O movimento Forte Futebol, formado por dez clubes da Série A do Brasileirão, com apoio de mais equipes da Série B, defende que a diferença entre a cota mais alta de receita distribuída pela Libra e a mais baixa seja de 3,5 vezes. Hoje, segundo fontes ouvidas pela Máquina do Esporte, essa diferença é de até 8 vezes.
Para esses clubes, que não assinaram o termo de adesão à Libra na última terça-feira (3), na reunião entre os dirigentes, em São Paulo, o estatuto não deixa claro que combaterá a desigualdade na distribuição de receitas.
“Defendemos que essa diferença seja de 3,5 vezes entre o clube que mais ganha e o que menos ganha. A gente está falando de 350%. Não é pouca coisa. Na Premier League, essa diferença é de 1,6”, comentou Marcelo Paz, presidente do Fortaleza e um dos líderes do Forte Futebol.
Para o dirigente, essa é uma condição mínima para a adesão à Libra, já que a desigualdade econômica persistirá em outros setores alheios à divisão de verbas conjuntas.
“Naturalmente, os times do Rio e de São Paulo já têm mais força por causa de público [nos estádios] e contratos de patrocínio. A localização geográfica ajuda. Fazem deslocamentos menores, a logística é mais fácil”, contabilizou o dirigente, referindo-se à força econômica dos dois estados que faz com que o preço dos ingressos seja mais alto e haja empresas economicamente mais fortes patrocinando os clubes.
Busca pelo entendimento
Nos últimos dias, houve a aproximação entre os clubes que integram o Forte Futebol e times que fazem parte dos 12 grandes do país, mas que não assinaram o estatuto de criação da Libra. É o caso do Atlético-MG, atual campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil, e de Internacional e Fluminense. O Botafogo permanece independente.
Esse grupo acredita que possa costurar um acordo entre o Flamengo e os cinco paulistas (Corinthians, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo), que já assinaram o estatuto da Libra, e o Forte Futebol propondo um período de transição até que a liga garanta mais igualdade entre os participantes.
“Acho importante nós perseguirmos esse objetivo de 3,5. Sem dúvida nenhuma quebrará um paradigma no futebol brasileiro. Agora, isso tem que ser construído em conjunto. E precisa ter o entendimento de todos os clubes de que isso é viável. Isso envolve, na minha opinião, todas as receitas oriundas de televisionamento, sejam elas cotas fixas ou variáveis”, disse Alessandro Barcellos, presidente do Internacional, em entrevista à Máquina do Esporte.
Essa soma é que tem que ter a menor diferença possível. O número que se fala, de 3,5, é uma referência à LaLiga, que chegou nesse número. Mas não começou nele
A ideia de Barcellos é que, se necessário, haja uma transição para que os clubes maiores possam adequar suas finanças a esse novo patamar de ganhos. Outros clubes acreditam que a ideia seja razoável, desde que esse período tenha prazo para acontecer e que necessariamente atinja o objetivo de 3,5.
“O Internacional defende a busca do equilíbrio e, se necessário, um período de transição. É óbvio que, se isso não fosse necessário, todos os clubes concordassem que, a partir de amanhã, houvesse uma distribuição mais equânime, seria bárbaro. Mas eu sei que isso é quase impossível. Então, entre o ótimo e o nada, vamos ficar com o bom”, defendeu Barcellos.
O Internacional é um dos clubes que mantêm interlocução com os times do Forte Futebol buscando uma aproximação com os clubes da Libra.
“Tem interesse dos clubes que ganham mais, que não vão querer perder nada. Tem interesse dos clubes que ganham menos em crescer. E tem interesse daqueles que estão hoje entre os que ganham mais dos que ganham menos que também não podem ficar prensados nesse processo. Também querem crescer. É o nosso caso. Queremos aumentar nossa receita. Então, olhando para isso, até abrimos mão de algumas coisas, desde que as coisas andem e aconteçam”, afirmou o presidente colorado.
Para o dirigente, é preciso aprender com os melhores exemplos do futebol europeu e tentar implantá-los no Brasil. “Temos que pular etapas. Isso significa olhar para a liga espanhola hoje e ver que a maior diferença é de 3,5. É um paradigma a ser buscado. Esse é o trabalho que a gente precisa fazer”, finalizou Barcellos.