Experiência, inclusão, tecnologia e sustentabilidade: Os pilares da Arena MRV

Arena MRV passou por teste de arquibancada com torcidas organizadas no último mês de maio - Divulgação / Atlético-MG

“A mais moderna, a mais inclusiva, a mais tecnológica, a que tem o assento mais barato [na comparação custo da obra por número de assentos] e a mais ecológica do país”. Estas foram as palavras de André Lamounier, diretor de comunicação, marketing e relações institucionais do Atlético-MG ao receber, nesta semana, a Máquina do Esporte e outros poucos veículos de imprensa na Arena MRV, novo estádio do clube, que fica localizado no bairro Califórnia, na região noroeste de Belo Horizonte (MG).

Erguido para comportar 46 mil torcedores em dias de jogos e até 66 mil pessoas em dias de shows, o estádio já passou por diversos testes, entre eles um jogo de estrelas do passado do clube para 20 mil pessoas. Agora, espera apenas por alguns laudos técnicos para marcar a data da estreia em um jogo oficial, o que pode ocorrer ainda neste mês de agosto. Para setembro, já há dois shows marcados, um no dia 6, com a dupla sertaneja Jorge & Mateus, e outro no dia 9, com a banda norte-americana Maroon 5 (com abertura da banda brasileira Jota Quest).

Impacto

Independentemente das características físicas, de toda a modernidade envolvida e do que o estádio promete proporcionar aos torcedores do time que terão uma casa para chamarem de sua, o impacto da Arena MRV no dia a dia financeiro do Atlético será de extrema importância para o clube, que teve a constituição de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no final do mês passado e o repasse de 75% dela para a Galo Holding, liderada pelos chamados “4 Erres”, grupo de investidores formado por Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Rafael Salvador, todos empresários e atleticanos.

Apenas com bilheteria em jogos, o Atlético pretende faturar cerca de R$ 80 milhões a partir de 2024. Além disso, se baseia nos números do Allianz Parque para mais do que dobrar a receita, ao incluir os shows. Há a noção, por parte do clube, de que Belo Horizonte é uma praça diferente de São Paulo e que o tíquete médio será mais baixo, mas há a expectativa de ao menos chegar perto do que arrecada o estádio do Palmeiras, tido como um dos mais modernos do país atualmente e que é responsável por grande parte dos maiores shows na capital paulista.

Por fim, o time mineiro ainda espera alavancar e muito o programa de sócios-torcedores para se tornar um dos maiores do país, assim como com os bares, que serão 45 no total.

“A inauguração da Arena MRV será, de fato, um marco transformador na vida do Atlético. Ela tem potencial de mudar tanto do ponto de vista financeiro, como do ponto de vista de torcida, de engajamento da torcida e de competitividade do clube”, afirmou Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG e da Arena MRV.     

Naming rights

Outra forma de impulsionar as receitas será com os naming rights. Já nascida com um acordo oficial para a propriedade, com a construtora MRV (cujo cofundador e CEO é Rubens Menin), a arena também já vendeu os sector naming rights, ou seja, o nome de cada setor do estádio (cadeiras inferiores, camarotes e arquibancada superior).

“Um estádio de futebol é uma infinidade de oportunidades de negócios. Uma coisa que foi muito boa para a Arena MRV é que é um estádio que já nasceu com um nome, e a gente também conseguiu vender os sector naming rights do estádio. O nível Inter é o nível superior de arquibancada, logo abaixo tem o setor de camarotes, que é ArcelorMittal, e o mais abaixo, mais próximo do campo, é o nível Brahma. Isso foi um impacto muito grande, tanto para a obra como para o Atlético”, destacou Rivelle Nunes, head de comunicação da Arena MRV.

Os valores de cada contrato, no entanto, não foram divulgados. O que o clube informou, por exemplo, é que, até o momento, o setor Brahma já teve cerca de 5.200 cadeiras vendidas para torcedores (60% do total). Agora, o Atlético estuda se manterá a estratégia e comercializará os 40% restantes para particulares ou se venderá ingresso para esses lugares jogo a jogo.

E os naming rights não param por aí. O centro de experiências já é propriedade da Fassa Bortolo, enquanto o ambulatório terá o nome da rede de laboratórios Hermes Pardini.   

Tecnologia

Desde o início das obras, o Atlético-MG já afirmava que a Arena MRV seria a mais tecnológica do Brasil. Para tentar fazer jus a esse título autoimposto, o estádio contará, entre outras coisas, com reconhecimento facial em todas as entradas, iluminação inteligente com led, dois telões de 144 metros quadrados e 100% de conexão à internet com wi-fi de última geração, também chamado de alta densidade.

Inclusão

Outro aspecto bastante comentado por todos os envolvidos no projeto da Arena MRV é a inclusão. O estádio terá, por exemplo, 3% dos assentos dedicados a torcedores obesos, enquanto todos os mais de 100 banheiros terão vasos sanitários para portadores de nanismo. Além disso, os elevadores instalados são maiores do que o normal para que os cadeirantes possam ter mais espaço.

Aqui, inclusive, vale lembrar a história do ponto cego, que invadiu as redes sociais após o evento com ex-estrelas do clube. Torcedores postaram fotos e reclamaram sobre o fato de que haveria uma área nas arquibancadas superiores em que aqueles que estiverem em determinados pontos não conseguirão assistir ao jogo por conta dos que estarão em pé junto ao guarda-corpo.

O clube aproveitou o tour com os jornalistas para explicar que não haverá torcedores junto ao guarda-corpo porque ali não se trata de área de passagem, mas sim para que deficientes físicos possam assistir às partidas. De acordo com o clube, a área de passagem será atrás desses lugares reservados para deficientes físicos. Nos dias de jogos, haverá seguranças postados para impedir que outros torcedores adentrem esse espaço e fiquem em pé, atrapalhando a vista dos que estiverem mais acima nas arquibancadas.

Local acusado de ponto cego por torcedores é, na verdade, espaço para deficientes físicos assistirem aos jogos – Divulgação / Atlético-MG

Sustentabilidade

O Atlético também fez questão de enaltecer o pilar de sustentabilidade do novo estádio. A construção preservou uma Reserva Particular Ecológica (RPE), que ocupa 30 mil dos 100 mil metros quadrados do terreno da Arena MRV. Neste espaço, que compreende duas nascentes, foi feito um trabalho de recuperação ambiental, o que era uma contrapartida da obra em um acordo assinado com a prefeitura de Belo Horizonte. Outra será o plantio de 46 mil árvores (número exatamente igual à capacidade do estádio) pelos parques da cidade em 10 anos.

Demais contrapartidas

Além disso, o clube ainda teve que realizar outras contrapartidas. Na área social, houve a criação do Instituto Galo, além da criação de um espaço dentro do estádio que será entregue à prefeitura para a instalação de um centro de línguas, um núcleo ampliado de saúde da família e uma academia da cidade.

Já no setor viário, ou seja, de mobilidade urbana, a Arena MRV foi responsável pela duplicação de um viaduto próximo ao estádio que já está sendo chamado de “Elevado da Massa”, além da criação de uma via marginal e da ampliação e requalificação de diversas ruas no entorno da obra.

Apesar de tudo isso, ainda há preocupação com o trânsito na região do estádio em dias de jogos e shows. Isso porque o sistema de metrô da capital mineira conta apenas com uma linha e também não há muitas linhas de ônibus que sirvam à região.

Vale lembrar, no entanto, que isso não é um problema apenas do novo estádio. Com relação à mínima infraestrutura de metrô, o Mineirão, principal estádio de Belo Horizonte e localizado ao lado de um dos principais pontos turísticos da cidade, a Lagoa da Pampulha, também sofre com muito trânsito em dias de jogos e shows.

Experiência

Por fim, o Atlético faz questão de ressaltar que o todo o conceito da arena foi pensado para que o torcedor do clube tivesse uma série de experiências ao sair de casa e se dirigir ao estádio para um momento de lazer. Para isso, toda uma acústica foi pensada, por exemplo, para fazer com que o fã se sinta parte da Massa, como é conhecida a torcida atleticana.

“O conceito principal é o caldeirão. Acho que não tem experiência melhor para o torcedor do que ouvir o próprio som da torcida dele. É impactante, inclusive, para o time que está jogando, porque a torcida fica muito próxima dos jogadores. Mas a arena foi pensada para ser multiuso, não só para jogos como também para shows e eventos, inclusive eventos simultâneos. E a ideia é levar a melhor experiência possível para quem estiver aqui, inclusive com detalhes como cabines de banheiro maiores, toda a questão da tecnologia, wi-fi para todo mundo, uma cozinha que fica estrategicamente colocada para que a comida pode chegar mais quente ao consumidor”, explicou Bernardo Farkasvolgyi, arquiteto da Arena MRV.

“E temos a questão da inclusão. Quando a gente fala em experiência, tem que ser uma experiência para todos, inclusive as pessoas com necessidades especiais. A gente considera a Arena MRV o estádio mais inclusivo do Brasil e talvez do mundo porque os portadores de necessidades especiais ficarão nos lugares mais privilegiados da arena, e não em setores separados. Eles poderão ficar em todos os setores porque eles são torcedores iguais aos outros”, acrescentou.

De acordo com Bernardo, o foco principal é que o torcedor que for assistir ao que quer que seja no estádio volte para casa feliz pelo que viveu lá dentro.

“Queremos que o torcedor venha aqui para ser feliz, para entender que isso aqui é uma experiência, para entender que isso foi projetado para gerar experiências positivas e felizes para todos os torcedores do Galo”, finalizou o arquiteto.

*O jornalista viajou a convite do Atlético-MG

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