Libra divulga modelo de divisão de receitas, mas não abre mão de período de transição

Dirigentes dos clubes da Libra em reunião na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), em São Paulo (SP), em 2023 - Rodrigo Corsi / FPF

Dirigentes dos clubes da Libra durante reunião na sede da Federação Paulista de Futebol (FPF), em São Paulo (SP), em 2023 - Rodrigo Corsi / FPF

A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) divulgou, nesta terça-feira (21), seu modelo de distribuição de receitas obtidas com direitos de transmissão e patrocínios na futura liga que será criada.

Pelo modelo divulgado, haveria um período de transição até atingir o patamar de divisão de ganhos entre os clubes para 45% de maneira igualitária, 30% por performance e 25% por engajamento. Durante o período de transição, essa divisão seria de 40% igualitária aos times, 30% por performance e 30% por engajamento.

No atual modelo, segundo a Libra, a audiência determina 48,1% das receitas distribuídas aos clubes, enquanto a performance fica com 22% e a distribuição igualitária é de apenas 29,7% das receitas.

Mínimo garantido

A proposta é uma maneira de garantir a Flamengo e Corinthians, clubes que atualmente recebem mais da TV, que não sofram uma queda abrupta nas receitas.

A ideia é que os dois clubes tenham direito a essa porção maior de arrecadação por até cinco anos. Esse período pode ser menor, caso as receitas cresçam o suficiente para garantir aos dois clubes um valor equivalente ao que ganham hoje.

A proposição, porém, é uma das principais divergências entre os clubes alinhados com a Libra e os times que integram a Liga Forte Futebol (LFF), contrários a dar um mínimo garantido a Flamengo e Corinthians.

Para se ter uma ideia da desigualdade atual, o time rubro-negro deve receber R$ 160 milhões pelo contrato de pay-per-view (PPV) de 2022. Já o Corinthians deve ficar com R$ 110 milhões. Juntos, os dois ganham R$ 270 milhões. Os demais 18 clubes, somados, recebem R$ 254,2 milhões.

Conceitos

No documento, a Libra estabeleceu os seis principais conceitos para a criação da liga brasileira em 2025, quando o atual contrato de direitos de transmissão com o Grupo Globo será encerrado:

  1. Construção de um modelo de competição e organização entre os clubes sob um ponto de vista técnico e mercadológico;
  2. Diminuição do gap financeiro entre os clubes no cenário nacional, bem como das equipes brasileiras em relação aos adversários internacionais;
  3. Regra de transição elaborada para que os clubes não percam receita em relação ao modelo atual;
  4. Subsídio para a Série B acima do praticado nas principais ligas internacionais, como forma de aumentar a competitividade no âmbito interno;
  5. Mensuração da audiência com o objetivo de estimular os clubes a buscar cada vez mais engajamento de seus torcedores;
  6. Aporte financeiro inicial como forma de financiar a entrada dos clubes em uma nova era do futebol brasileiro.

Esse pagamento pela adesão à Libra deve ser garantido pelo contrato que está prestes a ser assinado com a Mubadala Capital, que fez uma proposta de US$ 900 milhões (R$ 4,7 bilhões, na cotação atual) para adquirir 20% dos direitos comerciais da futura liga por 50 anos. Os clubes estão em fase final de ajustes das cláusulas contratuais com a investidora e devem assinar o acordo nos próximos meses.

Mudança de modelo

A Libra defende que o modelo de distribuição de receitas passará de 40-30-30 para 45-30-25 a partir do momento que a liga arrecadar R$ 4 bilhões ao ano em direitos de mídia e publicidade.

Acredita-se que isso possa acontecer em um período curto, diante do interesse que gerará a criação da liga brasileira. Hoje, o Brasileirão arrecada cerca de R$ 2,1 bilhões com direitos de transmissão.

Essa repartição do bolo é exemplificada no documento da Libra, que mostra que, atualmente, o campeão do Brasileirão recebe 10% da arrecadação por performance, enquanto que os quatro clubes rebaixados não têm direito a nenhum tostão.

Pelo modelo da Libra, o campeão ficará com 9,5% do total distribuído para performance. Já os times que caírem para a Série B receberão 1,25% desse total.

O modelo, porém, fará uma média da performance do clube nos últimos três anos. A Libra defende essa ideia argumentando que servirá para promover maior sustentabilidade financeira dos clubes e previsão orçamentária. Com o pagamento de valores ao longo do ano, esse modelo também melhoraria o capital de giro dos times.

Outra alegação é que também serviria como uma espécie de “dispositivo paraquedas”, pois suavizaria o impacto da queda de receita para clubes rebaixados.

Por outro lado, para quem subir da Série B, o repasse será menor, já que não contará com a média de performance dos dois anos anteriores na elite. Para a Libra, o salto financeiro de quem subir da segunda divisão para a Série A do Brasileirão já compensaria essa diferença.

Série B

Outra proposta da Libra que ainda causa divergência com a LFF é na distribuição dos recursos para a Série B do campeonato. A Libra propõe 15% da receita, argumentando que o modelo atual é de apenas 9,5%.

No documento, a liga também mostra que a LaLiga, que organiza o Campeonato Espanhol, dá apenas 10% à segunda divisão. Já a Premier League, vista como a liga nacional de futebol mais igualitária e bem-sucedida do planeta, repassa 12% à Championship, a segunda divisão inglesa.

A LFF, no entanto, propõe um modelo de 20% para as Séries B e C. Desse montante, 18% ficaria com a segunda divisão e 2% com a terceira. Os integrantes da Libra argumentam que não faz sentido repassar valores à Série C, já que a liga brasileira organizará apenas os campeonatos da primeira e segunda divisões.

Normalmente, as divisões inferiores são geridas pela confederação nacional, no caso do Brasil, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Esses campeonatos são vistos como formas de fomentar o futebol nacional e uma maneira de descobrir novos talentos, já que possibilitam que mais jogadores possam atuar ao longo da temporada.

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