A realização de jogos de ligas nacionais europeias no exterior tem ganhado força como estratégia de expansão comercial e de fortalecimento de marca. A Serie A, da Itália, e a LaLiga, da Espanha, deram passos recentes nesse sentido ao planejarem partidas oficiais em países como Austrália e Estados Unidos.
A iniciativa visa a ampliar a base de fãs global, expandir a marca internacionalmente, gerar novas receitas e tornar os clubes mais sustentáveis financeiramente.
O Milan deve enfrentar o Como, em fevereiro de 2026, em Perth, na Austrália. Já em dezembro de 2025, Villarreal e Barcelona jogarão em Miami, nos EUA.
A proposta é vista pelos clubes como uma forma de reduzir a diferença de receitas em relação à Premier League, que lidera o mercado global de direitos de transmissão.
“Não se trata de ganância. A maioria dos clubes na Itália não é lucrativa. Trata-se de garantir a sobrevivência e construir um futuro em que a Serie A permaneça competitiva, respeitada e admirada globalmente”, afirmou o Como, em um comunicado oficial.
Internacionalização
Até o momento, a LaLiga e a Serie A lideram esse processo de internacionalização. Javier Tebas, presidente da liga espanhola, acredita que o jogo entre Villarreal e Barcelona nos EUA elevará o Campeonato Espanhol a um novo nível.
“A LaLiga representa milhões de torcedores ao redor do mundo, incluindo muitos que seguem seus times apaixonadamente e merecem a chance de vê-los ao vivo pelo menos uma vez”, destacou o dirigente.
No caso da Serie A, o Como argumenta que a realização do jogo contra o Milan na Austrália é uma medida necessária diante do abismo financeiro em relação à Premier League.
Enquanto os direitos internacionais da liga inglesa somam cerca de £ 6,5 bilhões, os da Serie A representam menos de 10% desse valor.
“Devemos nos perguntar, honestamente, como podemos reter nossos melhores jogadores, construir times competitivos e atrair a elite mundial para a Serie A se não nos adaptarmos”, destacou o comunicado do clube.
A tendência pode pressionar outras ligas europeias, como Bundesliga e Ligue 1, a adotarem estratégias semelhantes para manter a competitividade global.
A Premier League, por sua vez, ainda não oficializou partidas fora do Reino Unido, mas acompanha os desdobramentos.
Receitas
Além da exposição internacional, os jogos fora da Europa oferecem a possibilidade de maior arrecadação com bilheteria.
O duelo entre Villarreal e Barcelona será realizado no Hard Rock Stadium, em Miami, com capacidade para 65 mil pessoas.
“É uma oportunidade única para o Villarreal aumentar seu crescimento e fortalecer sua presença em um mercado tão significativo quanto os EUA”, declarou Fernando Roig, presidente do Villarreal.
A cidade-sede do clube, de mesmo nome, possui população de 52.505 habitantes. Portanto, caberia, com sobras, no Hard Rock Stadium. O La Cerámica, casa do Villarreal, possui capacidade total para 23.500 torcedores, o que é pouco mais de 36% da capacidade da arena da Flórida.
O Como também aposta na conexão com novos públicos. O clube convidará 50 torcedores para acompanharem a equipe na viagem de mais de 13 mil quilômetros até Perth, na Austrália, caso o jogo seja confirmado.
“Juntos, mostraremos ao mundo o que o futebol italiano realmente representa: herança, coração e esperança para o futuro”, disse o clube.
Controvérsia
Apesar do apelo comercial, a iniciativa enfrenta resistência. A Uefa aprovou os jogos com ressalvas e afirmou que a decisão não cria precedente.
Aleksander Ceferin, presidente da entidade, declarou que afastar o futebol de suas raízes locais pode “quebrar” o esporte.
A Fifa ainda analisa o tema e busca um parecer jurídico para revisar os regulamentos sobre partidas de ligas nacionais em outros países.
Jogadores também se manifestaram. O volante Rabiot, do Milan, classificou os planos como “completamente loucos” e “realmente absurdos”.
Dirigentes italianos reconhecem que os clubes recebem milhões para participar dessas partidas e que a iniciativa é bastante lucrativa. No entanto, admitem que a logística e o desgaste físico dos atletas são pontos sensíveis nesses eventos.
Referência
Ainda polêmica na Europa, a realização de jogos oficiais fora do país de origem já é prática comum nas grandes ligas dos EUA, onde a estratégia é vista como positiva para expansão de marca, aumento da base de fãs, fortalecimento de receitas e desenvolvimento de patrocínios e parcerias locais.
Visando a essa expansão global, NFL (futebol americano) e NBA (basquete) adotaram a prática há algumas décadas.
A NFL foi a pioneira em realizar partidas internacionais. Em 1976, levou o jogo de pré-temporada entre San Diego Chargers e St. Louis Cardinals para Tóquio, no Japão.
Desde então, já passou por países como México, Alemanha, Canadá e Reino Unido, com jogos inclusive de temporada regular.
Em 2024, chegou pela primeira vez ao Brasil, com Philadelphia Eagles x Green Bay Packers, na Neo Química Arena, em São Paulo (SP). Neste ano, repetiu a experiência no mesmo local, com Los Angeles Chargers x Kansas City Chiefs, garantindo ampla visibilidade tanto na cobertura da mídia como com transmissão na TV e crescimento de audiência no principal mercado sul-americano.
Para completar, no fim do mês passado, a liga decidiu ampliar o foco por aqui e anunciou que terá jogos no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ), nos próximos anos.
LEIA MAIS: NFL confirma acordo para realizar jogos de temporada regular no Maracanã
A NBA, por sua vez, realiza partidas internacionais desde os anos 1980, com o NBA Global Games. O jogo pioneiro foi Phoenix Suns x New Jersey Nets, duelo de pré-temporada, realizado em Milão, na Itália, em 1984.
Foi nos anos 1990 que a iniciativa se intensificou, com o primeiro jogo de temporada regular marcado para Tóquio, no Japão. Phoenix Suns e Utah Jazz se enfrentaram no Ginásio Metropolitano, com vitória do time do Arizona.
Desde então, a liga já levou jogos de temporada regular para Japão, México, Inglaterra, França, Itália e Alemanha. A estratégia é consolidada como ferramenta de marketing global e aproximação com torcedores estrangeiros.
