A formação de uma liga brasileira de clubes em 2025 está cada vez mais distante. A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) convive com a saída de três clubes do grupo: Botafogo, Cruzeiro e Vasco. Já a Liga Forte Futebol (LFF), que tinha expectativa de conseguir um pagamento nesta semana de R$ 331 milhões da investidora Serengeti Asset Management aos times que a integram, terá que lidar com o fato de que isso não ocorrerá.
Há um enfraquecimento da Libra, agora sem três clubes grandes, que decidiram realizar suas negociações como um bloco independente. O Botafogo havia anunciado a saída do grupo por meio de John Textor, dono de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do time, em entrevista ao GE. Vasco e Cruzeiro seguiram o mesmo caminho, ainda sem se pronunciarem publicamente. Esse grupo, porém, não planeja migrar para a LFF, nem tem estabelecido conversas com os integrantes do bloco.
Já a Libra, sem o trio, passa a ser integrada por 15 times e perdeu maioria na Série A, na qual hoje tem 8 times, contra 9 da LFF. Apesar das defecções, a Libra ainda conta com a força da maior parte das equipes com maior torcida do país, como Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras. O grupo também espera atrair alguns clubes que estariam insatisfeitos na LFF para assinar com a Mubadala.
Pagamento adiado
A LFF, no entanto, também mostra fragilidade. A liga sinalizou que haveria a antecipação de um pagamento da Serengeti aos 24 times que já assinaram contrato com a empresa norte-americana. As exceções seriam Internacional, cujas discussões estão paradas no Conselho Deliberativo, e ABC, que enfrenta problemas jurídicos para assinar o acordo.
Por enquanto, os 26 clubes que integram o Forte Futebol ganharam apenas um adiantamento de R$ 350 mil pago pela XP Investimentos pela assinatura de um documento se comprometendo a não deixar a LFF e assinar contrato com a Serengeti. A XP é a intermediária no acordo entre a investidora norte-americana e a LFF.
Houve uma nova proposta da XP, de uma oferta de crédito de 40% do que cada time da Série A receberá da investidora, e 20% para os times da Série B. Esse montante seria pago antecipadamente para quem tivesse mais necessitado de fluxo de caixa. O reembolso para a XP ocorreria a juros baixos, com o contrato assinado como garantia de pagamento.
Entretanto, alguns times com menos problemas financeiros preferiram recusar essa antecipação e receber seus pagamentos direto da Serengeti mais para frente, em um prazo de 60 dias após a assinatura do contrato final. Pelo acordo, cada clube está vendendo 20% de seus direitos de mídia por um prazo de 50 anos. Caso haja unificação entre os 40 clubes das Séries A e B, o montante será maior.
Entre os clubes consultados, a expectativa é de que esses pagamentos só saiam no final de agosto ou em setembro. Portanto, os times ficariam sem esse dinheiro para investir durante o próximo mercado de transferências, que ocorrerá de 3 de julho a 2 de agosto.
A LFF, por sua vez, afirma que o pagamento dos clubes será feito apenas cinco dias após a assinatura do contrato final. Segundo ela, ao contrário do que a Máquina do Esporte apurou, nenhum clube rejeitou receber o adiantamento.
Procurada, a Serengeti disse que obedece a um fluxo de pagamentos com os clubes. Em seu pronunciamento, a investidora dá a entender até que algumas equipes já teriam começado a receber seus aportes.
“A Serengeti Asset Management esclarece que os pagamentos de ‘sinal de boa-fé’ têm sido feitos constantemente, conforme os clubes se qualificam para eles, o que é uma prática padrão. Devido à confidencialidade do contrato, não podemos discutir clubes específicos”, afirmou a investidora à Máquina do Esporte.
Sem acordo
Do lado da Libra, a avaliação é de que o grupo já fez alguns movimentos de ceder em favor da aproximação com os clubes do Forte Futebol para a formação da liga unificada.
Em fevereiro, a Assembleia Geral da Libra aprovou uma divisão de receitas mais igualitária. À ocasião, ficou estabelecido que 45% das receitas com patrocínios e direitos de transmissão serão divididos de maneira igualitária entre os 20 clubes que disputarão a elite do Brasileirão. Já 30% do bolo será repartido por performance, enquanto os 25% restantes serão distribuídos por meio do engajamento obtido pelos clubes.
Nesse último item, será considerada apenas a audiência, sem contar outros critérios como tamanho de torcida ou número de seguidores nas redes sociais, como constava inicialmente no estatuto da Libra e era uma das razões de distanciamento com a LFF.
Com isso, a diferença entre o clube que mais receberia no campeonato para aquele com menor rendimento não superaria 3,4 vezes. Nas contas atuais, essa diferença seria até menor, de 3,3 vezes.
Em maio, em uma nova decisão da Assembleia Geral vista como um afago aos times do Forte Futebol, a Libra aprovou uma cláusula de estabilidade, que garantiria a todos os clubes o pagamento mínimo dos valores que recebem no atual contrato de TV.
Com isso, Flamengo e Corinthians não gozariam mais dessa regra de serem os únicos clubes a terem um mínimo garantido de receitas, independentemente do que conseguisse arrecadar a nova liga. Vale destacar que a expectativa é de que a formação da liga supere bastante os valores atuais, que giram em torno de R$ 2 bilhões.
Na visão dos dirigentes da Libra, nada foi cedido pelos cartolas do Forte Futebol. Em março, a LFF divulgou uma resposta à proposta do grupo rival de uma divisão mais igualitária de receitas.
O grupo estabeleceu duas cláusulas pétreas, ou seja, pontos em que não cederia: que a maior remuneração dada a um clube não fosse superior a 3,5 vezes o montante destinado ao time com menor rendimento e que 20% da arrecadação fosse destinado às Séries B e C do Brasileirão.
A primeira proposta já é contemplada pela divisão estabelecida pela Libra. A segunda não é aceita porque, na visão da Libra, não faz sentido pagar 2% para os times da Série C, que continuará sendo organizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e não terá nenhum vínculo com a liga brasileira. Já para a segunda divisão, a Libra estabeleceu um teto de 15%, maior do que os 10% do atual contrato de TV, mas inferior ao que pede a LFF.