A Human Rights Watch, organização internacional não governamental que defende e realiza pesquisas sobre os direitos humanos, divulgou seu relatório anual e destacou abusos contra mão de obra migrante no Catar e Arábia Saudita.
A organização apontou “condições de trabalho exploratórias” sob o “sistema kafala” em projetos financiados pelo Fundo Soberano da Arábia Saudita (PIF), país que sediará a Copa do Mundo de 2034, e “legado de abuso generalizado” no Catar após o Mundial de 2022.
O sistema kafala é utilizado pelos Estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo para monitorizar os trabalhadores migrantes. Nele, os trabalhadores devem ter um “patrocinador” no país, que geralmente é seu empregador. Com isso, criam-se possibilidades de exploração dos empregados, o que faz do sistema um alvo de críticas de organizações de direitos humanos.
Arábia Saudita
A Arábia Saudita foi escolhida para sediar a Copa do Mundo de 2034 em um processo contraditório. A escolha foi feita a partir de uma licitação com prazos que praticamente impossibilitaram a candidatura de qualquer outro país.
Antes de oficializar a escolha, a Fifa realizou uma vistoria no país, que faz parte do processo. Mesmo com a maior parte da infraestrutura necessária para o Mundial ainda não existente, a entidade máxima do futebol deu a melhor nota de todos os tempos para o país, de 4,2. Estados Unidos, Canadá e México, que sediarão a edição de 2026, receberam nota 4 mesmo tendo todos os 23 estádios receberão os jogos já construídos.
“Os trabalhadores migrantes representam 42% da população do país. No entanto, apesar de suas contribuições, eles enfrentam abusos trabalhistas generalizados em todos os setores de emprego e regiões geográficas, e as autoridades sauditas estão falhando em protegê-los e remediar esses abusos”, exalta o relatório mundial de 2025 da Human Rights Watch.
O processo para escolha da sede da Copa do Mundo também envolve um relatório independente sobre direitos humanos. No caso da Arábia Saudita, o estudo teve o escopo limitado após pedido da Federação Saudita de Futebol (Saff).
O requerimento contou com anuência da Fifa, o que restringiu a abordagem para apenas os direitos humanos reconhecidos pelo país, que são mais restritos em relação aos estabelecidos pela entidade.
“O Sindicato Internacional dos Trabalhadores da Construção e da Madeira (BWI) apresentou uma queixa na Organização Internacional do Trabalho (OIT) contra a Arábia Saudita em relação às condições de vida e trabalho exploratórias entre os trabalhadores migrantes baseados no país antes da decisão da Fifa de conceder os direitos de sediar a Copa do Mundo”, seguiu.
Catar
Em 2022, o Oriente Médio recebeu a Copa do Mundo pela primeira vez. A edição no Catar, que terminou com o título da Argentina, também foi alvo de críticas por conta da situação de trabalhadores migrantes.
“A realização da Copa do Mundo de 2022 pelo Catar deixou um legado de abusos generalizados de mão de obra migrante, incluindo milhares de mortes inexplicáveis, roubo desenfreado de salários e taxas de recrutamento exorbitantes”, apontou o relatório.
“As autoridades do Catar e a Fifa falharam em compensar os trabalhadores abusados que tornaram o torneio possível. Os trabalhadores migrantes também enfrentaram novas formas de exploração após o término do torneio e correm o risco de o governo recuar nas reformas existentes”, acrescentou.
De acordo com a Human Rights Watch, ainda que Catar e Fifa afirmem que o sistema kafala foi abolido, os elementos abusivos seguem ativos no país. O relatório destaca que os trabalhadores seguem com dificuldade de mudar de emprego, principalmente por dependerem de aprovação de seus empregadores para se demitir. Assim, não podem buscar outras oportunidades ainda que não sejam pagos.