Libra e Forte Futebol: O que separa os dois grupos de uma liga única

Grêmio, que integra a Libra, e Internacional, da LFF, atuando pelo Gauchão - Lucas Uebel/Grêmio

A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e a Liga Forte Futebol (LFF) têm o mesmo objetivo: a constituição de uma liga para a organização do Campeonato Brasileiro das Séries A e B a partir de 2025, quando terminará o atual contrato de direitos de transmissão com o Grupo Globo.

Mas, para chegar a esse objetivo, Libra e LFF ainda possuem várias divergências que afastam os dois grupos. Apesar de terem já feito algumas reuniões, as propostas para implantação da liga se chocam principalmente quanto ao modelo de distribuição de receita.

Nos últimos meses, também houve um afastamento maior a partir do momento em que cada grupo arrumou investidores diferentes. E cada um desses investidores fez uma proposta semelhante de adquirir 20% da liga brasileira por um período de 50 anos.

Divisão de receita

A Libra defende que haja um período de transição na distribuição das receitas geradas por direitos de transmissão e patrocínios na nova liga. Esse período pode durar até cinco anos ou até que a liga arrecade ao menos R$ 4 bilhões, o que vier antes.

Durante a fase de transição, a divisão do bolo seria feita 40% de maneira igualitária, 30% por performance no campeonato e 30% pela audiência de cada clube. Superado esse período, o novo modelo teria aumento para 45% de maneira igualitária e queda para 25% por audiência. O desempenho continuaria representando 30% do bolo.

Diferentemente da Libra, o Forte Futebol defende que esse modelo 45-30-25 seja adotado já no primeiro ano de constituição da liga. O grupo defende que a diferença entre o time com maior remuneração e o que tiver os ganhos mais baixos não seja superior a 3,5 vezes.

O Forte Futebol argumenta que a diferença entre a equipe mais bem paga e a com menor valor na Premier League, vista como a liga nacional de futebol mais bem-sucedida do planeta, é de apenas 1,5 vez.

De fato, o modelo de divisão de dinheiro da Premier League é ainda mais igualitário do que propõem Libra e Forte Futebol. Na Inglaterra, 50% do faturamento é dividido de maneira igualitária, 25% por performance na temporada e 25% pelo número de jogos transmitidos.

Esse modelo de divisão serve apenas para os direitos de transmissão domésticos. Resultado de ser um produto já consolidado internacionalmente, a Premier League distribui de maneira igualitária o bolo arrecadado com a venda dos direitos de TV para o exterior.

Como no Brasil, o montante arrecadado com a venda de direitos de mídia para outros países ainda é ínfimo, mas essa é uma discussão que ainda não acontece no Brasil.

Performance

A Libra propõe que a parcela de 30% que será dividida entre os 20 clubes da Série A por performance seja calculada a partir de uma média de desempenho dos últimos três anos. Ou seja, em 2025, no primeiro ano da liga, esse montante viria da média de performance no Brasileirão em 2023, 2024 e 2025.

Pela proposta da Libra, a performance na atual temporada valeria 34% desse bolo. Já o ano anterior responderia por 33% desse valor. Outros 33% seriam relativos ao desempenho de dois anos antes.

Clubes que costumam frequentar a Série B reclamam que seriam prejudicados porque, mesmo que obtenham um bom desempenho na volta à elite, teriam menos ganhos do que quem jogou a Série A nos dois anos anteriores.

A Libra argumenta que o time que subir de divisão já terá um aumento de arrecadação substancial em relação à Série B. Além disso, esse modelo garantiria maior sustentabilidade financeira e previsão orçamentária aos clubes. Com o pagamento de valores ao longo do ano, os times também teriam capital de giro garantido para manter suas atividades ao longo da temporada.

A LFF, por sua vez, propõe que a divisão por performance englobe apenas o desempenho no campeonato daquele ano, sem contar as participações nas temporadas passadas.

Mínimo garantido

A Libra propõe que Flamengo e Corinthians, que hoje detêm os maiores contratos de direitos de TV, tenham um mínimo garantido de ganhos na futura liga em relação aos demais clubes. Esse privilégio duraria cinco anos ou até que a liga conseguisse arrecadar R$ 4 bilhões por temporada. Segundo os dirigentes da Libra, esse valor da liga seria atingido provavelmente em menos tempo.

Para se ter ideia da desigualdade de remuneração do contrato atual, o Flamengo deve ganhar, no pay-per-view, R$ 160 milhões pela temporada passada. Já o Corinthians espera receber R$ 110 milhões. Portanto, juntos, os dois clubes de maior torcida do país devem ganhar R$ 270 milhões, enquanto os demais 18 clubes que disputaram o Brasileirão 2022, somados, devem ficar com R$ 254,2 milhões.

Já o Forte Futebol é contra manter esse privilégio a Flamengo e Corinthians, mesmo que de maneira temporária. A proposta é que a distribuição mais igualitária de receitas seja válida desde o primeiro ano da nova liga, previsto para acontecer em 2025.

Série B

A distribuição de verba para os times das divisões inferiores é outro ponto que afasta Libra e LFF. A Libra defende que 15% dos ganhos da liga sejam destinados aos clubes da Série B do Brasileirão. O grupo argumenta que, hoje, esses times recebem apenas 9,5% do faturamento gerado pelo Brasileirão. Ou seja, teriam um ganho substancial nas suas receitas.

O Forte Futebol, por sua vez, defende uma proposta mais ousada: que 20% das receitas sejam destinados às Séries B e C. A segunda divisão ficaria com 18% da arrecadação. Já as 20 equipes que disputarem a Série C teriam direito a 2% do bolo.

Dirigentes da Libra argumentam que a medida tem caráter “populista”, já que a Série C continuará sendo organizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e não terá nenhum ativo nas mãos da liga.

Por outro lado, esse grupo também pondera que, comparando com outras ligas nacionais bem-sucedidas do mundo, o modelo proposto já é mais igualitário.

Segundo a Libra, a LaLiga, da Espanha, destina apenas 10% da arrecadação para os 22 times da segunda divisão. Já a Premier League distribui 12% de sua receita entre os 24 clubes que disputam a Championship, a segunda divisão da Inglaterra.

Investidores

Outro motivo que afastou ainda mais os dois grupos foi a busca por investidores. A Libra tem proposta da Mubadala Capital, que ofereceu US$ 900 milhões para adquirir 20% dos direitos comerciais pelo período de 50 anos. Para isso, porém, precisa ter 80% dos clubes da Série A no acordo.

Já a LFF assinou contrato com a gestora brasileira Life Capital Partners e a norte-americana Serengeti Asset Management para a venda de 20% da liga, pelo mesmo período, em um contrato que pode chegar a US$ 950 milhões.

O acordo com a Life Capital e a Serengeti dá abertura para que haja uma composição com a Mubadala, caso os 40 clubes das Séries A e B se unam. Assim, poderia haver dois contratos, com negociação sobre as porcentagens que cada fundo teria direito.

Já a proposta da investidora dos Emirados Árabes Unidos não abre essa possibilidade. A Mubadala não admite outra investidora como sócia do projeto. Isso pode criar um impeditivo para a união dos clubes, mesmo que haja entendimento entre Libra e Forte Futebol.

O contrato dos times da Libra com a Mubadala está em fase final de ajustes. A expectativa é que a assinatura ocorra nos próximos meses.

Times

Hoje, a Libra possui a adesão de 18 clubes, sendo onze da Série A e sete da Série B. Segundo esse grupo, esses clubes são responsáveis por 70% da audiência do Brasileirão. Integram a Libra: Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória.

Já a LFF possui 26 agremiações em seus quadros, sendo nove da Série A, doze da Série B e cinco da Série C. Estão neste grupo: ABC, Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Brusque, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Náutico, Operário-PR, Sport, Vila Nova e Tombense.

O Botafogo-SP, que disputará a segunda divisão do Brasileirão em 2023, é o único clube das Séries A e B que ainda não aderiu a nenhum dos dois grupos.

Sair da versão mobile