Justiça da Bélgica bloqueia bens da 777 Partners, por atrasos no pagamento pelo estádio do Standard Liège

Placar do estádio do Standard Liège, pivô da ação que bloqueou bens da 777 Partners - Reprodução / Instagram (@standard_rscl)

A derrocada da 777 Partners segue implacável e irrefreável. Envolvida em um processo de fraude fiscal nos Estados Unidos, avaliado em US$ 350 milhões (quase R$ 1,3 bilhão, pela cotação atual), a empresa com sede em Miami, na Flórida, viu alguns de seus principais investimentos na área esportiva derreterem em um intervalo de poucos dias.

O naufrágio começou na sexta-feira passada, quando estourou a notícia de que Farhad Moshiri estaria disposto a cancelar a venda do Everton, da Inglaterra, à empresa. Até que nesta semana veio o golpe duplo, que ameaça nocautear de vez a 777 Partners.

No Brasil, o Vasco, um dos clubes pertencentes à empresa, obteve nesta quarta-feira (15) uma decisão judicial provisória que devolve ao clube o associativo o controle sobre o futebol cruz-maltino. Ainda cabe recurso dessa sentença, que foi proferida pela 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ).

E agora a 777 Partners, que já enfrentava forte hostilidade por parte dos torcedores do Standard Liège (na sexta passada, eles chegaram a bloquear a saída do centro de treinamento da equipe, impedindo o elenco de enfrentar o KVC Westerlo, pelo Campeonato Belga), também passou a enfrentar apuros com a Justiça Belga.

Segundo veículos de imprensa do país europeu, entre eles a emissora pública Radio Télévision Belge Francophone (RTBF), o tribunal de primeira instância de Liège determinou o bloqueio de todas as ações do clube, assim como dos bens que a 777 Partners possui na Bélgica.

O juiz que analisa o caso acolheu a queixa feita pelo ex-presidente da equipe Bruno Venanzi e pelos sócios da Real Estate Standard de Liège, devido à não quitação de uma parcela de € 3 milhões (em torno de R$ 16,6 milhões), que a empresa deveria ter pago pelo Estádio de Sclessin.

Venanzi e a Real Estate Standard de Liège são, na prática, os donos do estádio. A queixa foi apresentada no início deste mês, quando começaram a surgir as denúncias envolvendo a empresa, ao redor do mundo.

No caso específico do clube, a sentença não afetou suas contas e se restringe às ações, que hoje pertencem 100% à 777, em um negócio avaliado em € 55 milhões (R$ 307 milhões). As contas da equipe seguem desbloqueadas. Dessa forma, salários de jogadores, comissão técnica e funcionários poderão ser pagos normalmente, desde que o Standard Liège tenha saldo suficiente.

Por outro lado, a decisão proíbe qualquer transferência em dinheiro do clube para a 777 Partners.

Impasse pode falir o clube

A polêmica envolvendo o estádio não é a única demanda judicial que a 777 Partners enfrenta na Bélgica. Segundo a RTBF, a empresa ainda não pagou a segunda parcela pela compra do Standard Liège, avaliada entre € 4 milhões e € 5 milhões (algo entre R$ 22 milhões e R$ 27,7 milhões).

Venanzi denunciou o caso ao Centro de Arbitragem e Mediação da União Europeia (Cepani). Em geral, os processos costumam demorar mais de um ano e meio para alcançarem um desfecho nesse órgão.

A imprensa belga avalia que, hoje, a maior preocupação de Venanzi e dos antigos acionistas é receber o dinheiro de volta, enquanto a 777 ainda tem (em tese) condições de ressarci-los.

As dívidas do Standard Liège são avaliadas entre € 30 milhões e € 60 milhões (entre R$ 166 milhões e R$ 333 milhões). Retomar o projeto esportivo da equipe, de modo a que ela possa ser minimamente competitiva na Bélgica, elevaria essa soma para em torno de € 100 milhões (R$ 555 milhões).

“Esperamos que este passo encoraje a 777 e/ou o seu gestor de crise a responder às nossas perguntas e pedidos, até agora ignorados”, declarou Venanzi.

Ele afirmou à imprensa belga que está disponível para ajudar a equipe durante este período de negociação. “Nossa prioridade é garantir a continuidade e estabilidade do clube a curto, médio e longo prazo. Estamos à disposição da direção do clube para ajudá-los na busca de uma solução duradoura para o Standard de Liège”, disse Venanzi.

Sair da versão mobile