Fifa ignora fundo indenizatório, mas diz que direitos trabalhistas foram aprimorados no Catar

Apesar de ignorar uma proposta de ONGs de direitos humanos para a criação de um fundo indenizatório para os trabalhadores explorados nas obras da Copa do Mundo do Catar 2022, a Fifa saudou elogio da Confederação Sindical Internacional (Ituc, na sigla em inglês) de que houve “progresso nos últimos anos” com a colaboração da entidade que comanda o futebol.

Segundo a Fifa, desde 2016 houve reversão da situação anterior, com leis de reforma, melhoria salarial e das condições de vida. Segundo a Ituc, as inspeções trabalhistas serão intensificadas durante a Copa do Mundo, incluindo vistorias extras nas condições de saúde e segurança para proteger os trabalhadores da exploração.

Em 2013, uma investigação da Ituc foi noticiada pelo diário britânico The Guardian, que mostrou que as jornadas de trabalho eram de 12h a 14h, em muitos dias com temperatura próxima de 50ºC. O Catar seguia o sistema de kafala, comum no Oriente Médio, no qual as empresas patrocinavam a chegada do trabalhador migrante, com direito a retenção de passaporte e uma série de abusos.

Segundo outra matéria do diário londrino, por causa das condições de trabalho precárias, ao menos 6.500 trabalhadores migrantes morreram durante a construção dos estádios e obras de infraestrutura para a Copa do Mundo do Catar. O Comitê Supremo para Entrega e Legado, comitê organizador da Copa, nega esses números.

Trabalho com OIT

Gianni Infantino, presidente da Fifa, que está morando no Catar, afirmou que a entidade trabalha para “promover um legado duradouro para os trabalhadores migrantes” do país em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência da Organização das Nações Unidas (ONU). Infantino saudou Gilbert Houngbo, ex-primeiro-ministro do Togo, que renovou seu mandato como diretor geral da OIT.

“Encantado por ter falado com o diretor geral da OIT, Gilbert Houngbo, para parabenizá-lo por seu novo mandato em um papel vital para o benefício dos trabalhadores em todo o mundo”, disse o presidente da Fifa.

“Fizemos progressos significativos nos últimos anos por meio da nossa colaboração sobre as condições dos trabalhadores no Catar, e estou ansioso por uma cooperação mais formalizada entre nossas instituições em escala global”, acrescentou.

Segundo a Fifa, desde sua primeira viagem ao Catar, Infantino deixou claro que era essencial que o país cumprisse as normas internacionais sobre direitos trabalhistas. O fato é que, por conta da visibilidade dada ao país por ser sede da Copa do Mundo, denúncias na imprensa têm sido constantes.

Ação das ONGs

Em agosto, a ONG Equidem, especializada em direitos trabalhistas, divulgou que 60 trabalhadores migrantes foram deportados após reclamarem de salários não pagos. O governo do Catar justificou a expulsão dos operários da construção civil alegando que eles “violaram as leis de segurança” do país.

Em maio, Anistia Internacional, Human Rights Watch e mais oito outros grupos de direitos humanos pediram coletivamente à Fifa que fosse criado um fundo de US$ 440 milhões para indenizar trabalhadores migrantes e suas famílias, os quais tiveram direitos trabalhistas desrespeitados durante as obras para a Copa do Mundo do Catar.

O valor é o mesmo que a Fifa destinará às premiações das seleções que disputarem o Mundial. Até o momento, a entidade máxima do futebol não se pronunciou sobre o assunto.

A federação alemã, porém, já divulgou que apoia a ideia. Já a Dinamarca e a Hummel, fornecedora de material esportivo da seleção do país, divulgaram a camisa da equipe para a disputa da Copa com logomarca e escudo quase invisíveis em protesto contra o desrespeito aos direitos humanos no Catar.

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