmo assim. Foi o caso de YouTube e Facebook. Já o Instagram foi quem mais cresceu no período. Para o Ibope Repucom, isso mostra que o TikTok não foi o culpado pela degringolada do X no país.
Outras razões
Para Danilo Amâncio, ainda existem outras razões que contribuíram para o declínio do X no gosto dos brasileiros e sua perda de relevância para os clubes. Uma delas foi a mudança de uma marca consolidada (Twitter) para outra (X), realizada de julho a outubro de 2023.
“Mudanças estruturais, como a nova identidade visual e alterações no algoritmo, que passou a sugerir conteúdos de contas não escolhidas pelo usuário, impactaram negativamente o alcance orgânico dos clubes, a experiência do usuário e o resultado esperado”, apontou o executivo do Ibope Repucom.
Tantas mudanças em pouco tempo geraram a queda no engajamento dos torcedores, o que refletiu no declínio das inscrições na plataforma.
Polêmicas
A gestão do X também é apontada por Danilo Amâncio como outra razão para a perda de importância da rede de Elon Musk entre os torcedores brasileiros.
“As polêmicas em torno da moderação de conteúdos sensíveis e políticos também contribuíram para a queda de relevância do X”, disse o coordenador de marketing do Ibope Repucom.
O executivo também apontou outro fator que fez com que os clubes passassem a dar menos atenção às contas oficiais no X. Muitas empresas passaram a se preocupar com o ambiente pouco seguro da rede para a reputação de suas marcas.
Isso enfraqueceu as ações de patrocinadores, realizadas em conjunto com os clubes, para usar a plataforma social como canal de engajamento com torcedores e potenciais consumidores.
“Essa fuga de anunciantes afetou diretamente as estratégias de marketing dos clubes, que começaram a reduzir sua presença e investimentos no X”, destacou Amâncio.
Futuro
Para o executivo do Ibope Repucom, a expectativa de um desbloqueio iminente pode gerar um burburinho que seja positivo para a retomada do X no Brasil. De acordo com Danilo Amâncio, porém, isso não chega a ser uma boa notícia para a empresa de Elon Musk no Brasil.
“Considerando as tendências dos últimos anos e o avanço de outras redes, algumas concorrentes diretas como Threads e Bluesky, é improvável que o X recupere o espaço perdido no curto prazo, sobretudo sem novidades na experiência para os usuários e garantias de um ambiente seguro e confiável para as marcas”, analisou o executivo.
Para ele, as constantes mudanças nas plataformas sociais fazem com que os clubes migrem suas atenções e estabeleçam novas estratégias de engajamento digital com os torcedores para conquistar novos adeptos e agradar os antigos seguidores.
“O declínio do X é um lembrete de que, no mundo digital, a partida nunca está ganha. É preciso inovação constante e adaptação para manter-se relevante no jogo”, concluiu Amâncio.