Ventilado na imprensa no primeiro semestre deste ano, o projeto de criação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Fluminense começa, enfim, a se materializar.
O time carioca, que fez a melhor campanha brasileira na Copa do Mundo de Clubes 2025, terminando em quarto lugar (à frente de gigantes como Bayern de Munique e Manchester City), deverá submeter em breve aos sócios a proposta elaborada pelo BTG Pactual.
A informação foi trazida pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, nesta segunda-feira (18). Em nota veiculada no mesmo dia, apesar de alegar a existência de “imprecisões” no texto do jornalista, o Fluminense acabou por confirmar que as conversas com o BTG existem.
O clube argumentou que a decisão sobre a criação e negociação da SAF não cabe à diretoria, mas sim à Assembleia Geral de Sócios, após o projeto ser aprovado pelo Conselho Deliberativo.
“À diretoria cabe apenas zelar para que as informações requisitadas pelo BTG estejam disponíveis. Assim que uma proposta formal for apresentada, ela será submetida aos poderes constituídos do clube, seus sócios e torcedores, com tempo suficiente para a discussão”, afirma a nota.
Fundo de investimento e Mário Bittencourt como CEO
A Máquina do Esporte teve acesso a alguns detalhes da proposta elaborada pelo BTG Pactual. O modelo apresentado pelo banco difere do que vem sendo adotado até o momento nas SAFs que foram negociadas no Brasil.
Em linhas gerais, os clubes optaram por negociar com grandes investidores individuais, sejam eles pessoas físicas, como Ronaldo Fenômeno e Pedrinho BH, no Cruzeiro, ou jurídicas, que são os casos da Eagle Football Holdings, no Botafogo, da 777 Partners, no Vasco, ou do City Football Group, no Bahia.
A proposta do BTG prevê a criação de um fundo de investimento, que contará com a participação de até 20 investidores, que seriam também torcedores do clube.
A escolha por esse formato seria evitar um drama que tem sido recorrente em algumas SAFs, nas quais os proprietários individuais tendem a ficar expostos à pressão da mídia e dos torcedores, como, por exemplo, nos momentos em que o time não obtém bons resultados em campo.
A estratégia prevê a manutenção de Mário Bittencourt no comando do Fluminense. Atual presidente do clube associativo, ele seria nomeado CEO da futura SAF. Vale lembrar que seu mandato na presidência se encerrará no fim deste ano.
Experiência do Atlético-MG
O modelo a ser implantado no Fluminense é parecido ao adotado pela SAF do Atlético-MG, em um projeto que também foi elaborado pelo BTG e que resultou na criação da Galo Holding, que detém 75% das ações da Sociedade Anônima.
No caso específico da equipe mineira, porém, as pressões da imprensa e dos torcedores costumam recair sobre os empresários Rubens e Rafael Menin, que detêm 41% do capital do fundo controlador da SAF atleticana.
No fim do mês passado, Rubens Menin viu-se forçado a quitar, do próprio bolso, salários atrasados do elenco, de modo a evitar uma crise que chegou a parar nos tribunais.
Atualmente, o Atlético-MG discute alterações na cláusula antidiluição presente no estatuto da SAF, que garante 25% do capital ao clube associativo, em qualquer circunstância. A norma é vista como um empecilho para a chegada de novos investidores.
Como será a divisão
A ideia é de que esse fundo de investimento compre 60% das ações da SAF do Fluminense, pela quantia estimada de R$ 500 milhões, sendo R$ 270 milhões pagos neste ano, R$ 150 milhões em 2026, e R$ 80 milhões em 2027.
Desse total a ser pago pelo grupo, R$ 250 milhões seriam aportados por dois investidores que encabeçariam o fundo. O restante ficaria por conta dos outros 18 membros do consórcio, que estariam encarregados de investir no mínimo R$ 10 milhões na SAF.
A partir de 2028, o fundo de investimento teria a opção de ampliar sua participação no capital para 85%, com os valores corrigidos pela inflação.
Caso a proposta venha a ser aprovada, o Fluminense poderá receber R$ 80 milhões para a aquisição de jogadores, já no primeiro ano de vigência da SAF.
O projeto ainda contempla a recompra de dívidas existentes da equipe. Segundo o mais recente balanço financeiro divulgado pelo Fluminense, relativo a 2024, o passivo total do clube associativo está em R$ 865,7 milhões. Por enquanto, não há uma data para o tema ser debatido pelo Conselho Deliberativo.