Questão de moda, estilo, conexão com os jovens ou simplesmente aproveitar o clima frio do momento? Várias são as razões apontadas para o retorno das camisas de manga longa aos uniformes dos clubes brasileiros.
Só na semana passada, New Balance e Puma aproveitaram a queda das temperaturas para lançar as versões de manga comprida dos uniformes de São Paulo e Palmeiras, respectivamente.
“Desde que se tornou patrocinadora e fornecedora de material esportivo do São Paulo, em janeiro de 2024, a New Balance já lançou dois packs de camisas de manga longa para o clube”, contou Leandro Moraes, diretor de marca da New Balance, em entrevista à Máquina do Esporte.
Pesquisa de mercado
O primeiro lançamento ocorreu em abril de 2024, enquanto o segundo aconteceu agora, sempre aproveitando o desenho dos uniformes já lançados, na versão para jogos em casa ou como visitante. A iniciativa veio após ouvir os consumidores.
“A tomada de decisão para o lançamento deste item aconteceu, entre outras razões, após pesquisas realizadas pela marca com torcedores, que demonstraram o desejo de que a camisa de manga longa estivesse disponível novamente”, disse o executivo da New Balance.
A Puma também realizou pesquisa de mercado antes de decidir resgatar as camisas de manga longa do guarda-roupa da marca.
“O lançamento da versão de manga longa das camisas ‘home’ [titular] e ‘away’ [reserva] da temporada 2025/2026 dá continuidade à estratégia da Puma de ouvir as necessidades e desejos da torcida palmeirense, criando sempre produtos em conjunto com o clube, que se conectam com o que o torcedor alviverde busca”, declarou Luciana Soares, diretora de marketing da Puma Brasil.
A última vez que a marca alemã havia adotado esse estilo de camisa havia sido na temporada 2023/2024.
“Percebemos que há uma base significativa da torcida que valoriza o modelo, especialmente em períodos mais frios”, reconheceu a executiva, lembrando que a chegada de uma frente fria que fez as temperaturas desabarem na capital paulista ajudou nas vendas.
“É uma extensão natural do que já está na rua, com potencial tanto funcional quanto estético, uma vez que as peças unem performance, identidade e estilo.”
Luciana Soares, diretora de marketing da Puma Brasil

Moda
A Umbro é outra marca que costuma colocar as versões de manga longa em seus enxovais para os clubes, principalmente os da Região Sul, com clima mais frio. É o caso de Grêmio e Athletico-PR, que neste ano disputa a Série B do Campeonato Brasileiro.
A demanda é significativamente menor em times de regiões mais quentes, como Fluminense e Santos. Mas a ideia de colocar no mercado camisas mais acolhedoras vai muito além de questões climáticas.
“Nos últimos anos, a roupa esportiva ‘invadiu’ a moda casual, e usar camisa de futebol virou moda. Tanto que grandes grifes fashion estão até adaptando chuteiras como tênis para o dia a dia em seus desfiles de moda”, destacou Eduardo Dal Pogetto, diretor da Umbro, à Máquina do Esporte.
A Adidas segue a tendência da Umbro. A marca das três listras lançou, neste ano, modelos de manga comprida para Flamengo e Internacional. Atlético-MG e Cruzeiro, outros clubes atendidos pela marca, porém, não ganharam essas versões.
“As camisas de clube modelo manga longa são muito apreciadas pelo público do futebol que também se conecta com o estilo de vida urbano”, afirmou a marca.
“Na atual temporada, Flamengo e Internacional contam com modelos de manga longa, demanda que será ampliada para todos os clubes parceiros da Adidas no Brasil em 2026”, garantiu a marca, que perderá o Atlético-MG para a rival Nike no ano que vem, mas luta para “roubar” o Corinthians da rival norte-americana.
“Uma das maiores tendências do momento é o uso das camisas de futebol no dia a dia, até como um item de destaque em compromissos informais. Dentro desta tendência, as camisas de manga longa acabam ganhando o seu espaço por conta do estilo e personalidade que carregam.”
Leandro Moraes, diretor de marca da New Balance

Versatilidade
Eduardo Dal Pogetto, da Umbro, lembrou que, hoje, é comum, entre fãs de futebol de todas as idades, usar camisas de clubes em diversas situações no dia a dia: no colégio, no trabalho, no lazer e até na balada.
“A camisa de futebol é uma tendência mundial, uma febre na Europa e que no Brasil também já deixou de ser coisa só de criança e jovem, como era visto há uma década”, analisou.
O diretor da Umbro destacou que, no ano passado, a marca lançou uma coleção em parceria com o Podpah. Uma das peças era uma camisa retrô de manga longa, no estilo dos anos 1990.
“Esse modelo foi sucesso de venda, mostrando a aceitação dentro do streetwear também”, contou.
“Hoje, as pessoas usam camisas de futebol para aniversários, festas e outros tipos de eventos. Usar uma camisa de futebol nunca esteve tão em moda, e usar uma camisa de manga longa é algo diferente.”
Eduardo Dal Pogetto, diretor da Umbro
Geração Z
Outro fator a ser ponderado quando as marcas esportivas decidem pelo lançamento desse tipo de uniforme é uma aproximação com os jovens torcedores, adeptos de peças mais diversificadas para serem usadas em diferentes situações.
“A silhueta de manga alongada pode trazer um toque mais urbano e conectar o uniforme ao universo da moda, especialmente para consumidores mais conectados com o visual e o estilo”, ressaltou Luciana Soares, da Puma.
“Temos visto também uma crescente adesão do uso de camisas de manga longa entre criadores de conteúdo e torcedores da Geração Z, influenciada por referências de ídolos que usam o modelo, atletas que adotam esse estilo em campo e acabam moldando o desejo dos torcedores, principalmente entre os mais jovens”, completou a executiva da marca alemã.
No fim da contas, não importam os fatores que levam o torcedor a buscar esse modelo: a demanda é suficiente para que as marcas esportivas se atentem a esse tipo de produto.
“Seja pelo frio, para ficar mais estiloso ou seguir seu ídolo, o que acreditamos é que há um grande desejo do palmeirense em demonstrar o amor ao clube para além dos estádios, e nós queremos estar presentes em todos os momentos da sua jornada”, afirmou Luciana.

Vendas
Mas quanto a versão de manga longa representa hoje em relação ao uniforme tradicional? As marcas fazem mistério quanto a isso.
“Por razões estratégicas, a New Balance não divulga publicamente informações detalhadas sobre vendas de camisa. O que a marca pode comentar é que a comercialização das camisas de manga longa do São Paulo no ano passado foi um sucesso e superou as expectativas”, disse Leandro Moraes.
Para 2025, como o lançamento é muito recente, a marca não é capaz de fazer uma análise sobre as vendas.
Já a Puma vê essa venda mais conectada a questões sazonais, com um aumento significativo durante o período de outono e inverno. Nas demais estações do ano, a comercialização dessas peças tem índice mais discreto.
“O modelo ‘long sleeve’ [manga comprida] tem um público muito engajado, geralmente bastante conectado ao estilo, ao colecionismo e à versatilidade da peça”, destacou Luciana Soares.
Em outros times nos quais a marca alemã é fornecedora de material esportivo, esses índices de vendas são mais relevantes.
“Na Europa, especialmente em clubes como Manchester City e Borussia Dortmund, a manga longa tem presença recorrente nos enxovais e é mais comum no uso casual e no streetwear”, apontou a executiva da Puma.
Exceções
As marcas dissonantes dessa tendência, entre as que vestem times da Série A do Campeonato Brasileiro, foram Nike e Volt Sport.
A marca do Swoosh não tem previsão de lançar nada semelhante para a torcida do Corinthians, embora a Neo Química Arena seja um dos estádios mais gelados do país durante o inverno.
A Nike também não pretende fazer nada semelhante com a camisa da seleção brasileira, da qual é fornecedora desde 1996 e renovou até 2038.
Já a Volt, que veste Fortaleza e Vitória, não investe nesse segmento por questões óbvias: as capitais cearense e baiana não costumam ter invernos muito rigorosos, o que faz com que a peça tenha baixo interesse entre os torcedores.